II Encontro de travestis e transexuais mobiliza ativistas na Bahia

Genilson Coutinho,
25/11/2011 | 08h11

Teve inicio nessa última terça-feira, 22 com abertura solene às 19h o II Encontro de Travestis e Transexuais da Bahia, realizado em Salvador, pela Associação de Travestis da Bahia (ATRAS) nas dependências do Amaralina Hotel situado na Orla de Salvador.  O dia de hoje transcorreu com muita tranqüilidade e foi somente debates com muita participação da classe. As atividades tiveram inicio às 9h e seguiram até as 18h com apresentação do filme “20 CM” ficção que conta a história de uma travesti que possui o indesejado 20cm de pênis e por esse motivo sua vida é uma tragédia.

Duas mesas compuseram as atividades do dia. A primeira foi abordado o plano HSH e as travestis, relatados os avanços e conquistas. Os trabalhos foram conduzidos por Geovana Baby presidente da ANTRA órgão nacional da classe e terminou às 10h. Houve um pequeno intervalo para lanche e as atividades seguiram pela manhã até as 13h com a mesa Movimento LGBT na Bahia, avanços e conquistas. Marcelo Cerqueira, Ricardo Santana, Barbara Alves, Keila Simpson abordaram o assunto coordenados por Danilo Bitencourt.
Ao termino da manhã Millena Passos, presidente da ATRAS, fez uma sessão de premiação entregando a Marcelo Cerqueira, Geovana Baby entre outros agraciados o troféu Michele Marry, ex-diretora da entidade. Essa sessão foi a mais participativa com diversas intervenções das participantes.

Durante a tarde as atividades seguiram com duas mesas. A primeira foi conduzida pelo advogado Jairo Fontes de Itabuna que abordou o tema da legislação e a mudança do nome social. Durante a explanação do magistrado diversas participantes se mostraram interessadas em proceder a mudança de nome, segundo elas, o nome social masculino é motivo de grande constrangimento no dia a dia.

Os debates foram concluídos por volta das 16h com a mesa sobre o Plano de Feminização abordando os avanços e conquistas, com as debatedoras Raffaely Wisest, presidente do Grupo Transgênero Marcela Prado de Curitiba, Chopely Glausdystron  da ONG AMOTRAS da cidade do Recife. O evento destacou novas lideranças transexuais ao exemplo da transexual de pré-nome Hanela e Marina Garlem.

Como produto do dia as participantes redigiram uma moção destinada a Secretaria de Estado da Bahia de Políticas para Mulheres (SPM) solicitando a inclusão das mulheres transexuais no plano de atenção da Secretaria que segundo elas não tem se colocado a disposição para debater a questão de gênero e a ocupação pelas transexuais dos espaços sociais do feminino. Um novo debate tem sido feito na cidade considerando as mulheres transexuais como outro gênero, no caso elas não seriam do gênero feminino, uma situação que se choca com o sexo psicológico e social da classe. Essa situação no cotidiano é ilustrada pela impossibilidade delas poderem usar o banheiro feminino nos estabelecimentos comerciais e públicos.

Na opinião das participantes, a SPM não deve se esquivar de fazer o debate e abrir espaço para a categoria dentro do órgão governamental. O evento termina nessa sexta-feira e na programação a escolha da cidade que irá sediar a próxima edição.Millena Passos apesar do trabalho esta feliz por ter sido capaz de realizar o Encontro com apoio da Coordenação Estadual de DST/Aids. “Considero um avanço poder realizar esse evento e promover a conscientização das minhas colegas” disse Millena Passos. Diversas pessoas durante o dia de hoje tiveram acesso a vacinação para hepatite, sarampo, gripe entre outras. Ricardo Santana aproveitou a oportunidade e tomou todas que tinha direito. “Aproveitar a oportunidade, não dói nada” disse.

A sanitarista Simone Sturaro compareceu na manhã de hoje representando a Secretaria de Estado de Saúde. Ainda contou com as presenças de duas principais travestis de Salvador, Carlete e Martinha, a primeira considerada a mãe todas, hoje senhoras, mas presenciaram momento de terror na Bahia, quando a Policia cortava cabelos das travestis e se divertiam mandando uma beijar a outra. Carlete tinha uma pensão para travestis na rua principal de acesso ao Pelourinho antes da revitalização do Centro Histórico.

De acordo com o Grupo Gay da Bahia (GGB) as travestis e transexuais, muitas delas vivem em ambiente de vulnerabilidade social e somente em 2010 a entidade registrou 14 homicídios praticados contra a classe na Bahia. O GGB conseguiu registrar no Brasil que 8 delas pertenciam a faixa etária de 14 a 17 anos.

Muitas delas vivem em um universo considerado marginal devido à falta de oportunidade para o exercício de um trabalho socialmente aceito. A prestação de serviços sexuais é forma posta para a remuneração financeira para grande parcela. Situação hostil quando muitas delas possuem habilidades e saberes para exercer as mais variadas profissões.

A cultura machista apoiada na homofobia e na transfobia empurram essas pessoas para o exercício de uma sexualidade marginal e elas muitas vezes acabam pagando com suas próprias vidas a falta de uma política nacional de inclusão e respeito à categoria.

Fonte: GGB

Foto: Reprodução