Sala VIP

Sala VIP no mês da mulher com Vida Bruno

Redação,
23/03/2012 | 11h03

No mês dedicado à mulher, o site Dois Terços entrevista Vida Bruno, um exemplo a ser seguido por sua luta em defesa da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais (LGBT) na Bahia. Bacharel em História pela Universidade Católica da Bahia (UCSAL) e doutoranda em Ciências Políticas pelo Programa Eiffel, na França, Vida se destaca também por sua colaboração em pesquisas no meio acadêmico. Ela é ainda a coordenadora de Políticas Públicas no Centro de Referência Formação em Cidadania de Pau da Lima.

Dois Terços – Este mês, celebramos o  dia internacional da mulher. Quais avanços você celebraria nesta data especial?

Vida Bruno – Vou começar falando sobre a importância da “autonomia e igualdade para as mulheres”, ressaltando que a independência econômica feminina é uma preocupação mundial. Este é um dos maiores avanços no sec. XXI, mas se faz necessário implementar políticas públicas para as mulheres que ajudem no combate à pobreza e à miséria no Brasil e no mundo. As reivindicações e mobilizações das mulheres contra a discriminação e pela construção de um mundo igualitário é a marca indelével do dia internacional das mulheres. Apesar de ser maioria numérica, as mulheres continuam sendo minoria quanto à representatividade política e social. Eu ainda vejo de uma forma muito tímida o acesso feminino aos espaços de poder. Aqui na Bahia com a promessa de um governo com perspectivas mais democráticas em atual secretariado, a representação feminina é ínfima. Pra que tenhamos mudanças reais que se traduzam em mudanças culturais rumo à igualdade, precisamos mexer na Base que é a educação.

DT – Como você tem visto o movimento LGBT na Bahia no que tange à comunidade lésbica na cena local?

VB – Algumas entidades estão unicamente compromissadas com outros projetos que se fecham e não explicitam os debates ao corpo social, nem entram no enfrentamento das discriminações vivenciadas pelas mulheres lésbicas  no ambiente doméstico e, no mundo público. Estes grupos se intitulam de  Lésbicas Feministas e não exercem uma função transformadora nem revolucionária, revestidos com suas armaduras do extremismo e da segregação. Precisamos de uma junção de forças, pois a divisão das ações fraciona a luta do movimento LGBT. O movimento LGBT vem de certo modo reproduzindo críticas relacionadas a hierárquicas e ou subordinação de mulheres lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais aos homens gays em suas respectivas atuações no movimento LGBT. Isto acaba contribuindo para a menor visibilidade das lésbicas em relação aos homens gays, travestis e transexuais de uma forma geral.

DT – Nos últimos anos as mulheres conquistam e vem conquistando cada vez mais espaço na sociedade mesmo com todo preconceito ainda existente.  Qual sua visão neste campo de crescimento feminino?

VB – Tivemos um crescimento ainda tímido em todos os setores do mundo e no Brasil não foi diferente, o aumento nos investimentos nas áreas da saúde e educação e acessibilidade a profissionalização da mulher possibilitaram a materialização de alguns sonhos femininos. Mas lamentavelmente presenciamos no ultimo processo eleitoral o que elegeu a primeira presidenta, alguns debates que mostraram claramente onde a sociedade guarda o seu preconceito. Não se pode falar que o Brasil alcançou a emancipação da mulher e a igualdade de gêneros, e que muito da vitória da ex-ministra da Casa Civil se deve à popularidade de seu padrinho político, o Lula independente do fato dela ser mulher. No entanto tivemos uma consolidação do que podemos  chamar de ruptura de valores, ou de tradições, e a eleição de Dilma nos  ajudou.

DT – A saída do armário para os rapazes  é sempre algo muito traumático e complicado para famílias. Há alguma diferença quando a mulher resolve sair do armário?

VB – A pressão que a família exerce sobre a sexualidade feminina sempre é mais opressora, pois no projeto familiar pai é pai, mãe é mãe, e ambos nasceram para serem avós e este sentimento está mais associado à coexistência do sexo feminino no seio da família patriarcal.  Vide a expressão: “Segurem suas cabritas, pois meu bode está solto”. A liberação da sexualidade masculina é histórica, como também o seu respectivo direito a variações de modo que para nós mulheres a responsabilidade é tamanha, e a cobrança muito maior.

DT – Tanto se sonhou em ter uma mulher no comando do Brasil principalmente pela comunidade LGBT no Brasil, porém a gestão da presidenta não tem agradado nem um pouco a comunidade gay brasileira. Você acredita que falta sensibilidade no governo Dilma nas questões inerentes aos LGBTs?

VB – Em campanha Dilma prometeu que lutaria para garantir o respeito aos direitos humanos, inclusive os da comunidade. A presidente, no entanto, ainda não conseguiu grandes avanços no seu primeiro ano de mandato. A presidenta cedeu a pressões de setores religiosos e não abriu o debate para as reivindicações da comunidade LGBT, uma postura que, provoca certa indignação. Esta postura é bastante diferente da adotada pelo ex-presidente Lula, que teria sido mais aberto ao diálogo e receptivo aos pedidos de nossa comunidade.
DT – O Grupo Gay da Bahia (GGB) completou esse mês 32 anos de historia nas lutas em prol da comunidade gay  da Bahia. Você acredita que falta espaço para as mulheres na entidade?

VB – O GGB é um marco na luta em prol da cidadania LGBT. Na verdade, esta instituição, da qual muito me orgulho, historicamente foi quem deu o pontapé inicial com muita coragem a luta anti-homofóbica no Brasil. O GGB é também responsável pela ampliação do debate a cerca do mundo lésbico quando aceita dividir espaço físico e caminhar conjuntamente com o Grupo Lésbico da Bahia (GLB), sendo assim corresponsável pela introdução do debate sobre políticas públicas para mulheres lésbicas no estado da Bahia. Todo bom militante e todas as entidades mais recentes beberam na fonte não apenas bibliográfica, mas nos exemplos da luta, obstinação e persistências executados pelo GGB.

DT – Quais são as entidades de defesa das mulheres lésbicas na Bahia?

VB – O Grupo Lésbico Diálogo da Bahia (GLDB) e o Dialogo e diversidade LGBT/Bahia.