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CASACOR Bahia: ARCHBASI transforma Casa de Bomba de 1735 em joalheria de luxo

Genilson Coutinho,
21/07/2025 | 11h07

Na sua estreia na CASACOR Bahia 2025, o escritório baiano ARCHBASI — dos arquitetos Lucas Bacelar e Taís Silva — assina um projeto que une história, elegância e sensorialidade. A dupla transformou a antiga Casa de Bomba do Convento das Mercês, construção do século XVIII, em uma sofisticada joalheria de luxo: a flagship store da marca Graça Valadares Joias, um dos destaques da mostra, que este ano tem como tema Semear Sonhos. Mais do que uma loja em funcionamento, o espaço se apresenta como uma instalação imersiva, que convida à contemplação e valoriza as joias como símbolos de desejos realizados e memórias preservadas. “Estrear com esse projeto foi muito simbólico. Compartilhamos com a marca valores como atemporalidade, sofisticação e propósito. Foi um encontro de identidades”, afirmam os arquitetos.

Da Casa de Bomba à joalheria imersiva: uma ressignificação do espaço

A proposta do ARCHBASI foi ressignificar um espaço técnico e invisível — que abrigava, originalmente, um sistema hidráulico com reservatório subterrâneo — e convertê-lo em um ambiente de beleza silenciosa e atmosfera receptiva. “Transformar um espaço técnico e invisível em um ambiente de luxo e acolhimento foi um exercício profundo de ressignificação. Nosso objetivo foi revelar o potencial estético e narrativo de um lugar que, por séculos, existiu apenas para funcionar”, pontuam.

Entre o rústico e o refinado, o projeto constrói uma atmosfera de sofisticação sensível. A paleta em tons profundos de verde remete à natureza e à esperança, funcionando como pano de fundo para o brilho das peças. “O verde que usamos nas superfícies foi escolhido para mimetizar o entorno e criar uma conexão cromática com o jardim. Já a iluminação é nossa ferramenta de lapidação: revela as joias e valoriza o espaço com leveza”, explicam.

A iluminação cênica, com luzes pontuais e sancas embutidas, foi pensada para destacar cada detalhe com precisão e suavidade. Materiais naturais, como pedra Moledo Bege Bahia, Granito Verde Candeias e MDF com acabamento Relva, dialogam com a arquitetura original e reforçam o contraste entre o bruto e o lapidado. Espécies vegetais como Pau-d’água e Costela de Adão completam o cenário, criando camadas de textura e vida.

Preservação e inovação dialogam na arquitetura da joalheria

Apesar das limitações estruturais — como as paredes com até 70 cm de espessura em adobe e pedra de fogo —, o ARCHBASI optou por preservar elementos históricos significativos, como o forro de madeira original e a porta maciça voltada para o jardim. “Mantivemos o forro original de madeira e a porta de entrada como gestos de respeito à história do imóvel. Não queríamos apagar nada, buscamos um diálogo fluido entre o antigo e o novo”, ressaltam.

O layout fluido, aliado a soluções de automação para luz, som e climatização, garante uma experiência sensorial sem interferências visuais. A marcenaria autoral e o cuidado nos acabamentos revelam um projeto que respeita o passado e aponta para o futuro da arquitetura contemporânea baiana.

A ideia de tratar a joia como obra de arte também norteou o conceito. “Pensamos em cada detalhe para criar uma atmosfera intimista, silenciosa e sensorial. A experiência vai além da compra: é uma vivência tátil e emocional, um convite à contemplação”, explicam Lucas e Taís. Ao longo do processo, que durou cerca de um mês e meio da concepção à entrega, os arquitetos foram surpreendidos pela forma como o espaço se revelou: “A construção reagia às nossas decisões. Era como se o espaço nos guiasse, revelando camadas, histórias e caminhos que não estavam visíveis no início. Foi uma troca viva e transformadora”, compartilham.

Mais do que uma intervenção estética, a obra propõe uma nova forma de olhar para o patrimônio histórico em Salvador. “Salvador pode e deve evoluir, sem esquecer de onde veio. Nosso projeto propõe um olhar contemporâneo para o patrimônio, que respeita o passado, mas permite que novas histórias sejam contadas”, concluem.

A transformação da antiga Casa de Bomba em joalheria de luxo é, para o ARCHBASI, uma declaração de princípios: arquitetura que toca, emociona e ressignifica, com beleza, leveza e profundidade.