Música

Brinsan N’Tchalá faz conexão Brasil-África em seu álbum de estreia

Redação,
04/05/2021 | 17h05
(Foto: Gabriel da Silva)

A cantora e compositora curitibana Brinsan N’Tchalá lança seu álbum de estreia intitulado Álbum Respeito. São oito canções onde Brinsan faz uma ode à sua ancestralidade africana, onde além de cantar em português, também canta em criolo e balanta, idiomas da Guiné Bissau, numa mistura de Afrobeats, Kuduro Angolano e Afrohouse. Para isso, convocou Moses Tertsea Ade, da Nigéria, e Júnior no Beat, da Angola, para produzir os beats de algumas faixas. Os brasileiros André Canali e Leonardo Ekord completam o time. Ela apresenta também o clipe de “Respeito”, segunda faixa do álbum, onde faz referência à riqueza, à beleza, às coisas boas e leves da vida das mulheres negras.

Brinsan é filha de Francisco N’Tchalá (in memorian), revolucionário da Guiné Bissau que fez parte dos quadros responsáveis pela independência do país, em 1974. Ao imigrar para o Brasil, foi um dos fundadores do Movimento Negro Unificador em Curitiba (MNU). Com ele, a artista aprendeu a não se curvar para a branquitude e a todos os sistemas opressores de silenciamento. E é essa força e orgulho em ser negra que ela apresenta em seu primeiro álbum.

Álbum Respeito não é apenas um resgate à cultura afro, mas toda uma produção musical que contou com a participação de africanos. Trazendo o Afrobeat, ritmo que está presente no mundo e vem crescendo a cada dia no Brasil, o meu trabalho conta com beats produzidos por beatmakers africanos, como o produtor musical nigeriano Moses Tertsea Ade e o produtor angolano Júnior no Beat”, conta a cantora. 

Vale ressaltar que o Afrobeat presente na obra não é o ritmo à brasileira popularizado nos anos 90 pela trupe pernambucana liderada por Chico Science. O Afrobeat em questão é uma mistura de funk, highlife, jazz e música yorubá, que nasceu com Fela Kuti, na Nigéria dos anos 70. Hoje o ritmo se expandiu e modernizou, ganhando diferentes nuances em cada lugar da África e, assim, sendo exportado para o mundo.

“O álbum navega pelos universos de uma jovem mulher negra com descendência africana: empoderamento feminino e negro; justiça social, homenagem aos ancestrais e é claro, amor e charme através dos ritmos envolventes da Kizomba Angolana”, completa Brinsan.

A faixa “Guardiões da Kalunga” abre o Álbum Respeito como uma saudação à Exu, Orixá guardião das portas e dos caminhos. Logo em seguida, vem “Respeito”, música que ganhou clipe, e onde há trechos na Língua Criolo e na Língua Balanta de Guiné Bissau. Essa última é a etnia da qual a artista faz parte, já que seu pai é um homem Balanta de Guiné Bissau. “Dembô” e “Nha Papé” também resgatam a sua forte conexão com seu pai. Em “Eu Vou Chegar Lá”, Brinsan fala sobre dias melhores que virão. “Leve e Solta” e “Quando Cê Chega Assim” são sobre amores e desejos. E “Louvação” fecha o álbum, honrando à ancestralidade, aos Orixás e aos espíritos guerreiros.

OUÇA ÁLBUM RESPEITO: https://open.spotify.com/album/0O13WJmBMKQCGL2hjo0yUg?si=dHqZd_WjQ8KVB_2oRkA4dQ&dl_branch=1 

O CLIPE DE “RESPEITO”

Brinsan teve em sua trajetória uma série de restrições a tratamento digno por conta do racismo e machismo ainda tão presentes na sociedade. E é justamente sobre empoderamento negro e feminino que a letra da música fala. O videoclipe, dirigido e roteirizado pela própria artista, traz uma série de simbolismos africanos: quadros, roupas, cores, imagens e também a participação de dançarinas angolanas. A beleza das imagens e a imponência trazidas à obra são um destaque a um novo paradigma urgente e necessário ao cenário atual brasileiro, que vai além dos conceitos ultrapassados, mas que com frequência são reeditados nas produções audiovisuais que são criadas utilizando a imagem de mulheres negras.

“A música e o videoclipe de ‘Respeito’ são preciosidades. Retrata a realidade de tantas mulheres negras que precisam exigir respeito em situações simples para a maioria das pessoas, mas que na nossa vida cotidiana são um grande problema”, explica Brinsan. “O básico ainda não foi alcançado no que tange à direitos e tratamento digno, e enquanto essa for uma realidade, mais vozes como a minha terão que se levantar em busca de respeito”.

A artista acredita que o chamado de “Respeito” é justamente à reconexão com uma parte da África que pouco se fala: a riqueza, a abundância, a beleza e o resgate a reinados grandiosos do continente, apagados pela história neste país.

“Um povo com referências e memória é um povo livre”, finaliza.

ASSISTA “RESPEITO”: