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Ativistas consideram que Bolsonaro cometeu crime ao disseminar fake news sobre aids e Covid-19

Genilson Coutinho,
26/10/2021 | 18h10

A afirmação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de que pessoas que tomaram duas doses da vacina contra o novo coronavírus e estão desenvolvendo aids continua repercutindo no Brasil. As falas do mandatário, que é mentirosa, foram proferidas na última quinta (21) durante sua live semanal e desmentida por cientistas e especialistas. Nessa segunda-feira (25), parlamentares de oposição protocolaram uma notícia-crime no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente.

Ativistas ouvidos pela Agência de Notícias da Aids disseram que os parlamentares acertaram ao acionar o STF. “Depois de anos de luta para ampliar a informação e desmistificar mitos e inverdades sobre a infecção pelo HIV, ter o Presidente da República propagando notícia falsa e disseminando o medo é inadmissível”, disse Eduardo Barbosa, coordenador do Centro de Referência e Defesa da Diversidade Brunna Valin.

De Manaus, a ativista Evalcilene dos Santos, acrescentou que “o presidente Bolsonaro vem acabando com o Brasil e destruindo todas as políticas públicas, principalmente da saúde, ele nega a ciência e o direito à vida de muitos brasileiros.” Ela considera “muito importante a iniciativa dos parlamentares de entrar com um processo de notícia-crime, alguém precisa frear o Bolsonaro, ele não pode associar vacina contra a covid-19 e aids.”

Para o ativista Vando de Oliveira, do Ceará, Bolsonaro “não apenas negou a vacina, ele agrediu as mais de 900 mil pessoas que vivem com HIV/aids no Brasil.”

Leia a seguir o que dizem os ativistas:

Evalcilene dos Santos, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “O presidente Bolsonaro vem acabando com o Brasil e destruindo todas as políticas públicas, principalmente da saúde, ele nega a ciência e o direito à vida de muitos brasileiros. Ele compartilha essas notícias falsas para destruir e matar a população brasileira. Não podemos nos calar diante deste crime. Considero muito importante a iniciativa dos parlamentares de entrar com um processo de notícia crime, alguém precisa frear o Bolsonaro, está na hora de acabar com as fake news, mais pessoas vão morrer. É um absurdo e vergonhoso um presidente informar nas redes sociais que uma vacina causa aids, as pessoas precisam acordar, a população não quer morrer. Disseminar informações falsas é terrorismo, vacinas salvam vidas. Esperamos que um presidente proteja a sua população, e não a leve ao risco de morte. Nós não precisamos que ele fique reforçando o preconceito contra as pessoas que vivem com HIV/aids, isso é um desserviço para a população. Disseminar essa informação é um reforço ao preconceito.”

Eduardo Barbosa, coordenador do Centro de Referência e Defesa da Diversidade Brunna Valin: “Depois de anos de luta para ampliar a informação e desmistificar mitos e inverdades sobre a infecção pelo HIV, ter o Presidente da República propagando notícia falsa e disseminando o medo é inadmissível. Com estas posturas o Presidente traz o descuidado frente a Covid-19 e amplia o estigma que sempre rondou o HIV. Isto não deviria nos espantar vindo desta pessoa, que sempre propagou a discriminação e preconceito, porém pelo cargo que ocupa e pelos seguidores que tem ganha proporção de crime contra a nação.”

Vando de Oliveira, da secretaria política da Anaids (Articulação Nacional de Aids): “A propagação de fake news do presidente em sua última live nada mais é do que uma sequência de agressão ao povo brasileiro que repetidamente ele vem fazendo em todo o seu mandato. Ele não apenas negou a vacina, ele agrediu as mais de 900 mil pessoas que vive com HIV/aids no Brasil, o que vem fazendo desde antes de sua eleição.  A Anaids repudia a reprodução de mentiras do presidente e esperamos que a notícia crime seja acolhida pelo STF, e que o supremo tome todas as providências necessárias, já que o presidente da Câmara não acolheu dezenas de pedido de afastamento do chefe do executivo brasileiro.  Bolsonaro receba todo o repúdio do Movimento Brasileiro de Luta Contra Aids, especialmente de quem vive com HIV.”

Moysés Toniolo, representante do Movimento de Aids no Conselho Nacional de Saúde (CNS): “Considerando que as declarações da presidência se constituem CRIME enquanto violam os direitos de NÃO discriminação das PVHA (Pessoas Vivendo com HIV e Aids no Brasil), haja vista termos desde 2014 a Lei 12.984, creio ser a medida mais acertada apresentar “Notícia Crime” contra Jair Bolsonaro, tendo em vista esta pessoa não compreendeu que a função pública da Presidência não lhe dá poderes pra isentar de responsabilidades civis e criminais pelos seus atos de ódio e incitação a violência e discriminação contra várias Populações. Apoiamos e elogiamos o PSOL e o PDT por ainda fazerem resistência democrática no campo progressista da esquerda no Brasil, e terem tomado a atitude de confrontar o CRIME impetrado pelo Presidente da República contra as PVHA. Certamente, mais uma vez, se configura a intencionalidade de provocar ódio na população contra pessoas que LUTAM POR VIVER, como se não bastasse o eterno estigma e preconceito existente na sociedade, apesar de VÁRIOS AVANÇOS científicos como o CONSENSO I = I – pessoa com carga viral indetectável NÃO transmite o vírus  HIV, que a mais de uma década possui evidências adotadas em diversos países e na OMS  – Organização Mundial de Saúde. Desta forma, não só a discriminação INSTITUCIONALIZADA na fala do presidente FERE nossos direitos humanos, e direitos civis constitucionais, como também procura novamente retirar a credibilidade sobre a importância da vacina para diminuir doença causada pelo COVID-19 e também mortes, o que considero um DESSERVIÇO para a população, um novo CRIME pela propagação de MENTIRAS, através das fake news.”

Américo Nunes Neto, do Movimento Paulistano de Luta Contra a Aids: “Essa atitude é um (DES)serviço para a população e ignorar as autoridades em saúde e a ciência é de tamanha inabilidade. Ainda que a informação seja equivocada de outra agencia de comunicação, me espanta tamanha ignorância em não saber as formas de infecção pelo HIV e que primeiro se infecta com o vírus, Aids é um outro processo. Absurdo e negacionismo e a tamanha falta de informação deste indivíduo e principalmente de seus assessores. Um chefe de Estado governa para o povo e não somente para quem lhe convêm. Onde ele quer chegar com tudo isso? Que governo é esse?”

Salvador Corrêa é escritor, sanitarista e membro da Rede Nacional de Pessoas Vivedo com HIV/Aids no Rio de Janeiro: “O presidente da república tem atacado as pessoas com HIV desde o início de seu governo, com redução da pasta do HIV e AIDS no Ministério da Saúde, chamando as pessoas com HIV de despesa, reduzindo recursos para pesquisa da CAPES, diminuindo campanha e ações de prevenção. Não satisfeito em desmantelar as conquistas públicas na resposta à AIDS, ele segue no ataque ideológico que atua nos egos inflamados. Sua agenda é claramente destrutiva, perigosa e inflamada. Associar a vacina contra COVID-19 à AIDS é um nível de crueldade consciente e criminoso contra a saúde pública. A justiça precisa de mais firmeza diante de constantes gravidades e atentados contra a saúde pública. As plataformas digitais tardam a criar ações para bloquear a proliferação da cultura do ódio. Alguns anos atrás o Ministério da Saúde desconstruía as históricas fake news da aids que sempre disseminaram pânico moral, medo e estigma. Hoje a fake news vem do chefe do poder executivo. É preciso frear a fábrica de fake news com inteligência, envolvendo a sociedade civil nesse processo e escolher a história que faremos daqui para frente. É preciso substituir a cultura do ódio pela cultura da paz. Não o silenciamento e opressão – pregado por ditadores. Mas um espaço possível de reconstruir as bases solidárias, o diálogo honesto, a fluidez artística para reacender nossa sensibilidade empática e reerguer nossa humanidade, como a fênix, renascendo das cinzas, da nossa capacidade de transformar e semear um futuro melhor. Nos tempo em que a morte tanto circula nossa sociedade, nossos pensamentos e algumas ações, é preciso relembrar da luminosa frase do Herbert Daniel: Viva a Vida! No movimento de aids, aprendemos a olhar para a vida, mesmo quando tudo no entorno é morte. Repetiremos quantas vezes forem necessárias: Viva a vida! VIVER É UM ATO DE RE-EXISTÊNCIA.”