Oferenda para Iemanjá e o contraste de Salvador é fio condutor do primeiro livro de Paulo Daltro

Genilson Coutinho,
24/02/2014 | 10h02

O primeiro livro de contos do baiano Paulo Daltro não poderia ser diferente; Baianos de todos os Santos é uma exortação ao povo baiano, uma homenagem, uma oferenda feita a Iemanjá. Mas não só a ela. O panteão de deuses do candomblé também são vividamente caracterizado nos desígnios das almas e dos corpos deste povo cheio de ginga e criatividade especiais.

O livro é um passeio pelas ladeiras, pelas ruas e casas históricas de uma Salvador que convive com o novo e a memória de seu passado histórico. Somos conduzidos com cuidado pelas mãos – ou seria pelas memórias afetivas e vividas do autor – que nos revelam a candura e a fortaleza deste povo. Daltro nos prepara em cada conto, como se fosse tecendo os fios de uma rede, por meio de sua memória e registro dos lugares – como se revivesse a sua infância – na qual somos ora pescados como tesouros do mar, ora somos convidados a balançar nessa rede para apreciar com vagar as belezas dessa terra. Às vezes é inarredável, se não concomitante, ser agraciados com essas duas possibilidades.

E é assim que o autor vai tecendo esses fios, convidando-nos a entender uma Bahia histórica, mas realçada pela diversidade de corpos que constituem teluricamente este povo na atualidade. Não deixa de ser também um espaço para refletir sobre uma nova Bahia com as tragicidades e problemáticas de um grande centro urbano. Somos levados a entender a cidade como se descêssemos o elevador de Lacerda para ver o antes e o depois. Somos elevados a entender e harmonizar o alto e o baixo, o passado e o presente.  Portanto, além do passeio turístico pelas explicações etimológicas ou ontológicas de uma terra cheia de referências culturais, Daltro nos conduz por uma Bahia de sotaques e corpos bem casuísticos.

O mar como grande mãe de todos os baianos, a própria Bahia de todos santos que abraça, ou abençoa, com irmanação estes novos baianos. Não é coincidência que a mãe é personagem presente na maioria dos contos do autor, o que revela uma força desta entidade materna. “Nanã, um orixá majestoso, que torna seus filhos seguros nas ações e capazes de estar sempre no caminho da sabedoria e justiça”, tal é a importância da mãe para os personagens do autor.

Por isso ao autor resgata a força dos orixás, como se entre o real e o fictício, como se convivessem em harmonia na própria vida deste povo. A lascívia, a ingenuidade, a descoberta do sexo e o gingado do povo baiano também são temas exaltados em sua prosa. Temas polêmicos também são sutilmente tratados como no conto Entre o pai e o filho. A tragédia do crime de sangue é repaginada, indefinida entre o bem e o mal, mas a redenção ainda é o reparo para o erro. O primeiro amor, relatado delicadamente em Menino do Rio, é revivido pela ressignificação dos papeis dos sujeitos, cobrando uma urgência para se reler o amor dentro de uma homoafetividade constitutiva desses novos sujeitos. Tudo é muito delicado, como se Daltro retirasse um fino e translúcido véu de nossos olhos para enxergar uma outra realidade.

Por esta razão que o livro de Daltro vai descortinando, ao mesmo tempo, o passado e o presente; o trágico e o lírico; o lascivo e o mítico dentro de uma prosa linear, fluida, sem rompantes, mas repletos de peripécias como quem joga capoeira. Baianos de todos os Santos é um mergulho de mãos dadas com Iemanjá neste grande mar que é a Bahia – nossa grande mãe.

 Sobre o livro:

Em cenários diversos, os contos se passam em diferentes bairros da cidade do Salvador, uma série de personagens carismáticos, guiados e conduzidos pelos seus desejos, pelos seus instintos, movidos a forças estranhas e essas forças, que movem a vida desses baianos, são mais estranhas do que imaginamos. Um jovem que provoca a sua própria morte ao tentar matar o seu irmao gêmeo na disputa pelo amor de um turista. Um medico que descobre o sentido da vida ao perder alguns de seus sentidos. Pai e filho adotivos desenvolve uma paixão, uma babá acaba desarmando quatro ladrões usando apenas duas armas, a sedução e uma arma de brinquedo. E os bastidores de um dos camarotes mais badalados do Carnaval de Salvador. Um livro de ficção, com historias fortes, combinada a situações da vida real,  bem descritivas das características de Salvador, mas, que, ao mesmo tempo, tem coisas profundas sobre o ser humano. São historias que o autor ouviu falar, sonhou e ate viveu.

Lançamento:

A publicação será nesta segunda-feira 24, na semana do Carnaval de Salvador. Hoje dia do lançamento o escritor estará online para conversar com os leitores. O livro estará disponível em todas as plataformas; o leitor poder baixar e o seu livro no tablet, ipad, ipod, iphone e samrtphones. Na mesma data, iniciam-se as vendas em grandes livrarias (Saraiva, Cultura, Iba, Kobo, Apple, Amazon) por todo Brasil, na internet, através dos catálogos virtuais das editoras.