As coisas serão melhores, mas só se você trabalhar para isso por João Barreto

Genilson Coutinho,
18/04/2011 | 00h04

O tempo todo você é bombardeado com informações, inclusive informações sobre tipos físicos e padrões de comportamento que você deve seguir para ser aceito socialmente, as pessoas que você deve imitar e as atitudes que você deve ou não deve tomar. Você recebe isso culturalmente – pelos livros que lê, pelas novelas e filmes que assiste -, você recebe isso no convívio social e no convívio familiar. E de onde vem a calma? A calma vem de um modelo ético sólido aprendido na escola, na família, nos livros, nos filmes (etc) através dos filtros da inteligência. Ainda assim, sempre tem alguém que vai vir a você e te dizer que você é magro demais ou gordo demais, ou que suas roupas são alternativas demais ou clássicas demais. E pior, virão a você dizer que você é gay demais ou negro demais ou pobre demais. E por aí vai…

Se você escuta essas críticas estapafúrdias de seu chefe, pode ser um caso de assédio moral; se você as ouve de colegas de colégio e há relação de hierarquia ou disparidade de forças envolvidas, pode ser bullying e, a essa altura do campeonato, todos nós, brasileiros, sabemos no que o bullying pode resultar quando não é tratado como questão de saúde pública.

Pois foi justamente o assédio contra homossexuais (ou contra os LGBT em geral) nas escolas americanas que resultou em altíssimos índices de depressão e suicídio entre aqueles jovens. De nossa parte, não há estatísticas oficiais. Os prováveis suicídios de jovens gays aqui no Brasil não estão listados. De acordo com o jornal Folha de São Paulo, em 2008, 711 brasileiros entre dez e 19 anos se suicidaram; não há números específicos sobre gays. E também o suicídio é a quarta maior causa externa de morte de jovens entre 15 e 19 anos (a primeira é homicídio). Enquanto o nosso governo e as nossas famílias ainda estão acordando para o bullying nas escolas, que aqui no Brasil assume características muito específicas dado ao nosso contexto histórico escravocrata e racista, e enquanto sequer temos políticas públicas para lidar com os jovens LGBT, um jornalista americano tomou uma atitude que resultou no Projeto It Gets Better, ou “Vai Melhorar”.

Quando Dan Savage soube de suicídios de Justin Aaberg e Billy Lucas, ele pensou que gostaria de ter tido a oportunidade de conversar com aqueles rapazes cinco minutos antes de eles se matarem. Fora do armário desde os treze, Justin se enforcou aos quinze no seu quarto por conta de perseguições no colégio. Billy, que também tinha quinze anos, usou o mesmo método pelos mesmos motivos. Em setembro de 2010, Dan criou um vídeo junto com o seu parceiro de muitos anos e publicou no YouTube. O vídeo tinha uma mensagem de esperança, sinalizando para a juventude LGBT que as coisas podem melhorar depois da experiência traumática que é o colégio. Outros imitaram, inclusive personalidades como Ane Hathaway e Barack Obama e o vídeo de Dan virou uma iniciativa mundial. Foi assim nasceu o projeto It Gets Better.

Fiquei muito feliz há cerca de uma semana quando soube da campanha #EUSOUGAY. Assim como a It Gets Better, de natureza colaborativa, o blog #EUSOUGAY quer juntar fotos de gays assumidos e de simpatizantes que depois farão parte de um vídeo a ser veiculado na web. Para participar é necessário apenas que a pessoa esteja disposta a lutar por igualdade de direitos civis para todos. Eu estou preparando a minha foto para enviar. Minha mãe também. Meus amigos também. Além disso, como jornalista, me sinto obrigado a escrever sobre este assunto e, quem sabe, ajudar, alguém que está nessa hora zapeando na internet em busca de aceitação. Todos nós tivemos quinze anos e sabemos como pode ser terrível e solitário.

Você pode ser muitas coisas nessa vida, muitas mesmo, você só não pode ser a vítima, porque é exatamente esse o papel que os homofóbicos projetam para você. Você tem que lutar de volta e não digo “lutar” no sentido de usar a violência física, mental ou emocional. Você tem que ser o melhor “gay”, “bicha” ou “viado” que você puder. Você tem que ser a melhor pessoa que você puder. As conquistas mais difíceis são também as vitórias mais doces. As coisas não vão cair no seu colo se você não lutar por elas. Estude mais, leia mais, trabalhe mais e se destaque.

João Barreto – Jornalista

Jornalista e mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. É analista de comunicação e cultura, especialmente de poéticas audiovisuais. Também tem interesse em desenvolvimento sustentável.

Foto: Reprodução