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Família de designer morto a tiros acredita que motivo pode ter sido homofobia

Genilson Coutinho,
05/05/2021 | 22h05
Foto: Reprodução/Redes sociais

A família do designer Wendel Moura, encontrado morto na quinta-feira (31), dois dias após ter saído para pedalar na orla da Boca do Rio, em Salvador, não descarta que o crime tenha sido motivado por homofobia. Nesta terça-feira (5), a família realiza a missa de sétimo dia de Wendell, na capela do Centro Administrativo da Bahia (CAB).

A linha de investigação inicial da Polícia Civil é de latrocínio, mas segundo os familiares, a forma e o local onde crime ocorreu indicam que pode ter sido homofobia.

“A gente suspeita das duas coisas [homofobia e latrocínio]. Não podemos descartar que tenha sido homofobia, porque é um local onde há vários casos de gays que são violentados ali. Há muita violência ali”, disse um parente que não quis se identificar.

Os pais de Wendel prestaram depoimento na segunda-feira (4), na Polícia Civil, junto com o amigo da vítima que havia retirado a bicicleta por aplicativo, no dia do crime.

O familiar do designer disse que ele não estava com documentos ou nenhum objeto de valor. Somente uma corrente no pescoço, que foi levada pelos bandidos.

“Os criminosos deram um tiro no pé e ele caiu. Não tinham nada pra roubar e executaram o Wendel. Ele não estava com nada. Nem celular, nem carteira. A única coisa que ele portava era uma corrente. Nenhuma linha de investigação pode ser descartada”, afirmou o parente de Wendel.

De acordo com a Polícia Civil, Wendel foi encontrado morto nas proximidades de uma quadra, no bairro da Boca do Rio, na terça-feira, por volta das 23h. Ele foi atingido no peito e nas costas. A vítima estava sem documentos quando o corpo foi encontrado na rua.

Na mesma noite, informou a polícia, dois homens foram localizados nas imediações e presos pela PM. A dupla estava com um revólver 38 e informou aos policiais que pegou a arma na rua, após outra pessoa descartá-la.

Segundo o parente do designer, a arma encontrada com a dupla é do mesmo calibre da que deflagrou os tios que mataram Wendel.

“Como a arma tem o mesmo calibre, a gente está pedindo que mantenham eles presos até o resultado da perícia”, disse.

Amigos e familiares informaram que Wendel tinha o hábito de sair para pedalar à noite. No dia do ocorrido, ele pegou uma bicicleta de compartilhamento em Itapuã, por volta das 19h, e saiu pedalando pela orla. A vítima foi enterrada na manhã de sexta-feira (1º), em Salvador.

Em nota, a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) afirmou que repudia a morte do designer e que colocou uma equipe à disposição para auxiliar os familiares e amigos da vítima.

O órgão contou que a Coordenação LGBT da SJDHDS está acompanhando os familiares da vítima e mantém contato com as autoridades policiais para que os culpados pelo crime sejam identificados e presos.

A Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia afirmou que registrou 17 casos de homicídio ou tentativas de homicídio LGBTfóbicos nos últimos 12 meses. Foram seis homicídios e 11 tentativas de homicídio registrados em Amargosa, Salvador, Camaçari, Candeias, Iramaia, Luiz Eduardo Magalhães, Simões Filho e Vera Cruz.

A SJDHDS tem acompanhado, auxiliado e monitorado a investigação dos crimes junto à Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).

“A violência de gênero ou contra grupos minoritários é fruto de uma sociedade ainda alicerçada no ódio e na repulsa àquilo que é diferente. Somos diversos e é essa diversidade que constrói uma sociedade mais plural e criativa, com respeito a todos e todas, sem exceção”, afirmou o secretário da SJDHDS, Carlos Martins.