O estilista e ativista gay Carlos Tufvesson, fala ao Dois Terços

Genilson Coutinho,
26/01/2011 | 01h01

O estilista Carlos Tufvesson falou ao site Dois Terços sobre as mudanças na sua vida profissional em 2011 e sobre novos projetos. Convidado para atuar no governo municipal do Rio de Janeiro, ele resolveu fechar sua loja em Ipanema para se dedicar exclusivamente a criação. O estilista famoso que veste personalidades como Angélica, Christiane Torloni e Luiza Brunet é casado, como prefere dizer, com o arquiteto André Piva há 16 anos e planeja fazer no próximo dia 28 de junho, Dia Mundial da Luta pelos Direitos Civis, uma exposição sobre homofobia, dando continuidade à sua luta para que se permita no Brasil o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.

DT: Você recebeu o prêmio do jornal O Globo por ter feito a diferença através do seu trabalho. Qual a importância deste prêmio para o fortalecimento das suas ações em prol da comunidade LGBT?

Carlos: Num momento em que estamos vendo um retrocesso nas discussões dos direitos civis e humanos no país, é importantíssimo um prêmio dado a luta contra a homofobia por um jornal que tem a importância do O Globo. Acredito que isso até estimule outros cidadãos a lutarem por seus direitos civis.

DT: A PL 122 foi arquivada mesmo com todas as lutas das militâncias LGBT’s brasileira. Você acredita que faltou empenho dos nossos representantes no Senado?

Carlos: Sempre defendi a PL 122 como militante por acreditar na discussão em sociedade, mas acho o texto original muito fraco, pois a principio nao acredito na provacao da liberdade como efeito pedagogico

Mas acho que o grande problema foi a condução de comunicação do MHB sobre esse projeto. De um projeto que igualava as penas do racismo já existentes no código penal pela Lei Cao, viramos cerceadores da liberdade de expressão. E a intromissão ideológica partidária está prejudicando a conquista dos direitos civis e humanos dos cidadãos LGBT neste país. Temos de reformular essas estratégias urgente!

DT: Através da moda você tem buscado dar visibilidade aos valores e direitos dos homossexuais. Quais são seus próximos projetos para 2011?

Carlos: Fui convidado pelo prefeito Eduardo Paes para assumir uma coordenadoria no executivo municipal, então focarei minhas ações nesse importante espaço que se abre para os cidadãos LGBT cariocas.

DT: O BBB 11, seguindo os passos da sua última edição, traz novamente a comunidade gay para a casa. A participação deles contribuem de alguma maneira para o crescimento e valorização da causa?

Carlos: Se esse BBB 11 fizer entender que a travesti e transgênero não são homossexuais podera sim contribuir, mas de certa forma tenho sempre ressalvas sobre papéis pedagógicos em programas de grande público. Não é a intenção do programa e termina caindo no populesco e acho que já estamos cansados disso no país.

DT: As comissões das organizações das Paradas Gays de 2011 já estão se movimentando e debatendo a temática do ano. Como você tem visto as paradas gays nos últimos anos?

Carlos: As Paradas nasceram para celebrar o levante de Stonewall. Aqui no nosso país há muitos anos esqueceram disso, com honrosas excessões. Os jovens gays sequer sabem sobre nossa história e sobre Stonewall. Perde a força uma luta de 40 anos como também não constrói um processo histórico de nossos heróis e pessoas que lutam há anos pelos nossos direitos. O cidadão que vai a parada se sente à margem de sua cidadania.

Sou veementemente contra paradas gays de janeiro a dezembro como acontecem. Não vejo sentido técnico nisso, até porque não há. Como também acharia bizarro o Natal ser em maio. Se temos uma data que é 28 de junho cabe a pergunta: a quem interessa esse calendário de paradas?

DT: A militância gay no Brasil cresceu muito nos últimos anos, porém muitos gays não acreditam em seus representantes. Você atribuiria essa descrença a algum fator em especial.

Carlos: O fundador do Grupo Arco Iris está escrevendo um livro e mostra essas etapas do nosso movimento. Acho que o movimento perdeu seu caráter humanista de estar perto de sua comunidade com a chegada do partido da maioria dos militantes – mas não dos gays – ao poder. O movimento deixou de ser reivindicatório, saiu das ruas, perdeu seu contato com a base e se trancou em salas para fazer conferências e seminários bancados pelo governo que são importante sim, mas não podem ser a única ação. Até porque já foram feitos tantos que seria preciso anos e anos para se cumprir todas as propostas, mas daí mudaram o nome do plano pra chamar de uma coisa nova, resumindo o mundo andou. Países até na América Latina conquistaram direitos civis para seus cidadãos e nós que, usando as palavras de Marta Suplicy, “éramos a vanguarda da discussão de direitos civis, hoje viramos a vanguarda do atraso”. Precisamos urgentemente falar em refundação já!