Nos EUA, gays resistem a tomar pílula para evitar HIV

Fábio Rocha,
03/01/2014 | 14h01

O psicoterapeute Damon Jacobs,42, que toma o Truvada há dois anos para evitar o HIV

Michael Rubio, 28, lembra-se de como quatro amigos se tornaram soropositivos por fazerem sexo sem proteção no espaço de um ano. Essas notícias o levaram a experimentar uma nova forma de evitar o HIV: uma pílula diária que previne a infecção.

“Com meu círculo de amigos tão afetado no último ano, foi fácil optar por isso.”

Especialistas esperavam que o remédio, o Truvada (combinação de dois antirretrovirais usados para tratar pessoas com HIV desde 2004), fosse adotado com entusiasmo por homens gays saudáveis. Em vez disso, a droga está demorando para “pegar” nesses 18 últimos meses desde que foi aprovado como terapia profilática pela FDA (agência reguladora de remédios nos EUA).

No Brasil, o tratamento está passando por testes ainda.

Por 30 anos, a camisinha foi anunciada como única forma eficaz, além da abstinência, de evitar a transmissão do HIV. Mesmo assim, 50 mil novas infecções ocorrem a cada ano nos EUA.  A transmissão entre homens representa metade desse total.

Médicos saudaram o Truvada como oportunidade de reduzir novas infecções entre jovens gays, pessoas cujos parceiros estão infectados e prostitutas. A FDA pediu que as receitas do Truvada fossem acompanhadas de aconselhamento, testes de HIV e promoção do sexo seguro.

Mas, menos pessoas vêm usando a profilaxia pré-exposição do que se esperava. Segundo a Gilead Sciences, que fabrica a droga, 1.774 pessoas compraram Truvada nos EUA para prevenção contra o HIV entre janeiro de 2011, quando esse uso ainda era off-label (fora das recomendações da bula), e março de 2013.

Surpreendentemente, quase metade das receitas era de mulheres. Deborah Cohan, obstetra e ginecologista da Universidade da Califórnia, já receitou o Truvada para muitas mulheres cujos parceiros têm HIV, inclusive uma que quer ficar grávida.

Então por que mais homens não adotaram o tratamento? Alguns relataram ter recebido reações negativas dos médicos quando falaram sobre o assunto. O uso da droga como prevenção também carrega um estigma entre os gays. O termo “Truvada whore” (prostituta de Truvada) já apareceu em redes sociais. Efeitos colaterais como perda de densidade óssea, apesar de raros, preocupam.

Outra questão é que, com os avanços no tratamento, muitos jovens não viveram os piores anos da epidemia e têm menos medo da doença. E as drogas atuais baixam tanto os níveis virais nos infectados que o risco de transmissão se reduz muito, diminuindo a percepção de que a profilaxia seja necessária.

 

Fonte: UOL