Tem uma mulher no banheiro feminino

Genilson Coutinho,
19/01/2014 | 12h01

Por

Victor Villarpando

Vinte e um funcionários de lojas do Shopping Barra fizeram um abaixo-assinado para que uma travesti que trabalha numa lanchonete fosse proibida de usar o banheiro feminino. Não, isso não aconteceu no século passado: foi na quinta-feira (dia 9), da semana passada.

Ao ler a notícia, pensei no apartheid dos Estados Unidos que acontecia até a década de 60, com aquele horror de segregação racial em sanitários, escolas e até em cadeiras de ônibus. Aliás, não gosto nem do termo raça. Quem tem raça é cachorro, gato, vaca, cavalo… Ser humano é gente. E gente é tudo igual, seja branca, negra, hétero, gay, alta, baixa, gorda, magra, rica, pobre, deficiente física ou não… Fiquei muito feliz de constatar, via Facebook, que um bocado de gente pensa assim.

E não deixa somente no plano das ideias: faz questão de se manifestar contra a proposta estapafúrdia de discriminar a moça até no momento das necessidades fisiológicas ou de um simples retoque na maquiagem. Não só pelas questões filosóficas, mas também pelas de ordem prática: as cabines de um banheiro feminino são fechadas. As pessoas só se vêem no corredor, ao usar a pia e nos espelhos.

Como pode alguém se incomodar em dividir o espelho com outra pessoa? Ou de lavar as mãos com o mesmo sabão? Mas, a melhor reação foi mesmo a do Shopping Barra. Em comunicado oficial, a administração do estabelecimento disse que “entende que as questões relativas à compatibilização da identidade de gênero e, de forma mais ampla, as relativas à liberdade de orientação sexual, estão intimamente relacionadas com os chamados direitos da personalidade e, portanto, com a própria dignidade da pessoa humana”.

Ou seja: não permitiu que fizessem mais essa violência contra a moça, que apenas estava existindo e trabalhando com outras tantas naquele emaranhado de lojas. Foi uma atitude linda – e de grande importância – em um mundo tão omisso.

Serve de exemplo para um monte de gente. Afinal, muitos sabem daquele chefe que faz assédio moral e humilha os subordinados ou do menino que faz bullying com os colegas. Mas poucas pessoas conseguem fazer algo para mudar tais situações. Especialmente aquelas que têm capacidade – e recursos – para isso.

Artigo do jornlaista Victor Villarpando publicado originalmente no Correio da Bahia do dia 17 de janeiro de 2014.