HIV em pauta

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Vamos falar sobre sorofobia?

Davidson Costa,
30/11/2020 | 21h11

Chegamos a mais um Dia Mundial de Luta Contra o HIV e diante de tantos avanços em conquista de direitos, acesso à medicação de alta qualidade, melhora da qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV, ainda existem desafios que persistem mesmo após 39 anos que a infecção por HIV e a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) foram reconhecidas com doença. Um desses desafios é a sorofobia e essa não pode ser apenas uma palavra da moda.

Sorofobia é o preconceito, medo, rejeição e discriminação contra as PVHIV. É o estigma sorológico que persiste, baseado em medo e ignorância causados pela desinformação.

Ainda é preciso explicar que ser PVHIV é diferente de estar em AIDS (quando não se trata a infecção por HIV e em estágios avançados a imunidade se torna comprometida, podendo ser revertido com tratamento e acompanhamento médico adequado) e mesmo que a pessoa esteja em AIDS, ela tem a mesma dignidade que qualquer outra pessoa.
Ainda é preciso explicar que HIV não se transmite por saliva, contato com a pele ou objetos usados pela pessoa.

Ainda é preciso explicar que a pessoa que trata a infecção HIV adequadamente e que está há mais de 6 meses com carga viral considerada indetectável, associado à boa adesão ao tratamento e ausência de outras infecções sexualmente transmíveis (IST) também se considera que não transmite a infecção.

Ainda é preciso explicar que ser homossexual não é sinônimo de ser PVHIV ou estar em AIDS. Os comportamentos de risco são os responsáveis pela transmissão da doença e que isso independe de orientação sexual ou identidade de gênero. Heterossexuais também podem ser infectados.
Ainda é preciso explicar que conviver com o HIV não é condenação de morte e que o resultado positivo da sorologia não define quem você é ou o que será de sua vida e que o uso da medicação te traz qualidade de vida como a de qualquer outra pessoa.

Ainda é preciso desvincular a associação de infecção por HIV com pecado, consequente de punição divina. Ainda é preciso explicar que o uso da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) junto com a Prevenção Combinada não é sinônimo de promiscuidade ou qualquer outro julgamento moral quanto a comportamento sexual. PrEP é autocuidado, é a escolha do indivíduo por prevenção para permitir o melhor sexo com a maior proteção possível.

Até quando? Enquanto houver desinformação, cabe a cada um de nós informar, esclarecer, desmistificar e combater as informações falsas.
Sorofobia mata. E quem contribui direta ou indiretamente é cúmplice. Que a empatia e a esperança vençam a ignorância, desonestidade intelectual e o medo.

Parabenizo desde já, a todos os PVHIV que se mostram e se posicionam, que existem e que vivem com dignidade e qualidade de vida, apesar da sorofobia.

*Davidson Costa é médico há 5 anos, especialista em clínica e especializando em infectologia pelo Hospital Português.