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Barriga de aluguel para LGBTs em Israel abre debate entre feministas

Redação,
18/01/2022 | 21h01
(Foto: Divulgação)

Em janeiro desta ano, Israel suspendeu as restrições que impediam casais gays, homens solteiros e transgêneros de se tornarem pais por meio da surrogacia, cumprindo assim uma decisão da Suprema Corte do país.

“Hoje, estamos pondo fim a anos de injustiça e discriminação. Todos têm direito à paternidade”, disse o Ministro da Saúde, Nitzan Horowitz, o segundo membro abertamente gay do parlamento israelense.

No entanto, algo que parecia ser mais uma conquista para a comunidade LGBTQIA+, passou a ser criticada por setores feministas da sociedade israelense que enxergam a nova medida como uma “validação” de um processo de mercantilização do corpo.

Este foi o assunto do podcast “E eu com isso?”, que contou com a participação de Elisa Tetelbom Schucmann, uma mulher judia, lésbica, médica gineco-obstetra e mãe, e Márcio Albino, jornalista, gay, educador social de HIV/Aids no Grupo Dignidade e idealizador dos Voluntários Arco-Íris, organização comunitária LGBTQIA+ em Curitiba (PR). Os dois, que são ativistas LGBTQIA+ e fazem parte do coletivo Ga’avah (coletivo LGBTQIA+ do IBI), conversaram com as apresentadoras Amanda Hatzyrah e Anita Efraim.

No episódio do podcast, os convidados discutiram questões complexas sobre como fica a situação física e psicológica dessas mulheres depois da surrogacia, e se é de fato uma escolha, quando na maioria das vezes essas mulheres se submetem ao procedimento por necessidade financeira.

Para Márcio Albino, que abriu a conversa no episódio explicando os conceitos e a situação dos direitos garantidos à população LGBTQIA+ em Israel, “a Suprema Corte de Israel entendeu que era injusta essa desigualdade ao acesso da surrogacia para os casais gays”, disse o jornalista.

O jornalista também chamou a atenção para os estigmas lançados contra Israel por setores progressistas por meio da acusação de pinkwashing (“lavagem de rosa”), quando o assunto envolve a comunidade LGBTQIA+, coisa que se viu nos comentários das páginas de quase todos os jornais brasileiros que noticiaram o assunto.

“Acusações de pinkwashing ignoram o fato de que nem toda conquista LGBTQIA+ em Israel vem do Estado. Não é o Estado que quer se autopromover e gera uma conquista. As conquistas vêm porque existe um movimento LGBTQIA+ que pressiona o governo o tempo todo”, afirma Albino.

Já a médica gineco-obstetra, Elisa Tetelbom Schucman, falou sobre as questões trazidas por um setor das feministas sobre a surrogacia e os efeitos físicos e psicológicos na mulher, durante o processo. “Há muita polêmica e discordância. Algumas feministas defendem que é um direito da mulher “se vender”, e que se ela quer “se vender” vai ser para quem ela quiser, homens gays ou casais heterossexuais. Mas eu acho que não dá para deixar de olhar para as mulheres que são vítimas desse processo”, contou Elisa.

“Em Israel, já se tem dados: os casais ou as mulheres solteiras contratantes têm mais educação e mais renda do que as mulheres contratadas. E a maior parte das mulheres contratadas diz que está fazendo aquilo por uma questão financeira. Se é direito da mulher vender o seu corpo e ajudar a trazer uma vida ao mundo, por que só as pobres o exercem? Por que não tem rica fazendo isso?”, completa a médica.

O “E eu com isso?” é o podcast do Instituto Brasil-Israel (IBI). Com convidados diferentes, aprofunda questões éticas, religiosas, políticas e socais. Disponível em diversas plataformas. Confira!