Filme sobre epidemia da AIDS estreia nesta quinta-feira (4), em Salvador; assista ao trailer
O filme “120 batimentos por minuto”, do diretor Robin Campillo, que aborda o trabalho de uma associação francesa na luta contra a AIDS, nos anos 1990, estreia nesta quinta-feira (4) , na rede UCI de Cinema em Salvador .
“120 batimentos por minuto” traz um retrato da associação Act Up e de uma geração que enfrentou os primeiros anos de epidemia da doença, em França, na década de 1990.
Em entrevista à agência Lusa o diretor revelou que longa foi construído a partir das memórias época e da sua militância na Act Up, e da sua participação nas ações de esclarecimento e protesto junto de políticos, laboratórios farmacêuticos e da sociedade civil.
“Foi um momento poderoso. Claro que foi horrível, porque os nossos amigos estavam a morrer no pior momento da epidemia, mas, ao mesmo tempo, estávamos tão felizes por estarmos juntos, por querermos mudar a forma como a doença era entendida, querermos mudar a sociedade. Foi muito importante para mim poder partilhá-lo com os espectadores, foi um momento importante da minha vida, do ponto de vista emocional, político e ético”, disse o diretor .
Confira trecho da entrevista do diretor ao site Adoro Cinema :
120 Batimentos por Minuto também é uma história de amor, mas você evita o sentimentalismo.
Robin Campillo: Sempre tive problema com histórias de amor. O casal que eu criei na história é inspirado num casal que realmente existiu na época. A urgência da doença cria relacionamentos de urgência. O mais importante no termo “história de amor”, para mim, é a palavra “história”, não o amor. No caso deles, este amor é ambíguo, porque eles precisam um do outro por razões diferentes.
No começo, não tenho certeza que Sean precise de Nathan, e Nathan se apaixona porque, de certo modo, ele passa a amar o grupo todo. A minha ideia não era evitar as lágrimas, mas priorizar as decisões, os atos, ao invés do sentimento amoroso, onde tudo é maravilhoso. Mesmo nas histórias de amor, existe um pragmatismo, e é isso que eu queria mostrar.
Você gostaria que o filme servisse como instrumento de conscientização ao tema do HIV e AIDS? Chegou a fazer sessões especiais para soropositivos, ou membros de associações?
Robin Campillo: Não imagino o filme como algo educativo. O único aspecto pedagógico é o fato de revelar os bastidores de uma associação, e tentar incluir todos os temas que nos interessavam na época. Por este ponto de vista, ele serve como documento. Mas a ficção não se limita a isso, ela vai além: a narrativa deseja abordar tanto a relação do casal durante a doença quanto o debate político e as questões ligadas ao HIV. Este é o meu trabalho: colocar os questionamentos em perspectiva, criar um contexto. Mas acredito que algumas pessoas possam aprender mais, e talvez se tornar mais sensíveis ao tema.
Fiz uma grande projeção do filme para os membros da Act Up de antigamente, e para os ativistas em geral. Foi emocionante, porque as pessoas se identificavam principalmente com os sentimentos da época, nosso linguajar, os elementos de reconstituição do início dos anos 1990. Fui abordado por muitas pessoas que viveram a época, que conheceram vítimas de AIDS, ou jovens cujos pais morreram devido à doença. Fizemos sessões também para pesquisadores e cientistas, mas eu não estive presente nesta ocasião.
O filme chega aos cinemas dia 4 de janeiro.