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Sífilis: casos crescem 80% nos EUA e chegam a patamares de 1950

Redação,
02/02/2024 | 01h02

A sífilis, antes quase eliminada nos Estados Unidos, continua a ressurgir, atingindo a taxa mais elevada de novas infecções registada desde 1950, informaram os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) nesta terça-feira.

Mais de 207 mil casos foram diagnosticados em 2022, último ano para o qual há dados disponíveis. Isso representa um aumento de 80% desde 2018 e 17% em relação ao ano anterior, de acordo com um novo relatório.

As taxas dispararam em todas as faixas etárias, incluindo recém-nascidos. Em novembro, o CDC disse que mais de 3.700 casos de sífilis congênita foram notificados em 2022, cerca de 11 vezes o número registrado há uma década. A doença causou 231 natimortos e 51 mortes infantis em 2022.

Causas

Os especialistas americanos apontaram uma série de razões para o aumento contínuo da sífilis e outras ISTs nos EUA e em outras partes do mundo.

O consumo de substâncias, que está ligado a comportamentos sexuais de risco, aumentou. Com uma melhor prevenção e tratamento do HIV, o uso do preservativo saiu de moda — diminuindo cerca de 8 pontos percentuais entre 2011 e 2021 entre estudantes do ensino secundário, por exemplo.
A sífilis tem aumentado mesmo em países com cuidados de saúde nacionais, porque “os serviços de saúde sexual continuam inadequados em relação às necessidades em praticamente todos os lugares”, disse Jay Varma, diretor médico da Siga Technologies e ex-vice-comissário de saúde de Nova York.

— Quando você perde um caso, acaba com mais dois casos, e se perde dois casos, acaba com quatro — acrescentou. —É assim que as epidemias crescem.
— A epidemia de sífilis afeta quase todas as comunidades, mas alguns grupos raciais e étnicos sofrem mais devido às desigualdades sociais de longa data —disse Jonathan Mermin, diretor do Centro Nacional para o HIV, Hepatite Viral, e Prevenção da Tuberculose no CDC.

Se não for tratada, a sífilis pode danificar o coração e o cérebro e causar cegueira, surdez e paralisia. A infecção durante a gravidez pode causar aborto espontâneo e natimorto, e os bebês que sobrevivem podem ficar cegos, surdos, ou ter graves atrasos no desenvolvimento.

A administração do presidente americano, Joe Biden, tomou várias medidas num esforço para conter as ISTs. No ano passado, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos criou um grupo de trabalho nacional para a sífilis, que se concentra nas 14 jurisdições com as taxas mais elevadas.
O CDC propuseram a prescrição de doxiciclina, um antibiótico amplamente utilizado, para homens gays e bissexuais e mulheres trans que tiveram relações sexuais desprotegidas. A Food and Drug Administration (FDA, agência similar à Anvisa) permitiu temporariamente a importação de uma alternativa ao tratamento da sífilis Bicillin L-A, que está em falta nos EUA.

Cerca de 86% dos casos de sífilis foram diagnosticados fora das clínicas de saúde sexual em 2022. Isto sugere que o controle da epidemia exigirá que médicos de cuidados primários, serviços de emergência, centros de saúde comunitários e programas correcionais e de tratamento de drogas façam o rastreio da infecção.

Brasil

Segundo o Boletim Epidemiológico Sífilis 2023, do Ministério da Saúde, de 2012 a 2022, foram notificados no país 1.237.027 casos de sífilis adquirida, 537.401 casos em gestantes, 238.387 casos de sífilis congênita e 2.153 óbitos por sífilis congênita. Houve aumento na taxa de detecção de sífilis adquirida de 2012 a 2022, exceto em 2020, provavelmente em decorrência da pandemia de covid-19.

O boletim também indica aumento em casos e taxa de detecção de gestantes com sífilis, de 2012 a 2022. A Região Sudeste é a campeã, com 248.741 casos registrados, seguida do Nordeste, com 112.073.

Fonte: O Globo