Homofobia vira crime e cala evangélicos

Genilson Coutinho,
03/04/2013 | 09h04

O fim da quaresma é época apropriada para discutir a guerra religiosa que presentemente preocupa o Brasil dividido entre conservadores e liberais. O erro começa aí. Não exista batalha de religiões. A Irlanda está há seculos mergulhada em banhos de sangue porque os católicos querem exterminar com os protestantes. Vale na via contrária. Discute-se Teologia. Culto. Rito. Doutrina. Dogmas e a divisão de poder político. A guerra santa entre o Oriente Islâmico e o Ocidente judaico-cristão é interpretada como sinal da guerra nuclear que destruiria o planeta. Não existem religiões em guerra no Brasil. Contudo, existirá e em breve. Os congressistas querem liquidar com os homossexuais. Que reagirão! No mundo moderno, a repercussão internacional é instantânea e produz reações duras. Não é só aqui. Nos EUA, por exemplo, Barack Obama nada pode contra Julian Assange pelo diapasão mundial de qualquer ameaça contra o bisbilhoteiro cibernético. O cidadão do mundo perdeu o medo. O Egito foi estremecido. O perigo pode e deve ser evitado com urgência e contundência. Basta que a presidenta da República aja com destreza. Que a Presidência baixe MP que criminalize a homofobia. Com rigidez draconiana. Há que ser projeto duro, amplo e laico com toda a liberalidade exibida em conteúdo devastador contra os homófobos. Que não só em Brasília agem. Saiba o prefeito Fernando Haddad que os points de skinheads da Brigadeiro em São Paulo são ainda mais violentos que Marcos Feliciano, pobre coitado que mora no armário e pune gays para castigar a si mesmo, já que não se aceita gay e é um frustrado. Basta enquadrar Feliciano debaixo de vara. Aquela outra, esclareça-se, que costuma causar risos em madames de finos salões. Basta que seja de bom calibre e o homófobo se aquieta. Nutro admiração pela presidenta Dilma e aprovo-a pessoalmente. Todavia, não entendo porque isto ainda não ocorreu. O ministro da Justiça, um dos melhores que tivemos, conhece bem o caminho. Com a homofobia criminalizada a discussão e evidente flexibilização pelo diálogo passa a ser laica no âmbito do Legislativo. Daí, tanto faz quem presida a Comissão de Direitos Humanos. Já vigora. O plenário vota, após as passagens pelas comissões obrigatórias, e permite que o Supremo Tribunal Federal – que só pode agir se provocado – se manifeste impondo a ditadura da laicidade. A medida provisória precisa ser abrangente. Para dar diapasão nacional para a discussão ampla: religião, família, adoção gay e por aí vai. Que se coloque a criminalização da homofobia para referendo popular. É a covardia dos parlamentares que mina plebiscitos e referendos de toda a ordem. Não querem obedecer ao patrão, o povo. Querem subversão, ou seja mandar no povo. Ao povo devolverá a presidente Dilma com a mazela social saneada. Aos ministros do STF se entregue a missão de dar ou retirar mérito. Quando a união gay foi legalizada pelo Supremo – e posteriormente transformado em casamento no STJ – eu não vi o Jair Bolsonaro ir gritar com os ministros togados em Plenário. Cagaço, Bolsonaro? Covarde só batem nos pequenos. Ao depararem-se com o mais forte só falta levantar o traseiro para agradecer até pontapé. A presidenta não estaria decidindo a questão. Embora, ao meu ver, devesse fazê-lo. Via MP transfere-se a causa ao Parlamento e ao Supremo. Como em ampla discussão nacional. A ultra-direita se mostra cavilosamente. Quer voltar. Todo o cuidado é pouco. É questão constitucional. Eu não quero matar o Marcos Feliciano e nem destruir a igreja do amável Bolsonaro. Milhões como eu só queremos ampla, total e irrestrita liberdade para fazer o que bem quisermos de nossas vidas laicas de cidadãos do Brasil. Basta da teocratização na já confusa democracia brasileira.

Por

Alcy Ramalho

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