Violência contra pessoas LGBTQIA+ tem alta de 970% em São Paulo, revela estudo

Redação,
13/05/2024 | 15h05

Os casos de violências cometidas contra pessoas LGBTQIA+ na cidade de São Paulo e que chegaram aos serviços de saúde da capital tiveram uma alta de 970% no ano passado, se comparados com os registros contabilizados em 2015. O levantamento, ainda inédito, foi realizado pelo Instituto Pólis.

A escalada da violência se torna ainda mais expressiva se considerados apenas os boletins de ocorrência da Polícia Civil: o salto foi de 1.424%, de 2015 a 2023, totalizado 3.868 vítimas. Nesse mesmo período, foram acolhidos pela saúde 2.298 pacientes alvos desse tipo de agressão.

Os dados obtidos junto ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação do SUS (Sistema Único de Saúde) indicam episódios que geraram uma demanda de atendimento —e que, por isso, podem ser considerados mais graves e alarmantes. São casos de violência física, sexual e psicológica, por exemplo.

Os números colhidos indicam que os serviços de saúde que mais registraram casos de homofobia, lesbofobia e transfobia estão concentrados em regiões periféricas da cidade. O distrito do Itaim Paulista lidera as notificações no período analisado, com 123 vítimas, sendo seguido por Cidade Tiradentes (103), Jardim Ângela (100), Jardim São Luís (75), Capão Redondo (75) e Grajaú (65).

Já os registros computados pela Secretaria de Segurança Pública, que abriga a Polícia Civil do estado, indicam que as ocorrência são mais frequentes na região central da cidade. Elas estão concentradas nos bairros da República (160 vítimas), da Bela Vista (102) e da Consolação (96). Na sequência, aparecem Itaquera (82), na zona leste, e Vila Mariana (79), na zona centro-sul.

O Instituto Pólis destaca que o crescimento expressivo dos boletins de ocorrência está associado à implementação da Delegacia Eletrônica, que permite que a vítima preste queixa virtualmente, sem ter que se dirigir até uma delegacia.

O estudo identificou que o B.O. eletrônico é mais procurado por mulheres (51%) do que por homens (49%), e que eles comparecem mais às delegacias (65%) do que elas (32%).

O cruzamento dos dados ainda levou os pesquisadores a concluírem que homens, jovens e negros são maioria entre os alvos da violência física motivada por LGBTfobia na cidade de São Paulo. Do total de vítimas, 69% têm até 29 anos de idade.

Embora representem apenas 43,5% da população da capital, negros correspondem a 55% dos casos. Além disso, 79% das pessoas que relatam ter sido agredidas por policiais eram negras.Protesto contra a LGBTfobia em São Paulo, em 2014

Protesto contra a LGBTfobia em São Paulo, em 2014

“Os dados mostram que o quadro preocupante de violência LGBTfóbica e o aumento da sua notificação nos últimos anos tem recortes territoriais, de gênero, racial e etário”, afirma o diretor-executivo do Instituto Pólis, Rodrigo Iacovini.

Ela afirma que, ao mostrar os grupos mais vulnerabilizados, o estudo indica que políticas públicas podem ser aperfeiçoadas para garantir o direito à cidade a essa parcela da população.

“Isso nos dá pistas do que o poder público precisa fazer de diferente e mudar em termos de políticas”, afirma Iacovini. “É o aperfeiçoamento, por exemplo, em torno da segurança pública da população LGBT na região central de São Paulo, do atendimento às mulheres lésbicas, bissexuais e trans que, muitas vezes, sofrem mais com a violência doméstica”, completa.

O estudo “Violências LGBTQIAPN+ na Cidade de São Paulo”, elaborado pelo Pólis, será divulgado na íntegra na próxima sexta-feira (17), por ocasião do Dia Mundial de Combate à LGBTfobia. Os dados usados das áreas de saúde e segurança foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação.

Os pesquisadores observam que a Secretaria de Segurança Pública classifica as ocorrências de homofobia e transfobia de forma conjunta, não identifica orientação sexual ou identidade de gênero das vítimas e não cobra o preenchimento do campo de raça ou cor da pele no B.O. online, o que impede análises mais aprofundadas.

A Glamour de maio chega às bancas na próxima sexta (17).

Fonte: Correio Braziliense