Mãe Menininha recebe homenagem na Câmara Municipal de Salvador

Genilson Coutinho,
14/08/2011 | 11h08

A noite da sexta-feira, 12 de agosto, foi de belas homenagens no Plenário Cosme de Farias, na Câmara Municipal de Salvador. A estrela mais linda, segundo Dorival Caymmi, era a homenageada. Trata-se de Maria Escolástica da Conceição Nazareth, ou simplesmente de Mãe Menininha, quarta yalorixá do Candomblé do Gantois e uma das mais queridas mães de santo que o mundo já viu.

A Sessão Especial, que marcou os 25 anos de morte de Mãe Menininha (10.02.1894 – 13.08.1986), foi solicitada à Casa Legislativa pela vereadora e presidenta da Comissão de Reparação da Câmara, Marta Rodrigues. Na ocasião, o plenário da casa tronou-se um mar de branco, cor do traje das sacerdotisas, dos seguidores, dos admiradores e daqueles que respeitam o candomblé, que lotavam o recinto. Uma das poucas exceções ao branco no local eram os arranjos com predominância de flores amarelas, que faziam homenagem a Oxum, Orixá de Mãe Menininha.

A solenidade foi aberta pelo presidente da Câmara, o vereador Pedro Godinho, que passou a palavra para Marta. “Falar de Mãe Menininha é fácil, porque há muito que dizer, mas também difícil, pois não dá para conceber em palavras o que ela representa” afirmou a vereadora. “Então, como vereadora e representante de uma instituição laica, que é o Estado, vou falar na perspectiva do simbolismo para a sociedade brasileira”, completou.

Para Marta, uma das maiores realizações de Mãe Menininha foi o combate ao racismo que oprime o legado do povo negro, incluindo a sua fé. “Mãe Menininha simboliza o respeito às tradições, à fé, à cultura negra, à sabedoria dos mais velhos; representa uma religião e uma fé oprimida, mas resistente, fundamental para identidade negra e popular do Brasil” disse. Em seguida à sua fala, a vereadora passou a presidir a mesa da sessão.

Para encanto e surpresa dos presentes a cantora baiana Gal Costa adentrou o plenário entoando os versos da ‘Oração de Mãe Menininha’. A homenagem emocionou a todos, principalmente à atual yalorixá do Gantois, Mãe Carmem de Oxalá, filha de Mãe Menininha, que da mesa, agradeceu à cantora com os olhos margeados de lágrimas.

Representando o Gantois, Carlos Emanuel também citou a luta de Mãe Menininha contra a opressão ao povo negro. “Além de uma grande yalorixá, ela também foi uma lutadora contra o preconceito religioso e racial”. Carlos falou ainda dos ensinamentos de Mãe Menininha, que com doçura sempre foi mestra em dar conselhos e passar lições sobre amor, respeito e religiosidade. “Ela sempre acolheu a todos. Pobres, ricos, negros, brancos, sem qualquer discriminação de raça ou credo”, contou o representante do terreiro.

 

Participaram ainda da Sessão o professor e historiador Jaime Sodré, o secretário de Reparação, Ailton Ferreira, e o vice-prefeito de Salvador, Edvaldo Brito. Para completar a noite de surpresas, homenagens e comoção, Mariene de Castro cantou ‘É D’Oxum’ e Aloísio Menezes cantou ‘Sorriso Negro’. Durante o evento, a vereadora Marta Rodrigues afirmou que já está marcada para o dia 10 de fevereiro de 2012, data em que Maria Escolástica faria 118 anos, uma Sessão Solene para entrega da Medalha Zumbi dos Palmares em nome de Mãe Menininha.

Mãe Menininha –

Filha de Joaquim e Maria da Glória. Descendente de africanos da nação Egbá-Arakê, das terras de Agbeokutá, no sudoeste da Nigéria, Mãe Menininha, como ficou conhecida ao longo de sua vida, era bisneta de negros libertos, especificamente, Maria Júlia da Conceição Nazareth e Francisco Nazareth de Eta.

Iniciada aos 08 meses de idade, para o Orixá Oxum, cumpriu, desde cedo, a determinação das tradições de sua família consangüínea, uma forte representante da religiosidade de matriz africana na Bahia, especificamente do Candomblé do Gantois.

Instituição religiosa de origem ketu, o Candomblé do Gantois historicamente mantém a política do matriarcado, ou seja, prima pela tradição de dirigentes femininas, e de sucessão hereditária de linhagem consangüínea. No processo sucessório, Maria Escolástica da Conceição Nazareth, a Mãe Menininha, foi a quarta yalorixá do templo religioso e dirigiu o Gantois de 1922 a 1986.