Saúde

Dia do trabalhador reacende a discussão acerca da saúde mental no ambiente profissional

Redação,
29/04/2023 | 13h04
(Foto: Divulgação)

Engana-se quem acredita que o adoecimento mental do trabalhador é uma realidade pós pandemia. A questão já era preocupante antes do coronavírus. Dados de 2017 do INSS indicam os transtornos mentais como a terceira principal causa de afastamentos do trabalho, representando cerca de 9% do total dos auxílios à doença.

E há estudos mais recentes como o da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), que apresentam a dimensão do impacto que a crise sanitária vem causando na saúde mental dos profissionais. A pesquisa sinaliza que quase 50% dos brasileiros que estão no mercado de trabalho sofrem de depressão e o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial nos diagnósticos de Síndrome de Burnout (saúde mental afetada diretamente pelo trabalho), perdendo apenas para o Japão. Além disso, 9 em cada 10 trabalhadores têm sintomas de ansiedade, do grau mais leve ao impactante.

“A pandemia permitiu que a sociedade olhasse de forma diferente para os problemas associados ao adoecimento mental e também aos fatores relacionados à prevenção, principalmente, no ambiente profissional”, ressalta Lívia Fialho, psicóloga da Clínica Holos. “A saúde mental é algo muito sério e exige responsabilidade por parte das empresas mas, infelizmente, foi necessário existir uma pandemia que trouxesse  consequências diretas na produtividade e nos modelos de trabalho  para que esse tema seja visto com a importância que lhe cabe. A prevenção pode ser trabalhada com sucesso quando há conhecimento acerca do assunto”, complementa.

A delicadeza do tema – que traz tabus e estigmas – faz com que a pessoa que esteja em situação de sofrimento emocional não se sinta à vontade para falar sobre isso. “As pessoas temem a avaliação da sociedade ao serem diagnosticadas com algum elemento relacionado ao adoecimento mental. É como se elas fossem fracassadas por conta disso”, explica a psicóloga.

Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS –  tal atitude faz com que 70% das pessoas que sofrem de algum tipo de transtorno mental não busquem ajuda adequada, ou até mesmo demoram para procurar um profissional, por questões como medo, preconceito, discriminação ou falta de apoio. “É necessário que as lideranças nas empresas contribuam para a redução no tempo para a identificação de sofrimento emocional. Um quadro depressivo pode demorar até 8 anos para apresentar níveis críticos. E quadros de depressão, como distimia ou depressão mascarada, também conhecida como atípica ou sorridente, podem passar a vida toda sem serem diagnosticados”. alerta Lívia Fialho, ao ressaltar ainda que quanto maior o tempo para se chegar ao diagnóstico, maior é o prejuízo na vida da pessoa e em sua carreira”.

As recentes transformações das culturas organizacionais sugerem um novo estilo de trabalho, no qual existe espaço para a vulnerabilidade e o acolhimento das emoções. “As pessoas precisam de ambientes de trabalho mais saudáveis, tanto no que é relacionado à segurança física, como psicológica, e também de espaços seguros de fala para discutir tais temas. Somos seres integrais e quanto mais considerarmos essa integralidade, mais espaço teremos para cuidar das nossas necessidades  em todas as esferas”, conclui a psicóloga.

Atitudes que podem ser adotadas em prol da segurança psicológica da sua equipe:

– Converse com as pessoas do seu time acerca da importância do cuidado com a Saúde Emocional e não se esqueça que o adoecimento emocional pode atingir qualquer pessoa.
– Nada de críticas ou julgamentos sobre quem realiza psicoterapia. Infelizmente ainda existem muitos preconceitos e medos para buscar ajuda.
– Promova momentos de conversa com a sua equipe para que as pessoas possam falar como estão e o que têm realizado para lidar com os desafios de suas vidas.
– Estimule o compartilhamento de situações do cotidiano.

*Lívia Fialho é psicóloga (CRP 03/23604) da Clínica Holos,  especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e Mestranda em Psicologia Clínica e da Saúde.