Alguém não nos deu a opção de voltar

Fábio Rocha,
28/01/2013 | 16h01

A primeira reação de minha mãe ao saber da tragédia ocorrida em Santa Maria foi chorar. Classificado pela BBC Brasil como o terceiro acidente mais fatal do mundo segundo uma lista de dez incidentes semelhantes, o incêndio da Boate Kiss (RS) matou mais de 230 jovens, sendo que, segundo especialistas, 90% deles por asfixia.

Condoído com a situação, o poeta gaúcho Fabrício Carpinejar prestou uma homenagem de forma muito clara sobre como nos sentimos “Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça…” e continua “Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa. Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio.”.

A sensação da perda, da dor e da empatia com as famílias envolvidas no acidente nos coloca também como vítimas. Vitimas do acaso, do despreparo, do incidente, da negligência e da omissão dos empresários.

Somos aqueles que se amontoaram no banheiro em busca de oxigênio e as mães que sentiam o peito apertar pelo desenlace, somos os que caíram no chão e não puderam se levantar por não haver mais força, somos o som do grito abafado pela acústica perfeita e espaços apertados, somos a cama para sempre vazia em casa e o retornar que nunca mais vai existir. Só não somos a saída, porque nesta noite e nesta boate alguém não nos deu a opção de sair com segurança.

 

Rodrigo Almeida
Relações Públicas

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