Morre Kaká di Polly, icônica estrela da noite LGBT de São Paulo

Genilson Coutinho,
23/01/2023 | 19h01
Foto: Reprodução Internet

A comunidade LGBTQIAPN+ está de luto com a morte da estrela Kaká di Polly, conhecida como “a dona da cidade” e uma das grandes estrelas da arte transformista de São Paulo. O anúncio da morte da artista foi compartilhado por amigos nas redes sociais.

Kaká di Polly na primeira Parada de SP – Reprodução

Abaixo um trecho de uma entrevista de Kaká ao GAY BLOG BR:

Você é uma das precursoras de uma das principais Paradas LGBT+ no Brasil. Inclusive, da primeira edição, existe uma foto icônica sua no chão da Avenida Paulista em frente a um ônibus. Como foi em 1997?

A primeira Parada LGBT+ de São Paulo foi parada mesmo. Ela aconteceu em 1996 e foi uma aglomeração na Praça Roosevelt. A gente só tinha uma Kombi. Nós conseguimos nos reunir na frente de um bar gay na Roosevelt e conseguimos juntar mais ou menos 250 pessoas. Essa foi a primeira vez que nós tentamos fazer alguma coisa. Aí nós fomos nos ajeitando, melhorando e dando ideias. E tendo ideias. Então, em 1997, o Roberto de Jesus conseguiu um trio elétrico para o dia 28 de junho e a gente chamou o povo pra Avenida Paulista.

Naquele ano, 1997, foram umas 2.000, 2.500 pessoas. Estávamos na Avenida Paulista, na altura do número 900, quando chegou a notícia para o Beto: um policial veio falar que o trio não iria sair porque havia permitido usar só uma mãozinha (via) da Paulista pra gente, só um ladinho ali, do lado da calçada. Então o trio não ia sair. O carro iria ficar parado ali, como uma manifestação. Aí o Beto me disse: “Kaká, vamos ficar parados aqui e vai terminar aqui, como se fosse uma manifestação”. E eu falei: “Não, não é isso que você combinou com a Prefeitura, não foi combinado que iria andar? Você não tem tudo certinho?”. E, então, ele disse que sim. Falei pra ele: “Fica fria, querida, eu vou ali na frente fazer um negócio e na hora que você vir um rebuliço acontecendo, você pega o carro, coloca o carro andando, que o povo vai atrás. Deixa que eu me viro lá”. Então eu fui pra ponta, esquina ali do Top Center, e simplesmente me embrulhei na bandeira do Brasil como se tivesse com frio e fui andando. De repente fui cambaleando e “plaft”, me joguei no meio da Paulista. Mas me joguei bem nas outras vias onde os carros estavam passando. Aí parou o trânsito. Quando o Roberto de Jesus viu aquilo, ele disse: “Pronto, ela aprontou”. E pegou o carro e colocou pra andar naquela via que podia. Foi aí que o povo foi e invadiu. Quando começou a andar, me levantei fingindo que tinha passado mal. Queriam me levar para o hospital. Meu namorado disse: “Não, não, deixa que ela vai pra casa, ela é cardíaca, sou namorado dela”. Eu estava do lado da Eliana King Kong, que era uma negra enorme e gorda que nem eu. Fui me apoiando nela e perguntei: “Eliana, já estamos bem longe da polícia já?”. E ela olhou pra trás e disse: “Já, velha, por quê?”. Então, eu falei: “Corre, querida”. E aí a gente saiu voada atrás da Parada que já tinha entrado na Paulista. Já tinha tomado três pistas da avenida com o povo todo. No final, os carros ficaram com uma pista só do lado do meio-fio da Paulista, ficando com uma via só da avenida pra eles, porque aquelas 2.500 pessoas saíram andando. Eu fui lá pra frente da Parada, onde eu desde então venho sempre, balançando a bandeira do Brasil com a minha amiga. Todo o mundo com os cartazes e faixas e nós descemos a Consolação até parar na Praça Roosevelt, onde dispersou a primeira Parada. E foi assim que aconteceu.

Por isso que eu tenho o direito de gritar e dizer que esse lugar ninguém tira de mim. Esse lugar é meu, só aconteceu por minha causa, fui eu que fiz isso acontecer e ninguém vai apagar isso. Eles podem não me convidar, não me chamar. Eles podem querer apagar isso mas eles não vão conseguir. Eu tive 2.500 pessoas que são provas vivas que isso aconteceu. E teve quem fotografou.