Artistas da Bahia e de outros estados do Brasil, influenciados pela obra do músico, pesquisador e professor suíço Walter Smetak, vão se reunir para celebrar também a poesia do artista. Poética de Smetak consiste em um site que vai reunir 60 poemas inéditos do suíço naturalizado brasileiro, que viveu na Bahia entre 1957 até a sua morte, em 1984, com alguns textos que vão inspirar a composição de músicas instrumentais. Os poemas vão ganhar vídeos e áudios narrados por artistas como Adriana Calcanhotto, Carlinhos Brown, Rebeca Matta, Russo Passapusso, Nancy Viegas, Robson Poeta du Rap e João Carlos Victor; o poeta James Martins; os escritores Edson Migracielo e Emmanuel Mirdad; o ator Oswaldo Rosa e a cineasta Ceci Alves. Jornalista e neta de Smetak, Jéssica Smetak também participa da homenagem.
O site Poética de Smetak (http://www.poeticadesmetak.com.br/) será lançado em uma live no YouTube (https://tinyurl.com/yfjz8amm) que acontece no dia 30 de abril, às 19h, reunindo os curadores do projeto, os músicos Tuzé de Abreu, Ícaro Smetak e Uibitu Smetak – estes dois últimos também professores e neto e filho do músico, respectivamente. O trio foi o responsável pela seleção dos poemas que ficarão disponíveis no site. Bárbara Smetak, filha e responsável legal pela salvaguarda do acervo, que assina a consultoria técnica do projeto, e Elaine Hazin, diretora-geral do Poética de Smetak, também participam da live. O projeto é realizado pela Somos Comunicação, com co-realização da Via Press Comunicação.
As poesias fazem parte de originais de livros inéditos, nunca publicados pelo autor. São eles A Aleatória, Mônada, e Canções – Para Crianças Grandes e Adultos Pequenos. Poética de Smetak tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.
Conhecido por sua experimentação e criação de processos inovadores na música brasileira, as poesias nunca publicadas do músico vão inspirar a criação de músicas instrumentais inéditas. Participam desse processo de composição os músicos Jaques Morelenbaum, Vladimir Bomfim, Marco Scarassatti, Chico Gomes, além dos curadores do projeto, Tuzé de Abreu, Uibitu Smetak e Ícaro Smetak.
“A iniciativa condiz com as ideias do artista que sempre acreditou que as artes deveriam ser acessíveis. Inclusive Smetak experimentava criar instrumentos com materiais simples, baratos, como canos de PVC, vassouras, gravetos e outros. Criar um site gratuito que permita amplo acesso à parte do acervo de Smetak é uma proposta que tanto reafirma a necessidade das artes se aproximarem das pessoas, independente de segmentações socioeconômicas, quanto populariza a obra do artista, que constitui parte relevante e ímpar da memória da cultura baiana e não pode ser esquecida”, defende Elaine Hazin.
O cantor, compositor, e um dos curadores do projeto, Tuzé de Abreu, destaca que, como ainda não há traduções em outras línguas, os leitores do português são favorecidos com o material que será disponibilizado no projeto. Tuzé destaca a universalidade do trabalho de Smetak nas múltiplas áreas das artes em que ele atuou: “Por enquanto, como não temos traduções ainda, o leitor de português é favorecido. Mas suas ideias são absolutamente universais. Gilberto Gil certa vez escreveu um texto sobre Smetak onde diz mais ou menos: ‘detentor de vários recordes de profundidade’. E que dizer dos mais de 150 objetos de arte criados e/ou construídos por ele? A maioria deles conhecidos como instrumentos musicais. Este trabalho foi premiado numa Bienal Nacional. Ele escreveu 32 livros. Dois foram publicados. Agora a Somos Comunicação e a Via Press realizam, junto com a família Smetak, de sangue e de alma, um evento que pretende mostrar, pelo menos um pouco, das possibilidades deste multiartista improvável, impossível”.
Filho de Walter Smetak, o músico Uibitu Smetak explica que a obra e o pensamento de Smetak, no seu conjunto – música, plástica, poesia e dramaturgia – sempre será um farol para outros artistas e pensadores: “Nela há algo de perenemente fresco e encantador, pontiagudo e instigante, leveza e constrição, o paradoxal que nos move. Por mais que o tempo passe, Smetak continua produzindo mistérios, abrindo sendas, não só no universo musical, mas sobretudo na busca espiritual que a música pode engendrar. O projeto Poética de Smetak confirma a significância do guru suíço-baiano para a música brasileira e oferece um mergulho em um cosmos quase intocado de matizes e nuances, ideias e imagens. Por toda essa riqueza, Smetak seguirá despertando a curiosidade de muita gente pelo mundo”.
Sobre Walter Smetak
Músico violoncelista, compositor, inventor de instrumentos musicais, escultor e escritor, Walter Smetak nasceu em Zurique (Suíça) em 1913 e veio ao Brasil em 1937, a convite de um de seus professores de música, para tocar em uma orquestra em Porto Alegre (RS). Mais tarde, passou a tocar em rádios, cassinos e bailes no eixo Rio – São Paulo. No fim da década de 1950 chega à Bahia, convidado pelo maestro Hans-Joachim Koellreutter a lecionar nos Seminários Livres de Música da UFBA – um projeto do então reitor Edgard Santos. Esse núcleo de produção de conhecimento foi fundamental para o surgimento do movimento Tropicalista, 10 anos mais tarde.
O trabalho de Smetak influenciou grandes nomes da MPB, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Rogério Duarte, Gereba, Tuzé de Abreu, Djalma Correia, Marco Antônio Guimarães, Gerônimo, entre outros. Ao longo da sua carreira, gravou dois discos, escreveu três peças de teatro, escreveu mais de trinta livros, além de criar mais de 150 instrumentos-esculturas, as conhecidas “plásticas-sonoras” smetakianas.
Smetak passa a frequentar a Sociedade Brasileira de Eubiose (anteriormente Sociedade Teosófica Brasileira) ainda na década de 1950. Desde então, o compositor passa a orientar sua produção musical no sentido de “religar” integralmente as dimensões do sagrado, profano, divino e humano; além de ouvir o som, vê-lo, tocá-lo, sentí-lo. Assim, procura desenvolver instrumentos que deem conta desse objetivo. É por meio dessa filosofia que Smetak procura então trabalhar com as frequências mínimas perceptíveis, gerando composições baseadas em microtons e na análise do som. E isso o consagraria no cenário das artes do Brasil e fora dele. O artista faleceu em Salvador, em 1984.