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“Transformei o filme numa causa. Depois de uns quatro anos tentando captar sem sucesso”, diz Leandra Leal ao Dois Terços sobre o filme “Divinas Divas”

Genilson Coutinho,
29/05/2017 | 11h05

A atriz Leandra Leal é a grande idealizadora do documentário “Divinas Divas”, que conta a partir de junho nas telas dos principais cinemas do Brasil, a luta da primeira geração de travestis brasileiros, como Rogéria, Jane Di Castro, Waléria e tantas outras damas da arte transformista que enfrentaram a ditadura militar. O filme premiado nos principais festivais nacionais e internacionais vai mexer com o público diante das histórias de vidas das personagens que encantaram e encanto com a arte transformista.

Na entrevista que cedeu ao site Dois Terços dias antes do lançamento, Leandra conta um pouco da sua relação com o elenco, da expectativa da estreia no circuito comercial e da sua relação com o universo trans. A atriz também lamentou a falta de espaço e a dura realidade do Brasil que lidera o número de assassinatos de pessoas trans no mundo.

Dois Terços. Como nasceu esse desejo de falar da vida destes ícones da arte transformista?

Leandra Leal. Eu as conheço desde criança e já estava procurando algum tema que me motivasse como artista, como cidadã, com uma criação autoral que pudesse falar muito de coisas que acredito e também de mim. Quando as vi juntas em cena no espetáculo Divinas Divas, percebi que isso falava muito sobre a minha infância, sobre de onde vim e do lugar que cresci que era o Teatro Rival. Foi um desejo meu fazer um filme que fosse muito pessoal e autoral. Além disso, tenho muita admiração por elas, pelas suas histórias. Então queria promover também o talento das divas.

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 DT. O filme tem recebido muitos elogios e prêmios nos festivais por onde tem passado. Era o resultado esperado?

LL. Não, eu queria muito fazer com que o filme tocasse as pessoas e consegui compartilhar o meu olhar privilegiado, que é um ponto de vista de intimidade, sobre elas. E estou muito feliz que as pessoas estão recebendo bem o filme, e que ele esteja tocando o coração delas.

DT. Muitos​ empresários ainda se recusam a associar sua marca a um produtor gay. Como você administrou esses entraves?

LL. Eu transformei o filme numa causa. Depois de uns quatro anos tentando captar sem sucesso, fizemos um crowdfunding e começamos a jogar para o público a responsabilidade, para mostrar como as pessoas também gostariam de ver um filme sobre elas.

DT. Diante dos relatos das artistas sobre a dura realidade em ser transformista no Brasil, você acredita que houve melhoras?

LL. Olha, é contraditório isso – é muito doido. Porque apesar de terem começado durante a ditadura militar, elas tinham muito mais espaço, mais teatro para se apresentar. Acho que a sociedade encaretou e que a gente vive um crescimento de uma onda conservadora na sociedade, na política, que fez com que essas artistas fossem mais oprimidas ao gueto. Então, hoje em dia existe menos espaço para elas se apresentarem, apesar da liberdade individual de cada uma ser mais protegida, né? É algo que é dito possível, mas na prática não é garantido. O Brasil é o país que mais mata trans no mundo, então acho que a gente não melhorou muito.

“Divina Divas “ de Leandra Leal , divulga trailer oficial ; assista

DT. O longa vai chegar às telas nacionais. O que você espera do público?

LL. Eu espero que pessoas que nunca tiveram contato com esse universo artístico, com o universo trans, vejam, se emocionem e se identifiquem. Eu espero que quebre preconceitos, e ao mesmo tempo, que essas pessoas e quem conhece esse universo sintam que ele foi retratado com o maior amor possível.

 DT. Além de falar da arte das Divinas Divas você também traz a realidade da vida destas pessoas. O que mais lhe fascinou no filme?

LL. Procurei mostrá-las como seres humanos complexos, como cada um de nós é. Então, além do talento delas, também queria mostrar a história de cada uma, com camadas pessoais e suas histórias amorosas, a questão de estar envelhecendo agora, como cada ser humano é.