HIV em pauta

Sala VIP

Entrevista: conheça Daniel Fernandes, o youtuber soropositivo

Genilson Coutinho,
08/02/2017 | 23h02

Wdanprosa

Natural de Imperatriz, no Maranhão, o jovem Daniel Fernandes, 32 anos, é fotógrafo, solteiro, viciado em café e pai de gatos. Em 2011, descobriu que estava soropositivo para HIV e sentiu necessidade de falar sobre o assunto. Aproveitou o aprendizado das aulas de atuação para cinema e tornou-se também youtuber. Seu canal é o “Prosa Positiva”. Nessa entrevista ao Dois Terços ele fala um pouco sobre como é lidar com preconceitos, namoro, e sua experiência de ser soropositivo no Brasil.

Dois Terços – Como nasceu o Prosa Positiva?

Daniel Fernandes– Desde que descobri em 2011 minha sorologia para o HIV, sentia necessidade de falar sobre, principalmente por lidar bem com a notícia desde sempre. Na época eu morava no Recife. Em 2016, quando voltei a morar em Goiânia, eu passei a sentir dificuldade em me relacionar, pois pra qualquer pessoa que eu contava sempre vinha com o mesmo texto: “nada contra, mas não sei lidar com essa situação!”. Foi então que decidi colocar em prática minhas aulas de atuação para cinema e encarar a câmera e falar sobre viver e conviver com o HIV.

DT – Algo mudou após o primeiro programa?

DF -Não vou dizer que fiquei famoso, mas ser reconhecido pelo trabalho que você faz é super gratificante! Recentemente a Unaids me convidou para uma prosa, e saber que tenho apoio deles é um motivo extra para continuar e saber que estou fazendo o certo. Mas sinto que passei a ser mais sensível e aprender a ser mais humano. Conhecer histórias de todos os tipos de pessoas faz com que você desapegue de vários preconceitos sociais, que as vezes nem você mesmo sabia que tinha.

Só não arrumei namorado ainda… mas paciência!

DT –  Você deve receber muitos e-mails de jovens que descobrem a sorologia positiva. Como você tem ajudado?

DF – As pessoas geralmente me procuram pelas redes sociais, instagram, facebook ou até mesmo via whatsapp. Conheci histórias de pessoas de todo o país, e de alguns lugares do mundo. Não sei se eu que ajudo ou eles que me ajudam! Sempre fui próximo, mesmo que virtualmente. Muitos precisam só de alguém para conversar, desabafar, ouvir algum conselho. E sempre me coloquei a disposição. Muitos deixam recado apenas para agradecer pelo canal, elogiando a iniciativa e pedindo para que eu jamais desista dele.

DT – O número de casais sorodiscordantes tem crescido muito no Brasil. Como você avalia o estágio do preconceito por aqui?

DF – Infelizmente ainda há muito preconceito, mesmo com toda informação que temos. Mas quando se conhece alguém que está interessado em você, mesmo sendo leigo no assunto, ele vai atrás de informação e ainda pede para que você ajude no que for preciso! E hoje com o avanço do tratamento, sabemos que as chances de transmissão do vírus, quando o soropositivo está indetectável é quase zero.

DT – Um jovem que namora há mais de 3 anos faz o exame e dá reagente. Ele deve contar para o namorado ou continua em segredo?

DF – Já passei por essa situação (risos). Quando descobri minha sorologia eu tinha terminado um relacionamento de 3 anos recentemente e estava há mais de um mês conhecendo um rapaz. Praticamente já descobri durante um relacionamento sorodiferente e nem sabia! Contei para ambos no automático. Acredito que um relacionamento tem como base a confiança e o respeito, e estando há tanto tempo com uma pessoa, é válido tomar atitude de contar, até mesmo por questão de cuidar do próximo. Mas contar ou não contar é relativo e deve ser respeitado o tempo da pessoa. Eu sempre conto já de cara, na primeira conversa. Pois se for um obstáculo, a pessoa já cai fora antes de criar qualquer vínculo. Mas não é fácil. Eu sempre falei que o vírus passou a ser meu melhor amigo, pois por causa dele, só os melhores estão do meu lado!

 DT – E o preconceito com os Soropositivos ainda é muito grande?

DF – É sim! Eu passei anos para saber o que é sofrer preconceito por esse motivo e não é nada bom. A sociedade infelizmente massacra as minorias, e tudo é uma questão de informação, de se atualizarem e principalmente por falta de amor ao próximo. Com isso, o próprio positivo acaba criando uma bolha de proteção. E pior, entram em uma depressão difícil de sair. Tem medo de se relacionar, de falar para amigos, familiares, perder emprego. São coisas que infelizmente acontecem sempre.

DT –  Como foi a reação da sua família?

DF -A primeira pessoa para quem contei da família foi minha ex-cunhada, hoje uma grande amiga, e em seguida meu irmão, pra quem ela preparou o terreno. Desde então ele tem sido um amigão, da forma dele. Na nossa primeira conversa ele me falou algo que passou a ser meu lema, “devemos conhecer e estar ao lado do nosso inimigo, para saber lidar com ele e levar a vida numa boa!”. E é justamente o que venho fazendo! Minha mãe demorei para contar, pois eu morando no Recife e ela em Goiânia, queria contar pessoalmente. Mas sempre que vinha nas férias, sempre tinham obstáculos e isso só ia pesando na minha consciência, pois sempre fomos muito próximos. Contei durante um exame de glicose. Ela meteu o dedo no meu sangue e eu fiquei em choque! Foi quando ela estranhou meu comportamento e cuidado desesperado e acabei contando. Foi um peso que tirei das minhas costas. Foi mais tranquilo do que o esperado.

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