Próxima geração já deve conhecer um mundo sem Aids

Genilson Coutinho,
23/07/2012 | 15h07

A ONU divulgou nessa semana um relatório otimista sobre o combate à Aids e o governo americano aprovou pela primeira vez um remédio de prevenção ao vírus. Já é possível imaginar um mundo sem Aids?

Um homem que já viu o dia que iria morrer. Um americano que já teve Aids. Sim, não tem mais. Ele é um ex-portador do vírus HIV. Ele encontrou a cura. Timothy Ray Brown está no Fantástico, direto de Washington, capital dos Estados Unidos. Na cidade, ele vai participar 19ª Conferência Internacional da Aids. 

A partir deste domingo (22) até sexta-feira (27) médicos, pesquisadores, políticos de vários países vão trocar ideia sobre essa doença que desafia o mundo há mais de 30 anos. Hoje, a comunidade cientifica já sabe muito bem como tratar o HIV e que chegou a hora de mudar o foco. Este é o momento de se concentrar na busca da vacina contra a Aids e na cura da doença.

A geração que deverá conhecer o mundo sem Aids já está nascendo. Dela faz parte a filha do casal Marta e Greicio, ambos soropositivos.

“Decidi ter um filho. Era um sonho nosso que decidimos realizar”, conta Marta Fernandes. “É difícil quando você tem uma doença crônica. É difícil lidar com o preconceito. Foi um processo meio longo”, acrescenta.

A declaração foi dada ao Fantástico em janeiro de 2011. Ester, filha de Marta e Greicio, nasceu no dia 3 de junho de 2011 e não é portadora do vírus HIV.

“Ester está boa, sadia e só dá alegria para nós”, ressalta a mãe.

“Nós podemos pensar na realidade de um mundo sem Aids, só precisamos implementar todas as ferramentas que já temos”, diz Anthony Fauci, Diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA.

Essas palavras ele vai repetir, nesta segunda, durante a 19ª Conferência Internacional da Aids, em Washington.

Fauci refere-se aos avanços do tratamento e prevenção. Entre eles, os cuidados tomados por Marta, que fez com que a chance de ela transmitir o vírus a Ester fosse quase zero.

A previsão da Organização das Nações Unidas é que até 2015, todas as grávidas terão acesso aos remédios que combatem o vírus da Aids. Isso vai significar praticamente um mundo sem bebês com HIV.

“Nós caminhamos rapidamente para um cenário bastante favorável mesmo sem a vacina, porque a vacina é algo que poderá vir a acontecer a médio, talvez longo prazo”, explica Pedro Chequer, Coordenador da Unaids/Brasil

A ciência também já descobriu que um paciente soropositivo que faz o tratamento corretamente reduz em 96% a chance de passar o vírus durante uma relação sexual. Dado que também ajuda a explicar por que a taxa de transmissão vem caindo anualmente.

“Hoje no Brasil, nós temos mais de 200 mil pessoas que se tratam pela infecção do HIV e da Aids”, destacou Alexandre Padilha, Ministro da Saúde.

Em 2011, 2,5 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV em todo o mundo, 20% a menos que em 2001. Situação que faz com que cresça o número de casais como Felipe e José. Felipe sabe que é portador do vírus HIV desde 2006. Há três anos, ele conheceu José e começaram a namorar. José não era portador do vírus. E assim continua.

“Escutei de um grande amigo meu, ex-grande amigo meu: ‘como você pode pensar em entrar nesse relacionamento, que não tem futuro, porque sabe-se lá quanto tempo ele vai durar’”, conta o arquiteto José Miranda.

“Eu acredito muito na cura. Mas, eu sonho com a cura contra o preconceito”, ressalta Felipe Gomes, ativista de direitos humanos.

As barreiras contra a expansão do contágio não param de aparecer. Depois de uma pesquisa realizada em diferentes partes do mundo, os Estados Unidos aprovaram esta semana a utilização do remédio ‘Truvada’ como auxiliar na prevenção.

Essa pílula já é usada em 93 países como remédio para os pacientes soropositivos. Estudos indicaram que se tomado por uma pessoa sem o vírus as chances de ela contraí-lo são reduzidas em até 73%. Júlio foi um dos voluntários da pesquisa no Brasil.

“Hoje a gente busca novas metodologias de prevenção e a própria cura da Aids. Acho que cada um pode fazer a sua parte de alguma forma”, diz Julio Moreira, presidente do grupo Arco-Íris.

Após sete meses em tratamento, o resultado no exame de Júlio continua sendo negativo. Mas ele afirma que, durante este período, não deixou de usar também a camisinha, que é ainda a única forma 100% garantida de prevenção.

Sobre a cura, a última grande notícia aconteceu em 2010. Foi quando médicos conseguiram eliminar totalmente o vírus do corpo de um homem.

“O médico disse que não tinha mais nenhum resquício de HIV no meu organismo, mas eu só acreditei quando vi a notícia em um jornal de medicina inglês”, conta o americano Timothy Ray Brown.

Brown, na altura HIV positivo, foi diagnosticado com leucemia e precisou passar por um transplante de medula. O doador da medula tinha uma mutação genética muito diferente e era resistente ao HIV. Um tratamento raro, caro, arriscado e que dificilmente pode ser feito mais uma vez. Mas além de curar o americano, ajudou cientistas a direcionarem melhor as pesquisas.

O médico de Timothy foi Steven Deeks, um dos grandes pesquisadores sobre HIV. Ele conta que essa experiência permitiu aos pesquisadores puderem dizer que o momento atual não é para gastar energia tentando controlar o vírus. É concentrar esforços para matar o HIV.

Fonte: Fantastico

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