Nova pesquisa revela falhas no atendimento a pessoas negras vivendo com HIV no sistema de atenção primária no Reino Unido
Uma nova pesquisa conduzida pelo National Aids Trust em parceria com a One Voice Network revela que pessoas negras vivendo com HIV enfrentam barreiras preocupantes no acesso à atenção primária à saúde em Londres. O relatório, intitulado Unheard Voices: Understanding the challenges facing Black people living with HIV in primary care (“Vozes não ouvidas: compreendendo os desafios enfrentados por pessoas negras vivendo com HIV na atenção primária”), foi lançado no dia 10 de abril e traz dados que acendem um alerta sobre desigualdades persistentes no sistema de saúde britânico.
O estudo ouviu 142 pessoas negras vivendo com HIV e identificou que muitas delas evitam procurar seus clínicos gerais (GPs) por medo de estigma e discriminação. Quase um quinto dos entrevistados (19%) relataram que deixaram de buscar atendimento com receio de serem tratados de forma diferente por causa de sua sorologia. Além disso, 13% afirmaram já ter tido procedimentos ou medicamentos recusados, e 20% disseram não se sentirem ouvidos por seus médicos. Um terço relatou que nunca foi consultado pelo GP sobre seu tratamento ou cuidados de saúde.
Depoimentos colhidos no estudo apontam que essas pessoas se sentem ignoradas e desrespeitadas no atendimento. “Na maioria das vezes tenho que lutar para ser ouvido”, relatou uma pessoa. Outra mencionou um comentário estigmatizante de seu médico: “Ele me perguntou como alguém como eu contraiu HIV”.
Além da falta de escuta, os entrevistados relataram experiências de negligência e de serem encaminhados de um profissional para outro, sem que ninguém assumisse a responsabilidade pelo cuidado integral. O estudo destaca ainda a sobrecarga de trabalho dos GPs, a ausência de formação em competência cultural, e a interseção do racismo com o estigma relacionado ao HIV como fatores que agravam essa realidade.
A pesquisa também apresenta uma série de recomendações direcionadas a médicos de clínica geral, redes de atenção primária, autoridades locais, Conselhos de Cuidados Integrados (ICBs), o NHS (Serviço Nacional de Saúde) e o governo britânico, com o objetivo de corrigir essas falhas estruturais e garantir o cumprimento da meta de eliminação das transmissões do HIV na Inglaterra até 2030.
Para Christina Ganotakis, copresidente da One Voice Network, é essencial reconhecer e enfrentar as desigualdades para que mudanças concretas ocorram. “Sem o compromisso de corrigir as desigualdades subjacentes em nossos sistemas de saúde, os negros que vivem com HIV continuarão a carregar o maior fardo”, afirmou. “As comunidades negras africanas e caribenhas sabem do que precisam; é hora de nossos tomadores de decisão agirem.”
A Dra. Aneesha Noonan, diretora médica do NHS em Londres, alertou sobre os impactos graves da negligência com essas populações. “Os dados apresentados neste relatório pintam um quadro severo e preocupante dos problemas sistêmicos profundamente enraizados que impactam desproporcionalmente as pessoas negras vivendo com HIV”, disse. “Para garantir que ninguém seja deixado para trás, as recomendações deste relatório devem ser implementadas não apenas em Londres, mas em todo o país.”
Oluwakemi Agunbiade, diretor sênior de políticas e pesquisa do National Aids Trust, destacou que o sistema de saúde precisa evoluir para responder à diversidade das pessoas vivendo com HIV. “O que vimos neste relatório demonstra uma necessidade maior de o governo e o NHS abordarem o estigma, a competência cultural, a confidencialidade e a acessibilidade”, afirmou. “Somente um cuidado verdadeiramente centrado na pessoa nos ajudará a alcançar nossos objetivos de erradicar novas transmissões e melhorar os resultados de saúde.”
Embora os dados sejam referentes à capital britânica, os pesquisadores alertam que os desafios e desigualdades identificados refletem uma realidade mais ampla do Reino Unido – e que exigem ação urgente.
Da Agência AIDS