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Multiartista Raul Nunnes estreia na literatura com livro de poesias sobre vivência com HIV

Genilson Coutinho,
31/03/2025 | 12h03

A arte e a palavra como formas de cura e resistência. É nessa crença que se baseia o multiartista Raul Nunnes, que lança seu primeiro livro de poesias, Escrito para…. Composto por 15 poemas, a obra reflete sobre o que significa ser um corpo negro vivendo com HIV em uma sociedade marcada pelo estigma, além de explorar temas como afetos, inquietações e a própria trajetória do autor.

“Este livro é um convite a refletir, a questionar e, acima de tudo, a não desistir”, afirma Nunnes, que, além de poeta, é podcaster e diretor criativo.

A influência de Cazuza e o desejo de escrever

Em entrevista à Agência Aids, Raul contou que seu retorno à escrita foi influenciado por uma imersão na obra de Cazuza. “Eu já tinha estudado Cazuza antes, mas muito nesse lugar da militância sobre quem ele foi, sua importância no combate à aids, mas a parte poética, muito pouco. Então, fiz um intensivão de Cazuza, assisti filmes, ouvi praticamente todos os álbuns e músicas. Fui para esse lado artístico”, revelou.

Esse mergulho na poesia do cantor foi essencial para despertar um novo desejo de escrita. Assim nasceu Escrito para…, dividido em dois atos. “O primeiro ato são quatro poemas: um sobre sonhos, outro sobre amor, outro sobre coragem e outro sobre vulnerabilidade. Os outros 11 são poemas que escrevo para pessoas que fazem parte do meu cotidiano: minha mãe, meu melhor amigo, meu futuro amor, meus dois ex-amores, meus avós, que são meus ancestrais, para a sociedade e um para as pessoas que vivem com HIV”, explica o autor.

A palavra como forma de transformação

Para Raul, a escrita tem um poder transformador. “Eu quis escrever esses poemas porque eu entendi que a palavra, não só dita, mas escrita, é capaz de transformar as pessoas. Então, são como cartas para cada uma dessas pessoas. Uma carta que não é só minha, ela foi feita e pode ser um presente”, reflete.

O livro será lançado em formato digital de maneira independente. “Será um e-book, pois não há uma editora. É um projeto mais pessoal, sem muitos fins lucrativos. Tenho entendido cada vez mais que pessoas vivendo com HIV/aids, muitas não fazem parte de um mercado de trabalho formal, pelo menos na minha bolha, a grande maioria trabalha de forma autônoma e muitas delas voltadas para a arte ou para a produção cultural. Então, é uma galera que está fazendo seu corre sozinha”, destaca.

Referências e inspirações

Além de Cazuza, Nunnes cita o rapper e poeta Rico Dalasam como uma grande influência. “Eu o considero um dos maiores poetas da atualidade brasileira. Rico é muito importante para mim e me ensinou a me dispor, a colocar para fora minhas vivências e emoções.”

O autor ressalta que seu livro é mais do que uma coletânea de poemas – é um manifesto sobre as vidas marginalizadas pela sociedade. “O meu livro Escrito para… é mais do que uma coleção de poemas. Ele é uma homenagem às vidas que, assim como a minha, foram invisibilizadas, rejeitadas e estigmatizadas pela sociedade. Através da poesia, busco dar voz a todos aqueles que vivem com HIV, especialmente na comunidade negra e LGBTQIA+.”

Com uma escrita que carrega acolhimento e resistência, Raul espera que sua obra crie conexões. “Com base na minha vivência, escrevi este livro como uma forma de acolhimento. Quero que cada pessoa que leia essas palavras se sinta abraçada, se sinta vista e, principalmente, que perceba que não está sozinha. Cada poema é uma parte de mim, e ao compartilhá-los com o mundo, compartilho a esperança, a resistência e o amor que encontrei nas minhas próprias lutas e nos acolhimentos que tive, para além de saudar meus ancestrais”, conclui.

Clique aqui e leia o livro na íntegra.