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Ícones do design moderno e contemporâneo brasileiro na Caixa Cultural Salvador

Genilson Coutinho,
31/07/2014 | 13h07

 

Rio Chaise Longue_Oscar Niemeyer_Foto André Nazareth para o Mercado Modern

Rio Chaise Longue_Oscar Niemeyer_Foto André Nazareth para o Mercado Modern

CAIXA Cultural Salvador apresenta de 05 de agosto a 28 de setembro, a exposição “Design Brasileiro Moderno e Contemporâneo” e propõe um mergulho no universo mobiliário com peças dos mais importantes designers nacionais. Com curadoria do colecionador Raul Schmidt e do premiado design Zanini de Zanine,as obras expressam artisticamente os detalhes dos traços nacionais.

Dezesseis expositores ocuparão a galeria da CAIXA para contar a história do design de móveis no Brasil. Entre peças inéditas, raras e ícones pra lá de modernos, nomes renomados como Oscar Niemeyer, Lina Bo Bardi, José Zanine Caldas, Sérgio Rodrigues, Joaquim Tenreiro, Aida Boal, Paulo Mendes da Rocha e Jorge Zalszupin se unem aos contemporâneos Domingos Tótora, Carlos Motta, irmãos Campana, Zanini de Zanine, Rodrigo Almeida, entre outros, para mostrar o que se fez e o que está sendo realizado no Brasil neste segmento. Durante a exposição, também serão exibidos vídeos com depoimentos de alguns designers.

O objetivo da exposição é traçar um panorama histórico do design brasileiro de móveis. A ideia do projeto surgiu na Alemanha, em 2012, a partir do encontro entre Zanine de Zanine e Raul Schmidt, que queriam mostrar a produção brasileira na Europa. De Berlim, a exposição seguiu para Lisboa como principal evento na abertura do ano do Brasil em Portugal. A mostra também foi apresentada na Sala Brasil, na sede da Embaixada Brasileira em Londres, na Caixa Cultural Rio de Janeiro e Brasília.

Sobre os expositores e suas peças de destaques na mostra:

Ainda Boal: A escolha da profissão de arquiteta foi consequência natural de sua incoercível vocação para o desenho, tento assim que, ainda como estudante, excursionou pelo campo da escultura (modelagem) e pintura, e deu, também, seus primeiros passos no terreno do “design” de móveis, estes no enlevo que povoaria mais sempre com a preocupação de aliar a harmonia das formas com o conforto esmerando-se, cada vez mais, na anatomia de seu traçado a fim de proporcionar o máximo de conforto possível.

Peças em destaque na exposição: Cadeira João Carlos (1989).

 

Carlos Motta: É uma estrela de primeira grandeza do design nacional, várias vezes premiado. A honestidade está presente na qualidade de elaboração do móvel, feito para durar muito, usando principalmente madeiras maciças como amendoim, mogno, cedro e cabriúva. Arquiteto de formação, Carlos Motta preserva as características de ateliê de seu trabalho, pronto para projetar qualquer coisa que o cliente queira em madeira. Mas há vários criou produtos em linha, como mesas, camas, aparadores, escrivaninhas, armários, objetos e principalmente cadeiras, sua paixão declarada – já desenhou cerca de 15 modelos diferentes. Imune à pretensão do vanguardismo, Motta faz móveis belos de ver e confortáveis de usar, e permanece evoluído dentro de um caminho próprio.

Peça destaque exposição, entre outras: Poltrona Giratória Radar (2008)

 Domingos Tótora: O mineiro domingos Totóra, nascido e criado em Maria da Fé, cidade situada na Serra da Mantiqueira, sul de Minas Gerais, cursou Artes Plásticas na FAAP e ECA-USP em São Paulo. De volta à sua aldeia após os estudos, elege o papel reciclado com matéria prima para seu trabalho, que transita entre a arte e o design. Suas peças de extrema beleza incluem bancos, mesas, vasos, fruteiras, centros de mesa e peças de mobiliário que se reportam às cores da natureza, como cascas de árvores, pedras e terra. Na textura seus objetos trazem os efeitos de luz e sombra do sol com a mesma intensidade que a luz solar percorre os vales. Suas peças piloto são desenvolvidas num processo simultâneo onde concepção e execução andam juntas e se completam em todos os níveis, da matéria prima aos aspectos econômicos e sociais. O processo é 100% manual e tem a certificação do Instituto de Qualidade Sustentável.

Seu mais recente e premiado projeto: a mesa escultura Água (2008), em papelão e vidro, que também é destaque na exposição.

 Gustavo Bittencourt: O design sempre foi uma paixão. Desde criança em seus desenhos já demonstrava o gosto pela criação, pelo desenvolvimento de novas ideias e com a Mãe Arquiteta apenas aguçou o sentimento. Formado em Desenho Industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2009, Gustavo esta sempre em busca de novos conhecimentos. O que o levou a estudar no Politécnico di Torino, na Itália, durante a Universidade e recentemente a trabalhar em uma galeria de móveis e artes em Lós Angeles, a Thomas Hayes Gallery. Trabalhou com ícones do cenário nacional atual como Zanine de Zanine, Marcelo Rosenbaum, Rodrigo Calixto. Durante sua formação acadêmica foi premiado em iportantes concursos como Movelsul, premiado em 2010 com a cadeira Trapeziu, que faz parte da mostra.

Peças da exposição: Cadeira Nonô (2010).

 Irmãos Campana: Os Irmãos Campana (Humberto Campana, Rio Claro 17 de março de 1953, e Fernando Campana, Brotas, 19 de maio de 1961) são respectivamente, formado em Direito pela Universidade de São Paulo, e em Arquitetura pelo Unicentro Belas Artes de São Paulo. Hoje a dupla goza de reconhecimento internacional por seus trabalhos de Design-Arte, cuja temática discute elementos do cotidiano, que são transformados em pelas de caráter artísticos, como uma linguagem  única e de, até, uso possível. Profissionais que despertam o interesse internacional, são os uns dos poucos brasileiros com peças no acervo do MoMA, em Nova Iorque.

Peça Destaque na exposição, entre outras: Cadeira Yanomami (1989).  

 Joaquim Tenreiro: Artífice do design de mobiliário brasileiro, Joaquim Tenreiro – português de nascimento – se estabeleceu no Brasil ainda novo, exercendo a profissão de marceneiro, herança de família. Aos poucos, sua verve utópica foi o conduzindo como projetista de móveis como o apoio intuitivo e interesse de diversas empresas no Rio de Janeiro, como Laubissh & Hirth. A genialidade de Joaquim Tenreiro – atemporal e, simultaneamente, tão próxima deste geração – entre um punhado de exposições Brasil afora e nos EUA, culminou no título de Melhor Escultor do Ano, em 1978, pela APCA.

Peça em destaque na exposição, entre outras: Cadeira de Três Pés (1947).

 Jorge Zalszupin: No ano de 1949, desembarcava no Rio de Janeiro o polonês Jerzy Zalszupin. Formado em arquitetura na Romênia, começou sua carreira no escritório de arquitetura do seu conterrâneo Luciano Korngold, no estado de São Paulo. No inicio não podia assinar pelos seus projetos, por não ser brasileiro, mas depois que se casou e teve sua filha no país, recebeu sua nacionalidade e pode abrir o próprio escritório. Foi a partir daí que surgiu o Jorge Zalszupin, designer e artesão de criações conjuntas, na produção de poltronas como a Dinamarquesa, a Paulistana entre outros móveis. Pelo valor histórico e qualidade do design de seus móveis, vários deles estão sendo desde 2005 reproduzidos com muito sucesso e aceitação no mercado nacional e internacional.

Peça em destaque na exposição, entre outras: Poltrona Paulistana e baqueta (1960).

 José Zanine Caldas: ficou conhecido como o “mestre da madeira” por conta de seus trabalhos primorosos com essa matéria-prima. Cadeiras, mesas, sofás e aparador, entre outras criações feitas a partir de chapas planas de madeira compensada, compõem o acervo da mostra. As peças foram desenhadas e produzidas a partir de 1948, ano em que Zanine fundou, em parceria com Sebastião Pontes, a ‘Móveis Artísticos Z’. Durante os 14 anos em que permaneceu no negócio, o designer assinou produtos que marcaram o encontro harmônico entre o modernismo e o artesanato tradicional brasileiro.

Peça em destaque, entre outras: Aparador (1970).

 Lina Bo Bardi: Estudou na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Roma. Inconformada com os móveis que encontrou no chegar ao Brasil, a italiana Lina Bo Bardi (1915-1992), posteriormente naturalizada brasileira, decidiu desenhar o mobiliário para seus projetos de arquitetura. Fundou com Giancarlo Palanti o Studio de Arte Palma que funcionou de 1948 a 1950 – para produzir móveis em série. O ponto de partida foi a simplicidade estrutural, aproveitando-se a extraordinária beleza das veias e da tinta das madeiras brasileiras, assim como seu grau de resistência e capacidade.  Lina manteve intensa produção cultural até o fim de sua vida, em 1992.

Peça em destaque na exposição: Cadeira Girafa (1987).

Maneco Quinderé: A consequência natural do trabalho em teatro e música foi o convite para iluminar espetáculos de ópera e balé. A partir de então, as artes plásticas também se renderam ao talento de Maneco e surgiram os projetos de luz para exposições. Toda essa experiência levou os arquitetos mais importantes do país a procurarem parcerias em seu trabalho, para iluminar seus projetos e, desde 2000, colabora com projetos de iluminação para residências e comércio. Maneco ainda desenha e produz luminárias diferentes assinadas por ele.

Peça em destaque, entre outras: Luminária Elephant (2014).

Móveis Cimo:  A empresa iniciou suas atividades no início do século passado, em 1912. Em 1921, iniciou a produção de cadeiras a partir do reaproveitamento das aparas de imbuia para serem comercializadas nos centros urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro. Seu pioneirismo foi conquistado devido a alguns fatores: o reaproveitamento de material, a comercialização nos maiores centros urbanos do país e a criação de um produto de qualidade destinado à produção em escala. A Cimo foi pioneira na introdução da tecnologia da laminação diferenciando-se de seus concorrentes. Seu produto dominou o mercado nacional de móveis para instalações comerciais e institucionais, com repercussão na América Latina, tornando-a a maior fábrica do ramo de mobiliário na América Latina da década de 30 até 1970. Seu legado é incontestável e histórico: as inovações tecnológicas e a funcionalidade dos seus móveis demarcaram um período da história e da cultura brasileira.

Peça em destaque na exposição: Cômoda em Imbuia (1950).

 Oscar Niemeyer: Oscar Niemeyer nunca encontrou limites para a criatividade nas suas obras, e sempre acrescentou valor à sua extensa e extraordinária carreira. Apaixonado pelas linhas curvas e livres, o arquiteto lançou uma coleção de mobiliário com poucas peças em madeira prensada, em parceria com sua filha Anna Maria, desenhadas por ele, a partir de 1970 e em diferentes épocas.

Peça em destaque na exposição: Chaise Long Rio (1977/78).

 Paulo Mendes da Rocha: Um dos mais importantes arquitetos e urbanistas brasileiros, assume uma posição de destaque a partir de um premio que recebeu em 2006 chamado Pritkzer, cujo título se refere à arquitetura contemporânea em termos mundiais. Sendo ele um exemplo do pensamento estético caracterizado como a Escola Paulista, tinha como um lema a arquitetura crua, limpa e clara. No âmbito mobiliário, não deixou por menos, foi o criador da famosa Poltrona Paulistana que possui uma estrutura em aço flexível com assento e encosto por uma capa de couro ou tecido. A Paulistana foi também editada em pequenas series, e em 2009, entrou para a seleta coleção permanente do Museu de Arte Moderna (MoMa) em Nova York.

Peça em destaque na exposição: Poltrona Paulistana (1957).

Rodrigo Almeida: O designer natural do interior de São Paulo é especialista em criar móveis com apelo global e criatividade brasileira. O trabalho de Rodrigo tem materiais em contextos incomuns ao mobiliário; brincadeiras com texturas, que até poderiam ser consideradas irregularidades, mas que ganham novos significados para se tornarem informação de design. E o resultado são peças únicas e totalmente não óbvias.

Peças em destaque, entre outras: Cadeira África (2006).

Sérgio Rodrigues: Sérgio é, sem dúvida alguma, uma das mais admiráveis expressões do design em nosso país. O traço coerente e único inscreveu seu nome na história do design do século 20, sobretudo pela criação de uma grande variedade de produtos, dos quais o mais famoso é a Poltrona Mole. Ao lado de mestres como Joaquim Tenreiro e José Zanine Caldas, Sérgio vem tornando o design brasileiro conhecido internacionalmente. Ele transformou totalmente a linguagem do móvel, foi generoso no traço e no emprego das madeiras nativas. A aproximação de desenho do móvel moderno com certos objetos da cultura brasileira, e a não preocupação com modismos, acentuam o espírito de brasilidade que tanto busca Sergio Rodrigues.

Peça em destaque na exposição, entre outras: Poltrona Chifruda (1962).

 Zanini de Zanine: Carioca nascido em 1978, Zanini de Zanine herda de seu pai Jose Zanine Caldas, grande arquiteto e designer brasileiro, o gosto pelo desenho. Estagiário de Sérgio Rodrigues durante um ano, o jovem se forma em desenho de produto no final de 2002 na PUC-Rio. Desde então, optou por ser designer independente. Inquieto, começou a experimentar e produzir seus próprios desenhos. Premiado nos principais concursos do país e com exposições no exterior, Zanini passou a ser convidado para assinar para diferentes marcas nacionais e internacionais.

Peça em destaque na exposição, entre outras: Poltrona Moeda (2009).

 Serviços:

Exposição “Design Brasileiro Moderno e Contemporâneo”

Local: CAIXA Cultural Salvador

Período: 05 de agosto a 28 de setembro de 2014

Horário: das 9h às 18h

Local: CAIXA Cultural de Salvador – Rua Carlos Gomes, 57, Centro, Salvador, BA

Entrada Gratuita