Filipe Harpo
Os primeiros minutos de For Colored Girls, são geniais. Baseado na peça “For Colored Girls: Who Have Considered Suicide When the Rainbow is Enu” de Ntozake Shange, coletânea de 20 poemas sobre as vivencias de mulheres negras nos Estados Unidos, as primeiras cenas cruzam texto e imagem de forma única. For Colored Girls transforma um arquétipo batido do cinema, várias histórias que se cruzam, em um roteiro interessante, intercalado pelos poemas de Shange.
No elenco, nomes de peso: Thandie Newton, Whoopi Goldberg, Anika Noni Rose, Omari Hardwick, Kerry Washington, Janet Jackson, Loretta Devine, Kimberly Elise, Phylicia Rashad, Tessa Thompson, Macy Gray, Richard Lawson. Ou seja, a nata dos atores negros se envolveram no projeto, seja por conta do cineasta/produtor Tyler Perry ou pelo significado do livro junto à comunidade negra dos EUA.
Analisando friamente, For Colored é um filme bom! O texto e as atuações são simplesmente fenomenais. O roteiro de Ntozake Shange e Nzingha Stewart mistura os poemas à trama com uma naturalidade impressionante. No começo, só dúvidas: Como esses poemas serão recitados? Como uma peça onde 20 personagens sem nome, serão traduzidas em tela grande? Mas tudo é composto de uma forma tão bonita que convence realmente.
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Janet Jackson interpreta a dama vermelha, Jô; Calculista, mandona, esposa de um homem “emparedado” em sua masculinidade. Juanita (Loreta Devine. Ótima!), a dama verde, é auto suficiente e vive um grande dilema, dá aulas de auto estima a mulheres em uma ONG, mas vive em crise em seu relacionamento com um namorado que a trai em vários sentidos. Yasmine (Anika Noni Rose (Òtima!)), a dama amarela é delicada, dança como ninguém, frágil, mas vai se transformar por conta de algo que contando estraga. Tangie (Tandie Newton (boa)), a dama laranja, é uma mulher vivendo no âmbito amoral. Mas o espectador não sabe se sua vontade de ter vários homens é uma escolha de vida ou algum traço desequilibrado de sua trajetória. Alice (Whoopi Goldbert (magnífica!)), a dama branca, fanática religiosa, tem um relacionamento conturbado com as filhas. Gilda (Phylicia Rashad), a dama cinza representa na trama o equilíbrio. Crystal (Kimberly Elise), a dama marron, é a personagem mais complexa e Elise, atriz fenomenal arrasa. Nyla (Tessa Thompson), a dama roxa – entra no filme para simbolizar o “tornar-se mulher”. E por fim, Kelly (Kerry Washington (apática)) que tem um amor mágico, mas sofre por não conseguir ter filhos.
O único problema do filme é justamente Tyler Perry. É nítido a falta de personalidade de um diretor que comanda grandes projetos com a cafonice de um filme feito sem assinatura. Perry não tem identidade, algo que cineastas como Spike Lee e Ava Duvernay tem de sobra. Perry dirige cinema, como se fosse TV. Felizmente, a obra é mais forte que o cineasta e o projeto ganha vigor por conta do elenco e do roteiro bem acabado. Sim, o filme vai fazer você chorar. Sim, ele vai fazer pensar como está levando sua vida. Sim, é feito para mulheres, mas toca e provoca os homens. For Colared é sensível, bonito, forte, bem escrito, nas mãos de um/uma cineasta brilhante, poderia ser o NOVO a Cor Púrpura, mas convence pelo elenco superlativo e o texto impressionante!
Filipe Harpo é diretor da SOUDESSA Cia de Teatro, historiador pela UNEB, realizador audiovisual pelo Projeto Cine Arts – UNEB – PROEX e apaixonado por cinema.