Palestrante Luiz Mott fala sobre o movimento homossexual no Brasil e no Tocantins

Genilson Coutinho,
14/09/2013 | 11h09

Durante décadas, o movimento homossexual no Brasil vem tentando erradicar a violência e o preconceito que existe contra o grupo. Pensando em mostrar a diversidade cultural que há no país e também no Tocantins, o Grupo LGBT Afrodite de Araguaína está realizando nesta semana a 1ª Semana da Diversidade, com o tema “Cultura e Gênero em Foco”. Hoje à noite, a partir das 19h30, no anfiteatro da Universidade Federal do Tocantins (UFT), em Araguaína, será realizada a palestra “Política Públicas LGBT”, que será ministrada pelo professor Dr. Luís Mott (UFBA).

O professor Luiz Mott há uma década é ativista do Movimento Homossexual Brasileiro. Mott é paulistano, bacharel em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo, mestre em Etnologia pela Sorbonne, doutor em Antropologia pela Unicamp e professor titular aposentado do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Mott é autor de duas centenas de artigos e 15 livros, entre os quais: Escravidão, Homossexualidade e Demonologia; O Lesbianismo no Brasil; Gays, Virgens e Escravos nas garras da Inquisição; Rosa Egipcíaca: Uma santa africana no Brasil; Violação dos Direitos Humanos dos Homossexuais no Brasil; Crônicas de um gay assumido; A Cena Gay em Salvador em tempos de Aids; Homossexualidade: Mitos e Verdades; Bahia: Inquisição e Sociedade; Sergipe Colonial e Imperial.

Em entrevista exclusiva ao Portal O Norte, o professor Luiz Mott falou sobre a trajetória da luta do movimento homossexual contra a violência e o preconceito, nestes dez anos em que esteve à frente para promover e defender os direitos dos homossexuais.

Mott
O professor Luiz Mott afirma que nestas três décadas de luta do movimento homossexual, hoje chamado LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), tiveram importantes vitórias, apontando vários acontecimentos que promoveram os direitos dos homossexuais.Segundo Mott, em 1985 o Conselho Federal de Medicina excluiu a homossexualidade da classificação de doenças. Em 1990, mais de 70 municípios incluíram a proibição de discriminação por “orientação sexual” em suas leis orgânicas. Seis anos depois, em 1996, foi a primeira vez que um documento governamental incluiu os homossexuais, no Plano Nacional de Direitos Humanos.

Ainda de acordo com o professor, em 2002, Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro presidente da República a defender publicamente a união entre pessoas do mesmo sexo. Em 2004, Lula criou o programa “Brasil sem Homofobia”. Outra conquista para os homossexuais foi em 2011, quando o STF – Supremo Tribunal Federal reconheceu a união estável homoafetiva. E neste ano, o CNJ – Conselho Nacional de Justiça obrigou aos Cartórios de todo o país a registrar o casamento de homossexuais.

“Felizmente a mídia melhorou na forma de tratar os homossexuais: não mais nos chamam de bichas, viados, sapatões, travecos, mas insiste em tratar as travestis e transexuais no masculino, o que é uma ofensa à identidade e papel de gênero das trans’”, desabafa Mott. “As TVs ainda censuram o beijo gay”, completa.

Segundo o professor, o principal problema é que o atual governo não está acertando em suas políticas públicas para mais de 10% dos brasileiros LGBT. “Vinte milhões de seres humanos que são vítimas de bullying nas escolas, expulsos de casa, discriminados na rua e no mercado de trabalho”, esclarece Mott. De acordo com o professor, o Brasil é o campeão mundial de assassinato de gays e travestis: a cada 26 horas um LGBT é vítima de crime homofóbico, foram 338 assassinatos em 2012; 208 mortes neste ano até agosto. Afirma ainda que 44% dos crimes contra homossexuais acontecem no Brasil.

“Falta vontade política da presidenta Dilma para solucionar os dois principais problemas da população LGBT: os assassinatos e a Aids”, declara Mott. Segundo o professor, enquanto 0,6% dos homens heterossexuais são HIV+, esta cifra sobre para 11% entre os gays. “Há mais riscos de infecção entre os homossexuais do que entre prostitutas e usuários de drogas”, aponta Mott.

Ainda de acordo com o professor, além da omissão governamental em enfrentar a mortandade de gays pela Aids e assassinatos, a presidenta vetou material contra a homofobia que deveria ter capacitado mais de 6 milhões de jovens para evitar o bullying e respeitar a livre orientação sexual dos colegas escolares.

Sobre o Tocantins, o professor Luiz Mott comenta que o Estado reflete a mesma homofobia generalizada observada no resto do país: 33 assassinatos de homossexuais entre 2002-2013, crimes cometidos com requintes de crueldade.

Do Portal do Norte