I Seminário Nacional LGBTQIA+ de Fé promove diálogo inter-religioso e reforça luta contra fundamentalismos

Genilson Coutinho,
07/02/2025 | 11h02

Nos dias 4, 5 e 6 de fevereiro, aconteceu no Rio de Janeiro o I Seminário Nacional LGBTQIA+ de Fé, um evento pioneiro que reuniu diversas lideranças religiosas, ativistas e acadêmicos para debater a interseção entre espiritualidade, diversidade e direitos humanos. Organizado pelo Fundo Positivo, o seminário teve como objetivo fomentar o diálogo inter-religioso e fortalecer a luta contra fundamentalismos religiosos que perpetuam a discriminação.

A programação contou com painéis, mesas de debate e grupos de trabalho, abordando temas como intolerância religiosa, fundamentalismos, terapias de reversão e diversidade sexual e de gênero na Bíblia. A abertura oficial teve a participação de figuras de destaque, como a professora e ativista Marina Reidel, a reverenda Ana Ester, o deputado federal Henrique Vieira e o médico e influenciador Fred Nicácio.

Dentre os momentos mais marcantes do evento, destacou-se a celebração inter-religiosa, que reuniu representantes de pelo menos onze tradições religiosas, promovendo um espaço de respeito e acolhimento. Além disso, foram realizadas discussões sobre estratégias para enfrentar discursos de ódio e ampliar o reconhecimento das comunidades LGBTQIA+ dentro das diferentes confissões religiosas.

A artista e ativista Micaela Cyrino participou do seminário e destacou a importância do evento no contexto atual. “Eu acredito que, como foi o primeiro seminário nesse contexto, foi muito importante ter vários coletivos, vários movimentos de outros grupos que já existem, e ter essa troca interseccional entre as religiões e as populações diversas”, afirmou. Micaela também ressaltou a relevância de o evento ter ocorrido no Rio de Janeiro, estado que historicamente enfrenta altos índices de intolerância religiosa.

Ela ainda pontuou que a realização do seminário contou com o apoio do pastor Henrique Vieira, algo significativo diante do avanço do fundamentalismo religioso no país. “Entendo como o fundamentalismo religioso vem operando nas comunidades do Rio de Janeiro e como a população de religiões de matriz africana tem sofrido bastante com isso”, disse. Para Micaela, é essencial fortalecer estratégias como essas para enfrentar os desafios atuais, especialmente considerando o cenário internacional. “Com o contexto que estamos, com as últimas declarações do Trump, acho que estratégias como essas são mais que necessárias.”

Apesar dos avanços, Micaela sentiu falta de uma maior representatividade indígena e trans no evento. “Seria algo para estar com mais potência nas próximas edições”, sugeriu.

O encerramento do seminário foi marcado pela leitura da Carta do Rio de Janeiro, documento que reúne as principais reflexões e compromissos assumidos durante o evento, com foco na construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa às diversas expressões de fé e identidade.