Comportamento

Saúde

‘O controle e eliminação da transmissão vertical da sífilis é um desafio para o SUS’, diz dr. Gerson Pereira, diretor do DCCI

Genilson Coutinho,
29/11/2021 | 11h11

O Centro Cultural do Patrimônio Paço Imperial, no Rio de Janeiro, é palco da exposição “Sífilis: História, Ciência, Arte”, do Ministério da Saúde. Ainda há dúvidas sobre como a sífilis surgiu. A doença ganhou atenção e se espalhou pela Europa no final do século XV, no período marcado pelas grandes navegações. Foram quase 500 anos de história e pesquisas científicas até a descoberta da penicilina e, com ela, a cura para a doença. Embora pareça uma doença do passado, a sífilis está mais presente do que nunca. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que são registrados mais de 7 milhões de novos casos da doença em todo o mundo.

A exposição tem como objetivo difundir conhecimento sobre a doença pelo viés da educação em saúde. A exposição estimula o visitante a não só conhecer mais sobre a sífilis, mas a adotar medidas de prevenção e controle da infecção. Dados da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) mostram que o Brasil registrou 115 mil casos de sífilis adquirida em 2020.

Dividida em três módulos temáticos (histórico, científico e artístico), a mostra fornece um panorama sobre a sífilis reunindo documentos, marcos científicos importantes, dados epidemiológicos, reproduções de obras de arte e objetos, como instrumentos antigos de diagnóstico e um frasco de penicilina de 1940. A ideia é facilitar a percepção das pessoas sobre a existência da doença, apresentando também informações sobre as manifestações clínicas da sífilis, os principais sinais e sintomas, além das formas de tratamento.

A exposição “Sífilis: História, Ciência, Arte” fica aberta à visitação de 18 de novembro de 2021 a 20 de fevereiro de 2022. A visitação ocorre de terça à sábado e aos feriados, das 12h às 17h. A entrada é gratuita.

Idealizada pelo Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, da Secretaria de Vigilância em Saúde, a exposição foi desenhada em parceria com o Centro Cultural do Ministério da Saúde, com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e com o professor e médico Mauro Romero, curador emérito da exposição, representando a Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis e o Setor de DST da Universidade Federal Fluminense, que reuniram suas expertises para contar essa história.

A Agência de Notícias da Aids conversou com o diretor do Departamento de Condições Crônicas e Doenças Infecciosas, dr. Gerson Pereira, que esteve no lançamento da exposição e trouxe mais detalhes sobre o enfrentamento da doença no Brasil.

Em 2020, 115.371 mil casos de sífilis adquirida (transmitida por meio do contato sexual) foram registrados no Brasil. Um número que preocupa. Quais as ações que o Departamento tem feito para diminuir este índice?

Os números são preocupantes no Brasil e no mundo. As ações que o Ministério da Saúde tem desenvolvido com estados e municípios são:

  • Distribuição de testes rápidos para diagnóstico de sífilis e tratamento com penicilina benzatina, penicilina cristalina e doxiciclina.
  • Lançamento do Boletim Sífilis 2020, com propósito de promover a disponibilidade de dados básicos, indicadores e análises sobre as tendências da sífilis no país, visando aperfeiçoar a capacidade de formulação, gestão e avaliação de políticas e ações públicas. (Disponível em clicando aqui.)
  • Lançamento de atualização de Manual Técnico para Diagnóstico da Sífilis. (Disponível clicando aqui)
  • Guia para Certificação da Eliminação da Transmissão Vertical (Padroniza o procedimento para a Certificação da Eliminação da Transmissão Vertical da Sífilis e/ou HIV para Estados e/ou municípios com 100 mil habitantes ou mais. Define indicadores e metas para eliminação da transmissão vertical. Para Estados e municípios que estejam próximos de atingir as metas de eliminação propõem Selo de Boas Práticas rumo à Eliminação da Transmissão Vertical de Sífilis e/ou HIV, em três categorias: Bronze, Prata e Ouro). (Disponível em clicando aqui)
  • Campanha: Peças para a população em geral, cartazes de sífilis adquirida e sífilis congênita, folders, vídeos e e-mail marketing. Maiores informações sobre Campanha Nacional de Combate às Sífilis Adquirida e Congênita em 2021.
  • Lançamento e distribuição de Fluxogramas para Manejo Clínico das Infecções Sexualmente Transmissíveis. Disponível clicando aqui.
  • Lançamento e distribuição de Fluxogramas para Prevenção da transmissão vertical do HIV, sífilis e hepatites B e C nas instituições que realizam parto.
  • Lançamento do curso online autoinstrucional “Curso de atenção integral às pessoas com IST”, AVASUS, com instituições parceiras OPAS e UFRN. (Disponível clicando aqui.)
  • Exposição Sífilis: História, Ciência, Arte. A exposição apresenta objetivo de difundir o conhecimento da doença e estimular a adoção de medidas para prevenir e controlar essa infecção.

Além destes 115.371 mil casos de sífilis adquirida, foram registrados também 61.441 casos de sífilis em gestantes. Mesmo assim há casos em bebês, com 186 óbitos por sífilis congênita em 2020. O que falta fazer para que não tenhamos mais crianças no País com Sífilis Congênita?

O controle e eliminação da transmissão vertical da sífilis é um desafio para o SUS. É necessário articulação de diversos setores, em especial a Secretaria de Vigilância em Saúde e a Secretaria de Atenção Primária, que vêm trabalhando em conjunto para atingir esse objetivo. O rastreamento universal de gestantes e o tratamento imediato com penicilina são ações fundamentais para evitar a sífilis congênitas, e insumos de testagem rápida e penicilina são distribuídos aos estados e municípios pelo DCCI. O DCCI também estimula a implementação de Comitês de investigação de transmissão vertical, instituídos pelo Protocolo de Investigação de Transmissão Vertical em 2014, que trazem oportunidades em investigar para identificar oportunidades de melhoria. Assim, é necessário avançar e qualificar a rede de atenção à saúde (RAS).

Existe a intenção de produzir e veicular campanhas em massa sobre a temática? O que o governo federal tem feito para alertar os jovens e as gestantes sobre a importância da prevenção da sífilis?

Dentre as ações do Ministério da Saúde, existe a promoção de campanhas anuais sobre as infecções sexualmente transmissíveis, com destaque à sífilis. As campanhas apresentam veiculação principalmente por redes sociais do Ministério da Saúde, incluso com uso de hashtags para aumentar a dispersão do conteúdo, como #sífilisnão #sifilis #sifiliscongenita #sífilistemcura #testetratecure.

Em alusão ao Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita, que é no 3º sábado do mês de outubro conforme instituído em Lei 13.430/2.017, o Ministério da Saúde promoveu a Semana Nacional de enfrentamento à sífilis e à sífilis congênita nos dias 19 a 20 de outubro de 2021, com transmissão on-line. Durante o evento, o Ministério da Saúde deu visibilidade aos resultados dos projetos desenvolvidos no âmbito do Termo de Cooperação número 66, os quais abrangeram estratégias nas ações para o enfrentamento da sífilis adquirida, sífilis na gestação e da sífilis congênita, com foco principal na eliminação da transmissão vertical dessa infecção no país. Mais informações clicando aqui.

A exposição “Sífilis: História, Ciência, Arte” é um caminho para trabalhar educação e saúde sexual. A arte é sempre uma forma de informar e transformar. Existe a intenção de disponibilizar a exposição em outras capitais e cidades?

A exposição estará em cartaz de 17 de novembro de 2021 a 20 de fevereiro de 2022, Centro Cultural do Patrimônio do Paço Imperial, Rio de Janeiro – RJ. Mas depois a fevereiro de 2022, se converterá em exposição itinerante, com passagem em todas as Unidades Federas do Brasil.

Com a chegada da Covid-19, a comunicação virtual ganhou espaço. Existe a possibilidade de criar uma versão virtual desta iniciativa e disponibiliza-la em plataformas que dialoguem com jovens e outros setores da sociedade?

Sim. A versão virtual já está sendo providenciada pelo Ministério da Saúde e em breve o link estará disponível em site aids.gov.br.