Mia Couto fala sobre Cultura e Desenvolvimento no VII ENECULT

Genilson Coutinho,
05/08/2011 | 17h08

No terceiro dia de Enecult, o professor Paulo Miguez apresentou a palestra do jornalista e escritor Mia Couto, enfatizando o lugar de destaque do convidado na atual literatura de língua portuguesa. Miguez relatou o período em que conviveu com a geração de Mia Couto em Moçambique e diz que todos eles podem ser chamados de ex-combatentes.

Mia Couto iniciou sua fala ressaltando a familiaridade que tem com o Brasil e apresentou seu texto O homem que casou com a Bahia, sobre cultura e desenvolvimento. Ele afirmou que os conceitos são trabalhados de formas diferentes a depender da língua de cada região. “As palavras cultura e desenvolvimento deveriam ser faladas sempre no plural, já que cada cultura é feita de várias outras”, afirmou Mia.

Para Mia, o problema para o entendimento de um povo não é de ordem lingüística, mas de ordem funcional e lógica. Ele explicou que, em Moçambique, o futuro é visto como território sagrado e falar sobre ele é transgredir esse território dos deuses, um contraponto com uma cultura que vive de prever acontecimentos como a brasileira. Outro fato curioso é que no país africano não é permitido falar a palavra “não” e dar respostas negativas a perguntas, o que dificultou suas pesquisas. Essas histórias ilustraram as diferença entre as culturas e que seu entendimento vai além dos fatos visíveis e que são divulgados na mídia.

Mia enfatizou que temos que construir uma cultura moderna, mas costurando o passado com o presente de forma democrática. Para ele, o crescimento é algo que só pode acontecer se existir harmonia. A capacidade de escutar os outros, a capacidade de perceber o que significa o silêncio, construir vizinhos, ser feliz em circunstâncias duras, tudo isso, segundo o escritor, ensina as pessoas a perceberem a cultura através do modo de vida de seu povo. Mia Couto terminou dizendo que, na atualidade, o maior trabalho em todo canto do mundo é o de reabilitar a esperança.