Conheça Lua Mansano e Thaís Moura, mulheres inspiradoras que fazem a diferença na luta contra o HIV/aids

Genilson Coutinho,
10/03/2024 | 19h03

Por conta do Dia Internacional da Mulher celebrado em 8 de março, compartilhamos perfis de algumas mulheres inspiradoras e combatentes que rompem o silenciamento tão comum às representantes do gênero feminino (trans e cis) relacionado à infecção por HIV e expõem nas suas mídias sociais não somente sua sorologia positiva para o vírus, mas experiências do cotidiano sobre como é viver com HIV. 

Além de desafiarem o estigma, o preconceito e a discriminação, disseminam informação relevante sobre adesão ao tratamento e prevenção combinada e inspiram milhares de outras mulheres ao redor do país a se aceitarem e se amarem após o diagnóstico, mostrando que é possível levar uma vida social e sexual frutífera e prazeirosa.

Lua Mansano

A produtora audiovisual e palestrante Lua Mansano é uma travesti posiTHIVamente viva, como gosta de se auto denominar. Nascida em Ourinhos, no interior de São Paulo, Lua tem a etiqueta TOP Voice no LinkedIn, onde produz conteúdo sobre as vivências de um corpo trans dentro do mercado de trabalho corporativo, conhecido por ser uma terra hostil a vivências que estão fora do padrão cis-heteronormativo. No entanto, ela acredita que seu conteúdo soropositivo foi bem recebido dentro desta rede, até porque ela costuma ser sempre muito didática. “Graças ao LinkedIn eu consegui trazer esse diálogo (do HIV/aids) para outros espaços”, afirma.

Segundo o “Dossiê Assassinatos e violências contra travestis e transexuais brasileiras” da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), em 2023 o Brasil liderou pelo 14º ano consecutivo o ranking de países que mais assassinam pessoas trans e travestis no mundo. Em relação à epidemia de HIV/aids, as mulheres trans ainda são as que mais morrem de aids, mesmo o tratamento antirretroviral sendo gratuito e universal pelo SUS. Isso acontece, principalmente, pela discriminação e violências que esses corpos sofrem nos aparatos de saúde público, fazendo com que a população trans abdique de cuidar sua saúde para evitar sofrer constrangimentos e agressões de todo tipo.

“Eu me sinto muito confortável de pegar a minha medicação, mas a diferença é que eu sou uma pessoa abertamente positiva, então eu faço questão de sempre estar com ótimo humor, sorrir para as travestis, dar um oi para as mulheres trans e conversar para justamente promover essa cultura de a gente se reconhecer, da gente vir pegar nossas medicações, fazer as consultas periodicamente e trocar mesmo. Eu acho que a tecnologia mais afirmativa é a troca, a comunicação a partir da vivência, pois as pessoas se encorajam porque se espelham”, conta.

Lua diz acreditar na disseminação de informação e de potências travestis e de mulheres trans que vivem abertamente com HIV para que elas se sintam representadas, se sintam possíveis em espaços coletivos de afeto e de troca e de representatividade. “É muito importante que existam espaços que promovam pessoas trans e travestis que vivem com HIV em detrimento desse espaço de higienização que apenas dá espaço para homens, geralmente para homens cis, gays, brancos, sem deficiência. Esse é um diálogo muito importante para a gente pensar na interseccionalidade de  acesso de pessoas trans a informação e a referenciais, além de ser uma estratégia para a gente reeducar a cisgeneridade”, afirma. 

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Thaís Moura

A psicóloga, mãe e mulher vivendo com HIV Thais Moura cresceu em um ambiente religioso e aos 17 anos de idade entrou para um convento, onde permaneceu até os 21, quando ingressou no mercado de trabalho formal e se permitiu ter uma vida social ativa. Na época, apaixonou-se por um rapaz e logo após a primeira relação sexual ele sumiu, o que atualmente conhecemos como ghosting. Após o surgimento de um abscesso próximo à virilha, Thaís decidiu realizar todos os exames de IST e descobriu ser positiva para o HIV.

“No primeiro momento foi uma pancada muito forte, tudo mudou completamente, mas lidei bem. Logo nas primeiras horas entendi que a vida continuava. Eu era nova, mas fui destemida!”, conta.

Pouco tempo depois, a psicóloga decidiu explorar o tema do HIV/aids publicamente em suas mídias sociais.

“Eu gostaria que fosse um assunto mais normalizado, que as pessoas que ouvissem não se sentissem especiais porque eu contei a elas. A partir do momento que todo mundo sabe minha sorologia, passa a não ser uma coisa tão sagrada. Meu objetivo era que houvesse menos tabu e que as pessoas pudessem escutar e normalizar cada vez mais o tema”.

Thaís recebe dezenas de mensagens todas as semanas e explica que os comentários mais comuns são sobre a dificuldade de contar que vive com HIV para alguém que ainda não sabe, para o parceiro ou para alguém que se apaixonou. “A maior dica é que ninguém precisa aceitar que você vive com HIV nem validar nossa existência. A gente não pode dar esse poder para as pessoas, porque isso nos enfraquece. Já que essa é uma condição da nossa vida, a gente precisa se fortalecer e a gente mesmo nos aceitar antes que isso seja feito pelo outro”.

Para as mulheres e mães que vivem com HIV, Thaís é enfática. “Se ela se abandonar e deixar que o tsunami do estigma e do preconceito seja maior do que ela, será levada pela onda. Não dê o seu poder pessoal para ninguém definir se você precisa estar viva, ser uma pessoa profissional, ser uma boa mãe. Nós mulheres, mesmo sem HIV, já temos que lidar com isso desde sempre, não é fácil ser mulher”.