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Não foi caridade, foi amor’, diz casal homoafetivo que adotou 3 crianças

Genilson Coutinho,
27/05/2014 | 10h05

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Robson Tossi Camelin e Luciano Pereira Tossi Camelin estão juntos há 16 anos e têm três filhos, um bebê de 7 meses e dois meninos, de 9 e 4 anos. O casal foi um dos primeiros a entrar na fila de adoção por casais homoafetivos na região de Bauru (SP), mas o processo não foi fácil e demorou mais do que eles esperavam. O primeiro caso foi há quase 4 anos, quando eles adotaram dois irmãos, e o segundo há 4 meses.
No Brasil, o processo de adoção dura cerca de um ano, mas para Luciano e Robson, durou quase cinco. E a longa espera quase fez com que os dois desistissem de serem pais. “Foi feito vários estudos, o psicólogo fazia entrevistas frequentes, até não aguentarmos mais a demora”, conta Luciano. Dos familiares, o casal tem total apoio na adoção e conta que quando outras pessoas ficam sabendo trataM a ação como algo bonito, um gesto de solidariedade, mas Luciano explica que eles não adotaram somento por bondade. “Queríamos ser pais, foi por amor, não por caridade, foi porque queríamos uma família”, afirma.
Os dois oficializaram a união há quase um ano e são constantemente procurados por outros casais que querem tirar dúvidas de como é o processo de adoção. “Casais homoafetivos ou heterossexuais nos procuram, eles tem dúvidas e acham que demora muito.”
Apesar da queixa sobre a demora no processo, a psicológa judiciária Lúcia Maria de Almeida, responsável pelo cadastro de adoção na Vara da Infância e Juventude de Bauru, explica que os casais homoafetivos passam pelo mesmo procedimento que qualquer casal. “Não há nenhum um tipo de discriminação. São os mesmos documentos exigidos, os mesmo procedimentos como a avaliação social, psicológica, a participação no curso de adoção. O mesmo questionário é aplicado a todas as pessoas que procuram o cadastro de adoção”, explica.
A psicóloga ressalta ainda que muitas vezes os casais homoafetivos conseguem finalizar o processo de adoção até mais rápido. “Isso acontece porque via de regra, os casais homoafetivos aceitam um perfil mais amplo como irmãos, crianças mais velhas, não tem preferência por menino ou menina e isso amplia as possibilidades de crianças que se encaixam no perfil solicitado.”
Contra o preconceito
Os tabus que envolvem a adoção por casais homoafetivos, como a possibilidade das crianças criadas por homossexuais terem pré-disposição a também serem como os pais, não afetam a criação dos filhos do casal.
“Nós explicamos que eles têm dois pais e que eles nasceram de uma mulher, mas que ela não pode ficar com eles”. Já referente a falta da presença feminina na criação, Luciano afirma que é suprida pela avó das crianças que está sempre presente. “Minha mãe vai à escola no dia das mães”, conta.
Luciano acredita que o preconceito tem diminuído nos últimos anos, mas que nunca vai acabar. “O que é novo é criticado.” E a fase da adolescência não assusta o casal, que se diz preparado para as perguntas e questionamentos que todos os jovens têm.
Situações delicadas
Apesar de terem o apoio da família e a aceitação das pessoas que convivem, algumas situações são no mínimo “delicadas”. Luciano contou que uma professora da escola, comentou com Robson que achava interessante o fato das crianças terem interesse por meninas. “Nós conversamos sobre tudo e eles falam de meninas, dá para perceber que eles não têm tendências homossexuais. E não é porque somos gays que eles também serão. Afinal nenhum pai quer que seu filho seja homossexual, para não ter que enfrentar todos os preconceitos.”
Fila de espera
No último  domingo (25) foi  comemorado o Dia Nacional da Adoção. No Brasil existem mais de cinco mil crianças e adolescentes à espera de um lar no Cadastro Nacional de Adoção, mas 80% dos disponíveis para adoção têm mais de nove anos. Em Bauru, 130 pessoas esperam para adotar um filho, mas apenas quatro adolescentes estão aptos para serem adotados.
Em relação aos casais homoafetivos, a responsável pelo cadastro de adoção na cidade afirma que três casais efetivamente adotaram crianças em Bauru, ou seja, passaram por todo o procedimento e são legalmente os pais adotivos, no entanto, alguns adotaram mais de uma criança, como é o caso do Luciano e do Robson.
Ainda de acordo com a psicóloga, o número de casais homoafetivos que aguardam para adotar uma criança corresponde a cerca de 10% do total de pessoas cadastradas.

Do G1