Comportamento

São Sebastião, o santo que é ícone da comunidade LGBTQIA+

Padre Alfredo Dorea,
20/01/2022 | 13h01

*Por Padre Alfredo

Foi Frei Bartolomeu quem pintou um quadro para o altar da igreja de São Marcos em Florença com a figura de São Sebastião, um belo jovem amarrado a uma árvore, com o corpo trespassado por flechas e coberto apenas por uma tanga. O clero correu para escondê-lo ao saber, no confessionário, que muitas mulheres “pecaram ao vê-lo”.
Dizem que o São Sebastião histórico não era jovem nem atlético, mas capitão de meia-idade e corpulento. Foi condenado à morte pelo imperador Diocleciano por tentar converter os romanos ao cristianismo. Retratam-no amarrado a uma árvore, com as suas mãos amarradas sobre a cabeça, sua carne perfurada, seus olhos chorosos olhando para o céu, como que vivendo os seus últimos momentos.

Sair do armário: Um doloroso processo de tortura moral e psicológica

Mas São Sebastião não morre naquela circunstância. Sua história continua. As piedosas mulheres cristãs foram resgatá-lo e o encontraram vivo. Curaram-no e ele se recuperou, tendo voltado ao seu torturador para censurá-lo por seu paganismo. O imperador ordenou seu apedrejamento e o seu corpo foi jogado na Cloaca Máxima, em Roma

A partir de 1877, São Sebastião passou de estampas religiosas para capas de revistas gays. Oscar Wilde foi um pioneiro da erotização do mártir, depois de contemplar “O Martírio de San Sebastiano”, de Guido Reni, no Palazzo Rosso, em Gênova. Oscar Wilde descreveu São Sebastião em um célebre soneto, como “um menino encantador de cabelos escuros com cabelos frescos e lábios vermelhos “. 

O escritor Richard A. Kaye, em seu texto ‘Losing his religion, situa a transformação de São Sebastião em ícone da cultura homossexual no final do século XIX. “Os gays viram imediatamente em Sebastião

 um anúncio comovente do desejo homossexual (na verdade, um ideal homoerótico) e um retrato típico de um homem reprimido e torturado”.

*Padre Alfredo Dorea é um anglicano amante da vida, da solidariedade e da justiça social. Com os movimentos populares, busca superar todo preconceito e discriminação. Gosta de escrever e se comunicar.