Documentário norte-americano mostra vida em palafitas de Salvador para o mundo

Genilson Coutinho,
30/10/2012 | 11h10


Desde o início de 2012, a realidade da vida em palafitas vem ganhando o mundo, com o documentário “Da Maré” (título internacional Bay of all saints). Totalmente gravado no bairro de Massaranduba pela norte-americana Annie Eastman, o filme mostra a comunidade, acompanhando mais de perto sete moradores, com seus sonhos e a luta por um futuro mais digno. Premiado no festival SXSW (Austin – Texas) e no Woods Hole Film Festival (Massachusetts); e exibido na Irlanda, Canadá, Inglaterra e várias cidades dos EUA; o documentário é inédito na Bahia e no Brasil foi exibido apenas no último festival “É tudo verdade” (São Paulo e Rio de Janeiro).

O filme será apresentado no VIII Panorama Internacional Coisa de Cinema no dia 30 de outubro, às 18h, com representantes da equipe de produção e da comunidade. Após a sessão, todos realizarão um bate-papo com o público. Até o momento, apenas os personagens centrais da comunidade viram o trabalho 100% finalizado, quando viajaram para assisti-lo no Rio de Janeiro, durante o “É tudo verdade”. “Partilhamos muitos sentimentos com pessoas que a gente nem conhecia, foi uma experiência maravilhosa. Teve gente que viu em São Paulo e viajou para o Rio para conversar conosco”, conta Genilza Lima Ferreira, a Geni.

O documentário acompanha a comunidade entre 2004 e 2011, período no qual Annie fez duas ou três viagens anuais para filmar. A ideia surgiu a partir da notícia de que o governo iria erradicar as palafitas, o que ainda não aconteceu. Ela conhecia a comunidade desde 1999, quando trabalhou como voluntária no Grupo de União e Consciência Negra (Grucon), organização não governamental local. O filme gira em torno de Geni, Maria e Jesus, três mães que cuidam sozinhas de suas famílias. O elo entre elas é Norato, eletricista que supervisiona as precárias instalações dos barracos erguidos na maré e por isso é uma espécie de confidente da comunidade.

“Da Maré” mostra que a promessa do governo em oferecer novas moradias aumentou a instabilidade na comunidade, que passou a viver com uma expectativa crescente. Como as novas casas demoraram a chegar, essas mulheres, e todos os demais moradores, se uniram para lutar pelo futuro prometido. Atualmente as figuras centrais do documentário vivem em casas alugadas pelo governo, mas a vida nas palafitas continua existindo. “A gente quer acabar com isso a partir do filme”, afirma Geni.

O documentário também traz entrevistas com representantes do governo, por meio da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), órgão responsável pelo projeto de erradicação das palafitas. A expectativa de

Annie é que o filme impulsione a conclusão do trabalho e que todos conheçam o perfil guerreiro daquela comunidade. O documentário foi produzido de forma totalmente independente, a partir de recursos da diretora, que se hospedava nas palafitas quando vinha a Salvador.

No período de realização de “Da Maré”, ela trabalhou na produção de “Mataram Irmã Dorothy”, documentário que acompanha a repercussão do assassinato da freira Dorothy Stang e é narrado por Martin Sheen. O filme foi indicado para o Emmy e pré-selecionado para o Oscar 2009. Annie também integrou a equipe de produção de “The last campaign of Governor Booth Gardner”, indicado ao Oscar 2010 na categoria Melhor Documentário Curta-metragem; e de “Iron Ladies of Libéria”, exibido no Festival de Cinema de Toronto (Canadá) e em emissoras de TV de mais de 50 países.

O filme terá uma segunda exibição na programação do VIII Panorama, dia 1º de novembro, às 16h20, novamente com realização de debate.