Sala VIP

Sala Vip: Israel e Milton falam sobre a relação de afeto com seus filhos

Genilson Coutinho,
10/08/2019 | 23h08
As grandes histórias de amor merecem ser contadas principalmente quando esse amor cresce em família. E é sobre o amor de Israel Campos e Milton Julio Carvalho e seus dois filhos Rafa e Davi que vamos celebrar o Dia dos Pais. Tudo começou em 2009 quando Israel entrou na universidade e conheceu Julio, mas com o medo e ideia que Deus não o amaria mais, ele relutou até chegar ao primeiro registro na memória 15/11, data do primeiro beijo do casal.

A história nasceu na Universidade Federal da Bahia. “Quando fui me matricular em 2009 na graduação, vi aquele homem charmoso, grisalho e senti uma energia muito forte. Fomos professor e aluno posteriormente, amigos, nos amamos muito, mas algo nos impedia de dar sequer um beijo: o fundamentalismo religioso. Eu achava que não poderia ser gay e amado por Deus, relutei muito em assumir esse amor para mim e para ele, de viver esse amor. Ficamos por meses saindo, mas sem ter nenhum contato físico, até que, com ajuda da arte, consegui me libertar e finalmente demos nosso primeiro beijo. Foi em 15/11, proclamação da república e da liberdade do nosso amor!“, conta Israel.

A família abriu o coração ao Dois Terços nessa Sala Vip especial de Dia dos Pais e nós vamos compartiilhar com vocês essa história linda.

Dois Terços: Como nasceu o desejo de ser pai?

Israel Campos: Sempre tivemos desejo de ter filhos, Rafa chegou antes de Davi e foram adotados por Júlio. Antes de 1 ano de adotados, eu comecei a namorar com Júlio, depois tudo foi acontecendo naturalmente, a paternidade minha com os meninos, eles se tornaram meus dependentes e meus filhos! Nesse ano completamos 9 anos de família, os quatro juntos.

DT: Como lidar com homofobia e preconceito da sociedade diante de um casal gay com dois filhos?

Israel: O maior desafio de ter dois filhos no Brasil é o racismo brasileiro. Nossos filhos são negros e o racismo sempre se fez mais presente do que a homofobia. Possivelmente por Júlio ser branco e com uma profissão respeitada em regra pela sociedade, e por eu ser negro pardo e também com uma profissão respeitada em regra pela sociedade,  a homofobia social nunca foi direta para nós, mas o racismo foi. Já passamos por situação de diretora de escola exigir que cortássemos o cabelo black power do nosso filho, por ele estar “na periferia da escola”, pessoas na rua já tocaram no cabelo do nosso filho achando que era “estranho”, seguranças  em estabelecimentos comerciais que seguem nosso filhos se eles estão mais distante de nós. Temos medo de deixar nossos filhos saírem nas ruas, medo da violência criminal, medo da violência policial, medo do racismo, que mata. Queremos nossos filhos e todos os jovens negros vivos nesse país, e isso se resolve com política pública de reparação ao racismo histórico brasileiro e com incentivos à educação fundamentada nos Direitos Humanos, à arte e ao esporte.

DT: Família tem receita?

Israel: Falamos que nossa família é uma família geleia com pimenta, longe de ser margarina. É doce, é forte, é singular, como cada família é (ou deveria ser)! Temos liberdade para falar sobre todos os assuntos dentro de casa, respeitamos muito a individualidade de cada um, brigamos, pedimos desculpas, mas o mais importante é saber que esse amor que sentimos uns pelos outros é incondicional. Não amamos “se”, amamos e ponto! E buscamos promover esse amor para além da família. Todos nós quatro perdemos na vida, mas ás vezes é preciso perder para se ganhar, e foi isso que aconteceu com nós quatro: fundamos uma família e ganhamos amores para toda a vida! Feliz dis pais, das(os) pães, das mães, e pra todas as famílias! Feliz dia dos pais, das(os) pães, das mães e pra todas as famílias!