Demonização eleitoral dos gays

Redação,
18/09/2012 | 09h09


A nota da Igreja Católica contra Celso Russomanno é baseada num artigo leviano do bispo licenciado da Igreja Universal e coordenador de sua campanha, acusando os padres de estimular a distribuição do chamado “kit-gay”. Essa é uma obsessão religiosa de evangélicos, católicos, islâmicos e judeus –e fonte de perversidades.
Está aí um bom momento para debater essa questão, já que, por conta das eleições municipais, entrou na agenda –e da pior forma possível. Os homossexuais são vítimas cotidianas de diferentes tipos de violência, a começar nas escolas, onde se formam ou se reforçam os preconceitos. O que devem fazer os governantes? Ficar de braços cruzados em nome dos princípios religiosos?
O sensato –mais do que sensato, a obrigação– dos governantes é tentar ajudar os estudantes a saber conviver e respeitar a diversidade. Ou devemos levar para dentro das escolas cartilhas religiosas que estimulem a segregação?
O chamado “kit gay” foi preparado por educadores e especialistas para evitar a violência que acompanha a demonização das minorias. Mas como evangélicos fazem parte da base do governo, Dilma Rousseff ajudou a enterrar essa material. Como se sabe, o PRB apoia seu governo.
Mas como religião vira cada vez mais assunto eleitoral, com a conivência dos candidatos e dos partidos, somos obrigados a ver olhares medievais orientando políticas públicas.
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O pior é que os gays, já massacrados normalmente, não sabem nem reagir e apanham calados. Mas eles ajudam a projetar o melhor de São Paulo: ser uma cidade da diversidade.

Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.
Artigo Originalmente publicado na Folha de São Paulo