Tudo sobre minha mãe Por João Barreto

Genilson Coutinho,
07/11/2011 | 11h11

Nesta coluna, eu vou falar tudo sobre minha mãe. Brincadeira, ok? Nem tudo, só um pouco. No último sábado (29), participei da segundaediçãodo #BLOGAYROSCAMP e aproveitei a oportunidade para tirar algumas dúvidas com minha mãe. Isto porque ambos apresentaríamos conferências naquele evento, ela na manhã e eu no turno da tarde. Ela daria o seu depoimento sobre como é ser mãe de LGBT(etc) e eu sobre como osblogseasredessociaisredimensionaramacomunidadeLGBTnasúltimasduasdécadas.

Alguns pontos interessantes que notei no discurso de Dona Minha Mãe foram: mães são pessoas inseridas na cultura, elas crescem em um ambiente sociocultural que impõe modelos de família, de gênero, de comportamento, e por aí vai. Mães temem muito pel@s filh@s quando saem do armário, especialmente por causa da violência de cunho homofóbico, e esta dura realidade faz com que muitas optem por se afastar emocionalmente dos filh@s. A falácia deste raciocínio afirma que filh@s distantes, quando machucados, provocam menos dor nos pais. Bom, como eu disse: falácia. Filh@s machucados provocam dor em qualquer pai e mãe em qualquer ocasião.

Além disso, os pais sofrem com a sexualidade distoante de seus filh@s LGBT, de início, porque precisam (re-)adequar os seus modelos e chaves de leitura da realidade. Estes modelos são aqueles que lhes foram ensinados por seus próprios pais e pela sociedade. Isto se dá porque todos nós estamos inseridos socioculturalmente e acabamos aprendendo a fazer determinados julgamentos baseados na forma dos outros interpretarem a realidade. Tentamos imitar a maioria, ou a imagem que fazemos da maioria, mas a maioria se comporta diferente de nós, LGBT(s).

Por conta disto, algumas mães e pais, se pudessem escolher uma orientação sexual para seus filh@s, é bem possível que escolham ter um filho heterossexual, porque é mais fácil e mais cômodo. E isto não quer dizer que o pai ou a mãe ame menos o seu filh@ LGBT.

A boa notícia é que, como diz Frodo Baggins (ou foi Gandalf, ou qualquer um desses), nem todas as lágrimas são ruins e nem todo sofrimento destrói. Ao ter um filho LGBT, uma mãe ou um pai se vê frente a uma série de novos desafios. Desafios de reinterpretação da realidade social, desafios de reestruturação familiar fora de modelos normativos impostos pela cultura e por aí vai. No fim das contas, um filho LGBT garante aos pais uma liberdade nova – a liberdade de resignificar a sua vida e seus laços familiares. Eu nem preciso listar todas as vantagens desta posição. De repente, os pais se vêem confrontados com a possibilidade de amar os seus filh@s pelo que eles são e não pelo que a sociedade espera que eles sejam.

Considero este um amor muito mais honesto e deste tipo eu tenho em casa aos montes.

O armário é um ambiente muito vasto pois nele cabem não apenas indivíduos mas famílias inteiras. No fim das contas, quando os pais de um LGBT descobrem a identidade sexual de sua prole, além de serem confrontados com o horror máximo de quase todo pai e mãe – “meu bebê tem desejos e impulsos sexuais, vixe maria!” -, eles têm que encarar a sociedade nos olhos e desafiar também o modelo vigente. Os filh@s, ao contarem que são LGBT (etc) para os pais, forçam os pais também para fora do armário perante a sociedade. Obriga a família inteira a se afirmar socialmente pois aquele núcleo familiar vê o seu modelo de coesão e desempenho social desafiado perante os demais modelos. E isto é ótimo!

João Barreto – Jornalista

Jornalista e mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. É analista de comunicação e cultura, especialmente de poéticas audiovisuais. Também tem interesse em desenvolvimento sustentável.

witter: @jaobarreto / Blog – http://jaobarreto.wordpress.com/