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“O trabalho do Pela Vidda RJ vai continuar focando no acolhimento, na prevenção e na dignidade das pessoas com HIV”, diz Marcos Leite ao tomar posse da presidência da ONG

Genilson Coutinho,
01/08/2022 | 21h08

O Grupo Pela Vidda Rio de Janeiro está sob nova direção. Marcos Leite que é ativista pelo SUS e militante do movimento aids tomou no final de julho (26). Antes, o Grupo era presidido pela militante Maria Eduarda Aguiar.

Marcos ficou emocionado ao assumir a presidência e celebrou a oportunidade de poder contribuir de forma ainda mais efetiva na luta e no acolhimento de pessoas vivendo com HIV/aids. Ele terá ao seu lado o ativista e voluntário do Pela Vidda desde 2005 Rene Junior, como vice-presidente.

“É algo surreal”, comemorou o ativista Marcos ao compartilhar parte de sua trajetória no Pela Vidda. Ele conta que soube do projeto através de um amigo, mas que até então nunca havia se permitido de fato conhecer o trabalho realizado pela ONG, e que somente após o falecimento deste mesmo amigo se interessou de fato pelo projeto e ingressou a equipe.
“Participei de uma oficina de capacitação e acabei me voluntariando neste período para atendimento de telefone uma vez na semana durante 2 horas, que era o ‘Disk Aids’ na época, estou aqui até hoje’, relembrou.

“É uma felicidade muito grande voltar à presidência do Pela Vidda. Esta é a casa que me acolheu como pessoa vivendo com HIV, que continua me acolhendo e acolhendo as muitas pessoas que procuram a gente. O trabalho do Pela Vidda Rio vai continuar focando no acolhimento, na prevenção e na dignidade das pessoas que vivem com HIV e Aids”, disse Marcos Leite.
“O que move o Pela Vidda-RJ são pessoas. Estas pessoas vivendo e convivendo com o HIV e aids fazem o Pela Vidda”, completou.

Ao afirmar que em seu mandado seguirá unindo forças nas questões de acolhimento, prevenção e tratamento a este público, ele garante que o apoio a disseminação de informações corretas sobre a doença será um dos principais pilares de sua gestão, pois acredita que é necessário combater a estigmatização e os preconceitos para com as pessoas vivendo com HIV/aids, que ainda são muito presentes nos dias de hoje.

Ele pontua que, predominantemente, pouco se sabe sobre as pessoas que vivem com HIV e suas reais necessidades. E quando proliferadas, as informações vêm carregadas de estimas e preconceito por todos os lados.

“Para mim que era uma pessoa que sabia da minha sorologia já era algo que eu não gostava de falar e que não queria me envolver, então eu acho que para quem não vive com HIV, é pior ainda. Eu costumo dizer para as pessoas que todos nós convivemos com a aids, independente de quem tem ou não a sorologia positiva, mas para a maioria das pessoas, o HIV ainda é um universo distante. As pessoas não querem discutir, não querem conversar mesmo depois de mais de 40 anos da epidemia. Para muita gente a Aids é algo que elas simplesmente não querem colocar ali no seu hall de conversa”, concluiu.

Marcos disse que os preconceitos são passíveis de serem enxergados facilmente no dia a dia. Segundo ele, transpassar essas barreiras é algo muito difícil, principalmente devido à falta de verba, isso tem sido um dos maiores, se não o maior dos impedimentos e obstáculos a serem driblados pelo time. “A gente não tem fonte de renda, os recursos para o HIV são cada vez mais escassos, é muito difícil você conseguir fazer projetos sem ter verba financiada para manter esses projetos. A gente depende muitas vezes de doações de pessoas que vem até aqui e colaboram com a gente, assim como de algumas parcerias do setor privado e de outras organizações também para conseguir manter tudo isso.”

O presidente ainda levanta o seguinte ponto: vivemos um momento onde a maioria das pessoas acreditam erroneamente que a aids está controlada, e que por estar sob controle, não há o que ser feito. O ativista vai na contramão dessa ideia e acredita que há sim diferentes demandas e muitos gargalos ainda a ser alcançados, e concorda que isso só será possível de ser viabilizado por meio da união de diferentes ONGs, lideranças do poder público e sociedade civil. Especialmente as instituições do terceiro setor, pois foi essa união que se manteve atenta, questionou com força e conseguiu liberar, por exemplo, os antirretrovirais para as pessoas vivendo com HIV/aids. “Isso foi importantíssimo na época, e eu acho que novamente tem que ser repensado como os movimentos agem. “

Questionado se o Estado do Rio de Janeiro e a nação brasileira em geral se tornaram espaços mais acolhedores para as pessoas vivendo com HIV/aids, Marcos Leite não considera que regredimos, mas que nos mantemos estagnados e que o movimento de aids, assim como os demais movimentos de luta, se enfraqueceu muito perdendo força nos últimos anos. Para retomar o ritmo ele diz: “Estamos num momento em que temos que nos reinventar, mas reinventarmos juntos e unidos. Com essa união a gente vai conseguir transformar muita coisa! ’’.