GGB divulgou relatório anual sobre homofobia no Brasil

Genilson Coutinho,
15/02/2012 | 14h02

O Grupo Gay da Bahia acaba de divulgar o relatório anual – referente a 2011 – de ocorrências graves de discriminação com base na orientação sexual de gays, lésbicas e travestis em todo o Brasil. Durante o ano passado, o Banco de Dados do grupo registrou um total de 282 ocorrências motivadas por homofobia. O índice coloca o Brasil na alarmante posição de líder mundial de assassinatos à população LGBT – com média de uma morte a cada um dia e meio.

Dentro deste segmento, os gays foram disparados o grupo mais atingido, com 219 casos (77,6% do total). Em segundo lugar, vem as travestis com 36 ocorrências (12,7%), seguidas das lésbicas, com 27 casos (9,5%). O ranking também aponta que março foi o mês mais violento do ano, com 29 ocorrências registradas, enquanto maio registrou 11 casos.

No quesito geografia, em termos absolutos, os Estados do Sul e do Sudeste estão na ponta do ranking. São Paulo ocupa o primeiro lugar de crimes contra LGBT com 72 registros, o equivalente a 25% do total. O Rio de Janeiro vem em segundo com 35 casos (12%), Minas Gerais com 22 (8%), Paraná com 11 (6%) e Goiás com 10 registros (3%). Quando se compara o índice de crimes letais, a Bahia assume a liderança como o Estado onde mais homossexuais foram assassinados nos últimos seis anos.

Se levarmos esse número para dentro das regiões, Sul e Sudeste foram aos mais afetadas pela homofobia, com 67% dos casos, acompanhada pelo Nordeste com 18% e Centro Oeste e Norte com 14%.

De acordo com o antropólogo e ativista Luiz Mott, fundador do GGB e responsável pelo banco de dados, “essas estatísticas da homofobia não letal confirmam a mesma irregularidade observada nos assassinatos, pois varia muito de ano para ano o perfil nacional: a única regularidade é que todos os dias, certamente várias vezes por dia, há viados, travecas e sapatonas  sendo xingados com esses nomes insultuosos, além dos espancados, torturados, apedrejados”.

No caso da violência urbana não-letal (aquela em que o agredido não chega à morte), apesar de tanta diversidade, São Paulo lidera as agressões neste quesito. Em segundo lugar vem o Rio de Janeiro e Salvador assume a terceira posição. Belo Horizonte, Goiânia, Recife, Belém e Curitiba completam o ranking.

Vale destacar que o quadro fica ainda mais tenebroso se levarmos em conta que os dados do relatório são subnotificados, já quem nem todos os crimes são denunciados. “A maioria do segmento  LGBT vítima de violência homofóbica não registra Boletim de Ocorrência nem realiza exame de corpo de delito nos IML de suas cidades, temerosos, com razão, de serem vítima da homofobia policial ou de ter revelada por jornalistas policiais sua orientação sexual muitas vezes secreta. Tal omissão, além de subnotificar as estatísticas de crimes de ódio, indiretamente, estimula a repetição das mesmas agressões”, explica o presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira.

Numa avaliação rigorosa do relatório, o professor Luiz Mott acredita que a homofobia no Brasil chegou ao limite. “Atingimos o fundo do poço. A esperança de vida dos LGBT diminui dia a dia: à medida que mais e mais gays e lésbicas saem do armário, sobretudo estimulados pelas paradas gays e pelo movimento de direitos humanos, os homofóbicos se tornam ainda mais intolerantes e agressivos. O Governo Brasileiro tem as mãos sujas de sangue homossexual. Urge liberar o kit antihomofobia escolar e aprovar o projeto de lei que equipara a homofobia ao crime do racismo. Direitos iguais, nem menos nem mais!”, cobra o professor.