Sala Vip:Modelo da capa da revista Trip falou ao Dois Terços

Genilson Coutinho,
27/10/2011 | 00h10

Sergio e Bruno na comentada capa da Trip

O convidado da sala Vip desta semana é o surfista e DJ Sergio Cardoso, que aparece na capa da edição de outubro da revista Trip dando um super beijo em seu namorado. O clic ilustra uma edição totalmente dedicada à diversidade e que já entrou para historia como a publicação brasileira mais comentada nas redes socais, especialmente no meio LGBT.

Nesta entrevista ao Dois Terços, Sergio falou sobre a repercussão do beijo gay estampado na capa de uma publicação hetero, conta um pouco de sua relação com Bruno (o namorado) e da felicidade de viver esse grande amor. Segundo ele, a rotina depois da capa da revista não mudou muito, mas o assedio dos amigos e os “parabéns” não param de chegar.

No próximo sábado Sérgio desembarca em Salvador para comandar mais uma noite na San Sebastaian. É a segunda passagem dele na casa onde promete: não deixará ninguém parado.

DT A capa da revista Trip virou, de certa maneira, uma vitória para a comunidade LGBT diante de tantos preconceitos em torno do beijo entre dois homens. Como tem sido a reação das pessoas com você?
A reação foi muito carinhosa. Todos os amigos, o pessoal do facebook e até mesmo os blogs e sites da cena apoiaram, comentaram ou de alguma forma compartilharam. Acho bacana que a foto tenha servido de inspiração e de orgulho pra muita gente. Mas o que me surpreendeu mesmo foram os comentários de leitores da revista, na sua maioria homens (heteros), apoiando a foto da capa.


DT Um surfista e um lutador em um beijo que já entrou para história da comunidade LGBT. Como foi a química entre vocês?
A gente tá casado (moramos e trabalhamos juntos) há dois anos e temos uma relação bastante madura e estável. A química certamente foi o que nos aproximou num primeiro momento, mas, ao contrário do que a maioria dos gays procura, tanto eu como o Bruno, acreditamos que o melhor sexo é com a pessoa pela qual estamos apaixonados, que está ao nosso lado pro que der e vier. Essa coisa de parceiro mesmo com quem você divide tudo.

DT Como surgiu esse convite? Você topou na hora ou houve dúvidas em face da ousadia da revista?
Ele veio justamente da filha de uma ex-namorada minha que é a jornalista que assina a matéria. O convite inicial era apenas para falar sobre o assunto. No final parece que o editor gostou do papo e nos convidou a fazer algumas fotos. Discutimos (eu e Bruno) e concluímos que seria legal já que se tratava da Trip, uma revista com um público que, a princípio não seria muito simpático a esta discussão. Topamos o desafio mesmo sem ter, naquele momento, a menor ideia de que poderia rolar um beijo e muito menos que a foto viraria capa da Revista.

DT A revista Suigeneris também estampou, em uma das suas edições, um beijo gay e foi lacrada com saco preto. Você acredita que a ala conservadora da sociedade vai se manifestar contra a publicação?
Tenho visto algumas pessoas, evangélicos em sua maioria, criticando a revista. Mas a tal ala conservadora vem perdendo força e representação na sociedade. É claro que sempre teremos os Bolsonaros & afins, mas cá entre nós, eles parecem cada vez mais patéticos.
DT A comunidade de Surfista LGBT aos poucos vai aparecendo. É mais complicado se assumir em um universo de predominância masculina como o mundo do surf?
Bastante. No geral os heteros não estão muito acostumados a conviver tão de perto com a ideia de que dois homens, com gestos e atitudes masculinas, possam ter uma relação amorosa. Acho isso tudo meio hipócrita, pois tenho certeza de que 90% dos caras que eu conheço já fantasiaram ou tiveram alguma experiência no assunto. Do ponto de vista freudiano não há muita diferença entre o desejo e a concretização do mesmo. Sob esta ótica, não se reconhecer nos seus próprios desejos é uma das maiores burrices e atrocidades que uma pessoa pode fazer consigo mesma.

DT Além de surfista você também é DJ e se apresentará em Salvador na San Sebastian no próximo dia 29 de outubro. O que você está preparando para o público de Salvador?
Esta será a segunda vez que me apresento na San Sebastian. Acho que os baianos podem apostar em mais uma noite memorável. A “case” tá recheada de novidades como sempre. Não costumo preparar nada porque prefiro ler a pista e confesso que todas as vezes que preparei algo, na hora H, mudei de ideia. Toco regularmente com 3 cdjs + processador de efeitos, o que  me permite (re)inventar algumas coisas na hora. Meu papel como DJ é fazer as pessoas se divertirem e pra isso a gente tem que ter um bom olhar sobre a pista.

Sergio presença confirmada na San Sebastian no próximo sábado

DT Para Lino Bocchini, redator-chefe da revista Trip, “a homofobia é crime e intolerância sexual tem que ter punição pesada”. O que você pensar sobre esse assunto.
Olha…Mesmo sendo personagem desta discussão e concordando em gênero e grau com o Lino, às vezes eu acho que no fundo não estamos, a sociedade em geral, discutindo o que realmente deveria ser discutido. Não gosto muito da forma como geralmente se lida com isso. Tenho problemas filosóficos com generalizações e lutas coletivas. Afinal, trata-se apenas de defender, com todas as garras, uma cultura onde se respeite a individualidade, a cidadania e a liberdade.