Socióloga investiga como o gênero e a sexualidade refletem no mundo do Direito

Genilson Coutinho,
27/11/2013 | 09h11

Especialista na área de Sociologia das Profissões, Maria da Gloria Bonelli investigou empiricamente as relações entre as profissões jurídicas e o ingresso de mulheres e da homoafetividade nas carreiras públicas e na advocacia privada em São Paulo. Seu ponto de partida foram indagações a respeito do impacto do profissionalismo sobre essas diferenças e vice-versa, como o gênero e a sexualidade refletem no ideário dominante no mundo do Direito.

Os resultados são agora apresentados em “Profissionalismo, gênero e diferença nas carreiras jurídicas”, lançamento da EdUSFCar. O livro desvenda aquilo que ideologicamente foi construído como separado: de um lado, o profissionalismo, a neutralidade da expertise, a dimensão pública, impessoal e objetiva; do outro, os marcadores da diferença, sua restrição ao privado, pessoal, subjetivo.

Essa lógica profissional continua sendo a mesma? Continua predominando a visão de que na profissão o que conta é o saber, a competência técnica superando diferenças que não medem o desempenho? O gênero e a sexualidade foram neutralizados pelo profissionalismo? Houve mudança nesses valores em decorrência da composição mais plural das carreiras?

Cada capítulo do livro aborda um perfil profissional. O primeiro dedica-se à magistratura estadual e a federal em São Paulo; no segundo, a clivagem se dá entre a advocacia privada e a carreira pública da magistratura no que diz respeito às percepções da diferença. Em seguida, a atenção se volta aos promotores e procuradores de Justiça de São Paulo e para os procuradores federais atuantes neste Estado. No quarto, o foco recai sobre dois órgãos em que há expressiva participação feminina: a Defensoria Pública e a Procuradoria Geral do Estado de São Paulo.

Nas conclusões, a autora aponta o ingresso da diferença nas profissões analisadas tem impactos distintos, “mas todas elas apresentam-se interseccionadas pelos marcadores sociais que vão descentrando a identidade profissional de uma posição fixa no núcleo do self”. O momento de consolidação do profissionalismo é um fator que influencia a maior ou menor abertura à diversidade. “Se as portas de entrada da carreira foram fechadas pela lógica profissional predominante antes da incorporação de mulheres e da homoafetividade, observa-se maior estratificação por gênero no interior da profissão. Se a inclusão da diferença antecede tal fechamento, a carreira se apresenta menos estratificada segundo essas marcas, não conformando guetos femininos ou segmentações generificadas”, explica a socióloga.

Sobre a autora
Maria da Gloria Bonelli é formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1979), com doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Campinas (1993), e bolsa sanduíche na Northwestern University (1991). Desenvolveu pós-doutorado na American Bar Foundation, Chicago (1996) e no Instituto Internacional de Sociologia Jurídica de Oñati, País Basco (2006). Atualmente é professora titular do Departamento de Sociologia, da Universidade Federal de São Carlos.