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HIV: por que algumas pessoas controlam o vírus sem medicamentos?

Genilson Coutinho,
25/05/2023 | 23h05

nquanto a grande maioria das pessoas que vivem com HIV dependem do tratamento antirretroviral para manter o vírus sob controle, existem raros indivíduos que alcançam esse feito sem a necessidade de medicamentos.

Desde que os registros dos chamados “controladores espontâneos” ou “controladores de elite” começaram, eles têm sido cada vez mais estudados por pesquisadores que buscam desvendar o que os leva a ter essa capacidade diferenciada de responder à infecção.

Agora, em um novo estudo publicado na revista científica Science Immunology, cientistas mostram que a resposta pode estar ligada a um gene específico que influencia a produção e a funcionalidade de células de defesa do organismo.

A descoberta foi liderada por pesquisadores do Instituto Ragon, um centro de pesquisa do sistema imunológico nos Estados Unidos associado ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e à Universidade de Harvard.

No trabalho, os responsáveis analisaram amostras de sete indivíduos não infectados, 19 pessoas que viviam com o HIV e se enquadravam na categoria de “controlador espontâneo” e 17 que também viviam com o vírus, mas que dependiam do tratamento para mantê-lo sob controle.

Os cientistas observaram diferenças significativas em uma célula de defesa chamada T CD8 +, que se acumula nos gânglios linfáticos de pessoas com HIV e é capaz de induzir a morte de células infectadas.

Ao portal HealthDay, Bruce Walker, diretor do Instituto Ragon e um dos pesquisadores envolvidos no estudo, explicou que, nos “controladores de elite”, as T CD8 + “são abundantes e altamente funcionais” e “estão mantendo o HIV à distância, impedindo que cause danos”. Já entre aqueles que dependiam dos medicamentos, “elas são menos numerosas e menos funcionais”.

Além disso, foi observado que, no grupo que mantinha o HIV sob controle sem remédios, havia uma expressão aumentada de um gene chamado CXCR5, que pode estar envolvido nessa melhor resposta das células de defesa.

A ideia é que o achado leve ao desenvolvimento de estratégias terapêuticas capazes de “induzir o tipo de imunidade que vemos nos controladores espontâneos em pessoas com doença progressiva”, afirma Walker, o que poderia dispensar o uso diário dos antirretrovirais, ou diminuir a sua necessidade.

Ele diz ainda que estimativas apontam que uma em cada 300 pessoas são capazes de controlar o HIV sem remédios. No entanto, é importante frisar que elas não conseguem chegar à cura da doença espontaneamente. Esses indivíduos apenas permanecem grandes períodos de tempo, a partir dos casos que foram documentados, sem necessitar dos comprimidos para manter o vírus suprimido.

Ainda assim, como o HIV permanece no organismo em estado de dormência em determinados locais chamados de reservatórios virais, onde não são encontrados nem pelo sistema imune, nem pelo tratamento, eventualmente essas partículas “acordam” e continuam a se replicar.

Achados anteriores

Um grupo também do Instituto Ragon já havia indicado outros mecanismos envolvidos nesse “superpoder” de controlar o HIV espontaneamente. Em 2020, pesquisadores publicaram na revista científica Nature um trabalho em que descobriram que, nessas pessoas, o HIV permanecia em dormência em lugares do corpo chamados de “desertos de genes”.

Enquanto na maioria dos casos esses reservatórios são formados em locais com genes ativos, nos “controladores espontâneos” o HIV entrava em latência em locais onde eles estão inativados. Com isso, torna mais difícil que o vírus acorde, e o indivíduo passa a não depender dos medicamentos devido à menor carga viral em circulação.

“Esse posicionamento de genomas virais em “controladores de elite” é altamente atípico, pois na grande maioria das pessoas que vivem com HIV ele está localizado nos genes humanos ativos, onde os vírus podem ser facilmente produzidos”, afirmou Xu Yu, líder da pesquisa, em comunicado na época.

Fonte: O Globo