Comportamento

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Conferência debateu questões das mulheres transexuais

Genilson Coutinho,
16/09/2015 | 10h09


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Entre 10 e 11 a Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, em Brasília, promoveu  a Conferência Livre de Mulheres Transexuais. A abertura do encontro contou com a presença da ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, do ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Pepe Vargas, representantes de entidades, além de 30 mulheres transexuais.

A reunião faz parte das preparações para a 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, programada para março de 2016. A iniciativa tem caráter propositivo e mobilizador, com o objetivo de garantir a participação das mulheres em sua diversidade, em especial, grupos que historicamente enfrentam maior dificuldade de participação social.

A ministra Eleonora Menicucci destaca que esses encontros colocam as mulheres como protagonistas das decisões que serão tomadas na conferência de 2016. “Temos a responsabilidade de colocar os temas debatidos no âmbito das diferentes políticas públicas. Precisamos saber como vocês se sentem em relação à temáticas como justiça, educação e emprego, por exemplo. Ninguém sabe dizer melhor do que vocês a dor que sentem.”

“Ainda temos muita discriminação na sociedade brasileira e precisamos de políticas para mudar isso”, ressaltou o ministro Pepe Vargas sobre a importância da conferência. “É um absurdo o estatuto da família que estão tentando aprovar no congresso”, criticou o ministro.

Durante a conferência, foram debatidas as estruturas institucionais e as políticas públicas desenvolvidas para as mulheres no âmbito municipal, estadual e federal. As mulheres transexuais presentes tiraram dúvidas sobre a conferência do ano que vem e expuseram anseios e angústias a respeito de aceitação e oportunidades sociais.

A gestora pública Ângela Lopes, chefe da Divisão de Políticas para Diversidade Sexual da Prefeitura de São Carlos (SP), uma das idealizadoras da campanha “Sou Trans e Quero Dignidade e Respeito”, reclama da dificuldade no atendimento em delegacias e abrigos. “Somos mulheres, nem mais, nem menos.”

 

Militante de Goiânia, Rafaela Damasceno lamentou a dificuldade das mulheres trans para entrarem no mercado de trabalho, mesmo com diploma superior. “Querem nos invisibilizar, só dão espaço para gays e lésbicas”, queixou-se.

A advogada Luísa Helena Stern, de Porto Alegre, reiterou a necessidade de apoiar o projeto de Lei João Nery, de autoria do deputado federal Jean Wyllys (Psol-RJ), que assegura o direito da identidade de gênero das pessoas transexuais na documentação e para fazer o processo de transexualização no âmbito do SUS.

Luta e superação

Chopelly Santos, 33 anos, é membro do Conselho Nacional de Combate à Discriminação de LGBT, da Secretaria de Direitos Humanos. Para ela, o respeito começou em casa. “Levou algum tempo, mas hoje minha mãe me aceita como sou. Minha família se permitiu”, conta.

Durante o curso técnico em enfermagem, já militante, Chopelly se impôs. “Eu me sentia empoderada, ninguém iria coibir meus direitos”, conta ela, também integrante da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans-PE).

Na infância, Aline Marques, 37 anos, perdeu o pai, morto pela mãe ao descobrir um adultério. Aline foi criada por parentes. “Achavam que eu seria gay, foi uma surpresa para eles quando fiz a primeira plástica”. Durante 20 anos, ela trabalhou com prostituição entre Brasil e Itália. “Nossas opções não se limitam à rua ou salão de cabelereiro. Mas quando levamos o currículo para uma empresa e leem nosso nome na identidade, não ligam de volta”, reclama.

Hoje, Aline é presidente da ONG Grupo de Resistência de Travestis e Transexuais Ativistas de São Paulo (GRETTA-SP) e bolsista do programa Transcidadania, projeto da prefeitura de São Paulo que dá bolsas de R$ 827,40 reais para quem cumprir 30 horas de aulas semanais. “Podemos trabalhar com qualquer coisa, mas precisamos de oportunidade. A travesti não é menos mulher, nem menos capaz”.

Com o lema “Mais direitos, participação e poder para as mulheres”, a 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres será realizada em Brasília, de 15 a 18 de março de 2016.

Do Portal Brasil