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Até 1983 nós mulheres fomos proibidas de jogar futebol

Livia Ferreira,
08/02/2021 | 10h02

O futebol feminino repudia a fala realizada pelo comentarista Sérgio Ramos, na última terça-feira(02), no blog Soul Santista, o ex-conselheiro do Santos trouxe um comentário marcado de ódio, preconceito, machismo e misoginia. A fala de Sérgio nos fez lembrar décadas passadas em que mulheres eram proibidas e perseguidas para não praticar esportes no Brasil, o decreto-lei N° 3.199, de 14 de abril de 1941, dizia: “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”.

Era caso de polícia, mas diversas mulheres o faziam na clandestinidade, nunca paramos de jogar, o futebol na várzea, na rua, nas festas e eventos de caridade, estávamos lá desafiando toda e qualquer tensão criada na Era Vargas, “a essência feminina” em que as masculinidades tóxicas presentes nas partidas de futebol feminino.

Sabemos que a mão inquisidora do Estado, fortaleceu o que já vivíamos, dentro das nossas casas e nas ruas, através das discussões, seja com pai, irmãos, tios, namorados ou maridos e vizinhos. Após 40 anos, tivemos a condição de participar dos diversos espaços esportivos, principalmente o futebol sem proibições, a regulamentação do futebol feminino veio em 1983, graças à luta de jogadoras e a relevância econômica internacional. A proibição, no entanto, tem reflexos negativos no esporte até hoje, com o pouco incentivo ao futebol feminino e a falta de patrocinadores.

Ainda lutamos, pelos investimentos para divisões de bases dentro e fora dos clubes, a profissionalização das profissionais de futebol como jogadoras, técnicas, arbitras, massagistas, preparadoras físicas e outras que talvez não foi mensurada.

Em pleno século XXI, nos deparamos com muitas mazelas, opressões, violências e violações de direitos, além das práticas machistas, sexistas, misóginas, racistas e LGBTfóbicas.

Não aceitaremos mais os comentários preconceituosos de Sérgio Ramos e de nenhum outro ser, queremos respeito e política pública para o enfrentamento as diversas vulnerabilidades, investimentos e financiamentos equânimes ao futebol feminino. Pois a FIFA impôs que os clubes existentes deveriam investir nos Campeonatos Femininos das Séries A em todo mundo.

No Brasil, o clube que não estiver dentro das regras do licenciamento, de acordo com a Confederação Brasileira de Futebol – CBF estará sujeito a ficar de fora das competições que exigem a licença, como por exemplo, a Série A do Brasileiro, Copa Sul-Americana e Libertadores. A posição da entidade, no entanto, é de primeiro assumir o papel de orientar, ao invés de punir.
Contudo, agradecemos todas as atletas/jogadoras, técnicas e técnicos que nos antecederam e também para essa nova geração que não deixou “a bola cair”.

Machistas e misóginos não passarão. E que Sérgio Ramos possa fazer uma retratação em cadeia nacional e nas diversas redes sociais.

*Lívia Ferreira é Bacharel em Administração, Atriz, Conselheira Nacional de Direitos Humanos e integra o DIFIN/SETRE, Coletivo LESBIBAHIA, Rede Sapatá, Rede de Mulheres Negras da Bahia e UNALGBT.