Filme sobre amor de um soldado e lider de grupo teatral é destaque no circuito de cinema em Salvador; assista ao vídeo

Genilson Coutinho,
25/11/2013 | 10h11

O longa  “Tatuagem”, de Hilton Lacerda, grande vencedor do da 21ª edição do Festival Mixbrasil deste ano e que também já havia vencido em Gramado, atraiu neste final de semana a comunidade LGBT para o Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha  com sessões concorridas nos horários de exibições.

A película conta  a relação de amor entre um jovem  soldado do exército e um líder de um grupo de teatro fio condutor de outras historias interessantes e reflexiva da repressão e censura da década de 1970, no auge da ditadura militar.

O público que compareceu deu boas gargalhadas com a irreverente Paulette umas das estrelas do grupo de teatro e silenciaram com as cenas de amor entre o artista e o jovem militar.

O filme estreia em circuito comercial  em 16 salas e em sete capitais brasileiras, Recife, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza e Curitiba.

Veja os horário de exibições aqui.

Tatuagem

Duração : 110 minutos

Drama – Censura : 14 anos

13:00; 15:10; 19:00; 21:00

Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha

Praça Castro Alves, s/n – Centro – Salvador Bahia Tel: 3011-4706 / 3322-0302

Confira entrevista da revista Junior com o ator Irandhir Santos

Confira a  entrevista da revista Junior com o ator Irandhir Santos

Em entrevista à JUNIOR #55, o pernambucano Irandhir Santos revela que apesar de expor seu corpo moreno esbelto em cenas quentes – onde não esconde nada, nem mesmo em praça pública -, na vida privada é cheio de pudores. Irandhir tem o faro para bons papéis e tem sido protagonista dos novos clássicos do cinema brasileiro dos últimos anos. Ainda fora do sistema global, já se tornou um rosto familiar dos cinéfilos por seus papéis politicamente engajados e de entrega profundamente carnal.

Foi o combatente professor Diogo em “Tropa de Elite 2”, a maior bilheteria da nossa história; o poeta Zizo de “Febre do Rato”, considerado pela crítica o melhor filme  de 2012, que lhe rendeu também vários prêmios;  o miliciano Clodoaldo em “Som Ao Redor”, filme  que representará o Brasil no Oscar; e em breve chega novamente às telas com o revolucionário homossexual Clécio de “Tatuagem”, filme que arrebatou Gramado e lhe rendeu um Kikito de melhor ator para se juntar a sua coleção.

 

Aos 35 anos, Irandhir levanta a bandeira de causas de excluídos como os sem terra e a diversidade sexual como norte de seu trabalho. O que inclui inesquecíveis cenas de sexo hetero e homossexuais. “Tatuagem” tem pré-estreia nacional dentro da programação do 21º Festival Mix Brasil no próximo dia 10, domingo, às 22h, no CineSesc (Rua Augusta, 2075).

 

Você é um ator de cinema, nem tanto de tevê ou teatro. Foi uma decisão que você tomou para sua carreira?

A minha primeira decisão em tudo foi ao ir para o Recife, estudar com o intuito de ser ator. Tive a sorte de ter esse prazer, no Ensino Médio, de professores me orientarem ao dizer que existe o tal vestibular para Artes Cênicas. Em Recife, me formei em teatro e comecei a atuar, primeiro em teatro amador e depois em teatro profissional, até que surgiu o convite para o primeiro teste em um filme. Sempre tive vontade de fazer cinema, mas tinha um sentimento de distância dessa arte adicionado à época – no meu Estado não tinha curso de cinema. Então quando surgiu o primeiro teste, eu fiz com a maior vontade. E a estratégia foi: eu quero fazer cinema para aprender. A paixão foi crescendo, fui conhecendo a arte. E de sete anos, oito anos para cá eu realmente fiz só cinema. Um buraco de saudades em relação ao teatro, no meu coração, mas o cinema me pegou.

 

O cinema do Recife tem produzido filmes muito sexuais e viscerais. Os diretores  encontraram em você um ator à altura dessa visceralidade?

Esse traço está presente no cinema pernambucano e foge da, deixa eu usar uma palavra aqui, “extra naturalidade”. Encontrei no Recife um tipo de cinema que me dá abertura para fazer o que eu gosto e me identifico.

 

Febre do Rato” e “Tatuagem” são dois filmes que tratam de um universo com uma abertura sexual muito grande. Foi complicado ou foi tranquilo para fazer isso?

Um caminho decisivo na hora de escolher um projeto é o tempo, o tempo de maturação da obra. Tanto em “Febre…” quanto em “Tatuagem” tive um tempo para conhecer a história, para experimentar coisas, para improvisação. Nos dois a figura do Hilton Lacerda presente. Eu me lembro de uma experiência muito bonita no “Febre do Rato”. Eu ia todos os dias para o quintal do Zizo, rememorar as cenas, inventava situações, às vezes chegava outro ator e a gente ensaiava. Lembro bem de uma tarde em que o Hilton foi me visitar lá no quintal e aquilo foi mágico. Para alcançar aquele personagem eu tinha que trazer para mim aqueles poemas e eram poemas pessoais do próprio Hilton, que ele quis usar no roteiro. E ele fez uma coisa linda,  naquela tarde, naquela edícula, ele confessou comigo sobre cada poema. Falou para mim para quem os escreveu, em que situação e aquilo foi de uma generosidade tão grande… eu pude assimilar aqueles poemas. Acho que ali tive um pontapé. No “Tatuagem”, Hilton fez toda uma atmosfera teatral disponibilizando espaço e convocando os integrantes para que a gente convivesse juntos, para possuir essa característica de grupo que é tão latente, de pessoas que convivem há anos. Em ambos os processos, criava-se essa afetividade. Quando você tem um sentimento desse junto com estrutura e uma equipe muito eficiente a coisa tende a dar muito certo.

 

Nos dois filmes você fica sem roupa em várias cenas, parece muito confortável atuando nu…

Sem dúvida. Ainda mais quando você encontra essas linhas investigativas no projeto. Não é por nada, é porque o corpo é uma expressão. Em ambos os casos, tanto “Febre…” como “Tatuagem”, o corpo é um instrumento de protesto. Quando se tem essa justificativa, isso torna tudo mais fácil.

 

Na sua vida particular também é tranquilo com a nudez?

Aí eu já sou um pouco mais quietinho.

 

O Zizo, de “Febre…” e o Clécio, de “Tatuagem”, têm muitas coisas em comum. Os dois são líderes de um grupo que quer mudar o mundo e não tem barreiras sexuais, seja transando com homens ou com mulheres mais velhas…

Exatamente! Mas acho que o que diferencia é a questão da solidão. De alguma forma, o Zizo, apesar de ter aquele grupo de amigos que frequentam o seu quintal, tinha uma solidão muito forte, seus ideiais muito fixados na década de 70, principalmente os poetas de rua do Recife que também foram inspiradores para o Claudio e para o Hilton. O Clécio em Tatuagem eu já vejo de uma maneira mais coletiva, com um grupo que está ali pensando com e como ele.

 

No seu trabalho, você exerce essa liderança de alguma maneira?

Isso é engraçado, eu nunca estive à frente. Na minha formação em Artes Cênicas, a gente é obrigado a dar aula em licenciatura. Estive à frente como professor, como diretor, mas confesso que é uma situação em que eu não me enquadro. Esse espírito do Clécio em relação à coletividade, liderança, me interessa mais. Eu me encaixo melhor aí, mais nessa divisão do que na liderança.

 

Você sente “Tatuagem” como teu filme também?

Se você fizer essa mesma pergunta para os integrantes do chão de estrelas, eles vão dizer a mesma coisa assim: “sim!”. O processo de nos colocar juntos lá, no tempo, um mês, todos aqueles momentos de teatro estavam escritos no papel. Porém, a transposição do papel para a cena ficou em nossas mãos, da concepção do figurino, se usar música ou não, como seria a luz, a maquiagem… a sensação de que era necessário isso, ter a cara daquele grupo. Se fosse um outro grupo, seria diferente. E enfim, é um filme que eu assisto e me emociono porque me sinto coautor. É muito bom quando o cinema de um diretor não é dele, mas da equipe. É uma sensação muito boa porque você se sente apto a criar. Não tem nada melhor para um ator.

 

Outros dois filmes teus, o “Tropa de Elite” e “O Som ao Redor”, você faz personagens muito políticos, mas de maneiras diferentes. Um denunciando e outro fazendo parte da escrotidão. Isso representa uma identificação com essas temáticas?

Sim, eu me preocupo muito com os passos na minha arte. Acho que arte é política sim, não tem como você fugir disso. É uma postura, qualquer escolha que faço. Quero muito contribuir com a minha arte para uma reflexão nossa. Como foi a do “Tropa…”. Eu já tinha um respeito e admiração muito grande pelo Marcelo Freixo. Quando soube que o papel era inspirado nele quis fazer. Principalmente hoje com essa onda avassaladora em que se quer trazer para as rédeas, deixando de lado a individualidade e a expressão da liberdade, uma coisa por baixo do pano, partido político coligado a uma igreja muito forte, dominando o meio político. Quando percebo isso, fico mais motivado em fazer esses filmes.

 

Quando você recebeu o prêmio de melhor ator no Melhores do Ano do Sesc fez um belíssimo discurso falando especificamente da importância de falar sobre a diversidade sexual. É uma questão que também te motiva?

Sem dúvida alguma. A diversidade sexual me interessa muitíssimo e que ainda é muito difícil de lidar, principalmente, no interior de Pernambuco, interior da Paraíba. Essa e as questões dos trabalhadores sem terra que lutam por seus direitos, para mim, são pontos que me fazem querer fazer um projeto.

 

A televisão carece desse tipo de ousadia?

Ainda falta abertura para isso. Não entendo o veículo televisão nesse sentido. No cinema existem mais pessoas que podem e querem falar disso.

 

Você mora no Recife e só sai para trabalhar. Também é uma escolha não mudar para o Rio e fazer parte do sistema?

Foi uma escolha mesmo, é difícil me ver morando em um lugar que não seja Recife. Gosto demais, tenho uma afetividade e carinho desde a infância. Mas tenho conseguido sim morar e trabalhar em outros lugares. Curto muito Olinda, o Recife Antigo é um ponto que frequento muito, os cafés e as livrarias, vou encontrar amigos na Fundação Joaquim Nabuco.

 

No Recife as pessoas são sexualmente mais soltas? Como você enxerga a cidade? Porque eu tenho essa impressão.

Acho que tem amarras iguais as de outras cidades. Recife está longe de ser uma cidade que tem essa diversidade plena. Porém, Recife tem um quê de boemia muito latente, uma vivência da noite, das festas muito forte. Venho percebendo que uma mudança está acontecendo na cidade com projetos e mais projetos de crescimento. Um crescimento no mínimo questionável, não nos perguntaram se queríamos tal crescimento. Estão nos colocando um novo Recife que a gente está questionando com o levantamento de grandes prédios, derrubando coisas que nos interessam. Em contrapartida para um certo grupo, essa boemia está ainda mais forte. Como uma forma de bater de frente com o que está acontecendo com a cidade. da criançada