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Procedimento permite que pais soropositivos tenham filhos sem HIV; saiba como funciona

Genilson Coutinho,
14/12/2015 | 10h12

Após processo de desinfecção do HIV, os espermatozoides selecionados passam pela fertilização in vitro (Foto: Divulgalção)

Quando a empresária LB (nome preservado por pedido da entrevistada) soube que estava grávida, com os temores naturais de toda mãe de primeira viagem, somou-se o medo de que a pequena Íris fosse portadora do HIV. O marido – portador de hemofilia – rezava diariamente para que ela não precisasse passar pelo que ele passava.

Durante toda a infância da filha, qualquer resfriado comum era visto com muito cuidado. O tempo passou e a garota nunca apresentou o vírus, mas nunca deixou de ser motivo de preocupação para os pais. Na época, o combate ao HIV não contava com tantos recursos e os casais sorodiscordantes (quando apenas um tem o HIV) tinham que contar com a coragem e poucas possibilidades terapêuticas que garantissem a saúde do bebê recém-nascido.

Hoje, além do avanço no tratamento e da possibilidade de Profilaxia Antirretroviral Pós-Exposição de Risco e Profilaxia Antirretroviral Pré-Exposição de Risco, os casais – sejam soropositivos ou sorodiscordantes que desejarem ter filhos têm a sua disposição a lavagem de sêmen para evitar a contaminação da criança.

De acordo com a especialista em reprodução humana e diretora médica do Instituto Valenciano de Infertilidade (IVI) Genevieve Coelho, a lavagem de sêmen é a técnica de reprodução humana indicada para impedir a transmissão do HIV. “Como o vírus se encontra no plasma seminal e outras células, mas não nos próprios espermatozoides, é possível a partir da lavagem do sêmen e preparação adequada, fecundar o óvulo com um espermatozoide livre do HIV”, diz a médica.

Método

Ela reforça que para possibilitar a gravidez sem vírus, são isolados o espermatozoide do plasma seminal e as outras células que poderiam ser portadoras do HIV. Após a separação e comprovação do sucesso do procedimento, a amostra passa por um período de quarentena para garantir que a lavagem de sêmen seja efetiva, através de uma nova avaliação da amostra antes de considerá-la apta para a fecundação.

O ginecologista e diretor do Centro de Medicina Reprodutiva (Cenafert), Joaquim Lopes, ressalta que para se submeter à técnica, o paciente precisa estar em tratamento e ter zero de carga viral. Outro critério importante é não ser vasectomizado em virtude da redução na quantidade de espermatozoides.

“A técnica ainda não é feita pelo Sistema Único de Saúde, mas muitos pacientes têm conseguido realizar o procedimento por meio de ações judiciais”, completa, ressaltando que o método é seguro.

Proveta

Uma vez que o sêmen esteja livre da contaminação do vírus, o passo seguinte é a preparação para a fertilização in vitro (FIV).

“A forma mais segura e eficaz de gravidez após a lavagem de sêmen é a FIV através da técnica conhecida como injeção intracitoplasmática de espermatozoide, onde as unidades selecionadas são  introduzidas diretamente no óvulo com a ajuda de uma pipeta, que é uma espécie de agulha minúscula”, explica Genevieve.

O infectologista Claudilson Bastos ressalta que ao longo da gestação, a mãe(se for soropositiva) permanece fazendo o tratamento e a criança – independente do estado clínico materno – recebe no momento do nascimento mais uma dose de medicação para garantir uma segurança maior.

“É importante salientar que a lavagem do sêmen é mais segura para o paciente que é apenas portador do HIV e que não desenvolveu a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida”, esclarece o médico, destacando que para os casos de mães soropositivas, a amamentação não é recomendada pelo risco que representa. “É claro que, hoje, a situação é muito mais tranquila, no entanto ainda exigirá dessas famílias investimento e cuidados especiais”, finaliza o infectologista.

Do Correio