HIV em pauta

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Agência Aids, 19 anos: Profissionais de comunicação e especialistas debatem os desafios da pauta aids na mídia

Genilson Coutinho,
22/05/2022 | 10h05

A Agência de Notícias da Aids comemora neste mês de maio 19 anos de existência. Para celebrar, realizamos neste sábado, 21 de maio, o webinário “19 anos da Agência Aids: Informação e prevenção em toda parte para todas as tribos, com participação de jornalistas e diferentes atores da luta contra a doença.”

A Agência Aids foi fundada em 2003, com o objetivo de divulgar informações sobre HIV/Aids, saúde e direitos humanos e orientar o trabalho da imprensa.

O webinário trouxe uma série de debates sobre Aids e Comunicação, abordando temas como a tarefa de informar sobre a doença, como comunicar melhor o assunto prevenção ao HIV, o papel do YouTube e da comunicação moderna, gestão pública, entre outros.

Com o tema “HIV, a difícil tarefa de informar para transformar”, a primeira roda de conversa contou com a participação da professora Nair Brito, fundadora do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas, do jornalista Aureliano Biancarelli, um dos primeiros profissionais a cobrir a pauta HIV no Brasil, e da psicóloga Juny Kraiczyk, da ONG ECOS, Comunicação e Sexualidade e teve mediação do jornalista Alexandre Magno, especialista em Comunicação Estratégica.

Nair Brito: “Minha palavra é resistir. Cada um dos que estão vivos ou mortos oferece sua vida como um ato de resistência. É uma alegria dizer chegamos até aqui, resistimos!”

Aureliano Biancarelli: “No começo da epidemia, a pauta aids tinha elementos muito propícios para a construção da matéria. Tínhamos que convencer o editor que a pauta era de interesse amplo. Envolvia sexualidade, prazer e drogas. Isso chamava atenção da mídia. Eu anotava o nome das fontes a lápis porque muita gente morria.”

Juny Kraiczyk: “Comecei a entender a importância dos movimentos sociais quando ouvi uma pessoa com HIV falando abertamente sobre a sorologia.”

Médicos e a Pandemia da Aids

A segunda mesa, com mediação do jornalista Lucas Bonanno, mestre em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da USP, trouxe para o centro das discussões o tema “Médicos e a Pandemia da Aids: como comunicar melhor o assunto prevenção ao HIV”. Com a participação de especialistas renomados na luta contra a aids, como a Dra. Adele Benzaken, infectologista e diretora Médica do Programa Global da Aids Healthcare Foundation (AHF), o infectologista Dr. Ricardo Diaz, da Unifesp, e o Dr. Pedro Chequer, epidemiologista e ex-diretor do antigo Programa Nacional de Aids.

Dra. Adele Benzaken: “Houve um avanço na comunicação sobre saúde, consequentemente sobre Aids, com o advento da Covid tivemos o uso das tecnologias em educação remota, passamos a usar mais a telemedicina. Atualmente os profissionais de saúde tem se atualizado de forma mais rápida. Nós devemos discutir o que fazer para melhorar e monitorar as informações para comunicar cada vez melhor sobre saúde.”

Dr. Ricardo Diaz: “Temos que usar o aprendizado da pandemia da Covid e trazer novamente as pessoas para a prevenção e o tratamento do HIV.”

Dr. Pedro Chequer: “Sobre a pauta Aids na mídia, houve a fase da adolescência, fase adulta e houve uma regressão. Praticamente a Aids desapareceu da agenda da comunicação. O Dia Mundial era um evento de mídia internacional. Não foi só pela Covid, antes disso, a pauta Aids deixou de ser prioridade no mundo e no Brasil. Quantas campanhas temos visto? Tudo isso reflete na prevenção. Temos que criar um entorno favorável para motivar todos os profissionais nesse sentido. O médico tem que oferecer a oportunidade de ouvir.”

Youtubers e HIV

Um time de comunicadores da nova era digital participaram do terceiro debate do webinário: “Youtubers e HIV: comunicação moderna falando para todas as tribos”. O bate-papo reuniu os ativistas Gabriel Comicholi, que revelou seu status sorológico positivo para o HIV na internet e hoje tem um canal no youtube com mais de 40 mil inscritos, a jornalista Marina Vergueiro, poetisa e ativista dos direitos das mulheres e antigordofobia, e o ator Drew Persí, autor do livro VIDAS, no qual conta detalhes sobre viver com HIV. A mediação foi da jornalista Carolina Trevisan, colunista de política e direitos humanos do portal UOL e comentarista de política no podcast Baixo Clero.

Drew Persí: Depois que falei abertamente sobre viver com HIV no Youtube recebi mensagens de jovens que também vivem com HIV e desistiram do suicídio. Precisamos discutir educação sexual nas escolas para diminuir os casos de HIV entre jovens.”

Marina Vergueiro: “Meu diagnóstico abriu as portas para muitas coisas. Temos obrigação cívica de representar quem não pode falar.”

Gabriel Comicholi: “Ver mais jovens falando abertamente sobre HIV e seus diagnósticos é incrível. Estamos mudando a história do HIV.”

Gestão Pública e Comunicação

O último debate do dia trouxe reflexões sobre “Gestão Pública e Comunicação: como informar melhor e chegar as populações vulneráveis ao HIV”. A jornalista Graça Cabral, executiva com mais de 20 anos de experiência no mercado de comunicação, economia criativa e inovação, recebeu para esse bate-papo o diretor do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, o Dr. Gerson Pereira, a médica sanitarista Maria Clara Gianna, coordenadora-adjunta do Programa Estadual de IST/Aids de São Paulo, e o sociólogo e pesquisador Alexandre Grangeiro, ex-diretor do antigo Programa Nacional de DST/Aids.

Dr. Gerson Pereira: “Estou há 38 anos no Ministério da Saúde. Vi nascer a constituição, o SUS e o Programa de Aids. A aids é uma endemia e vai permanecer entre nós até que descubramos vacinas eficazes para sua prevenção.”

Dra. Maria Clara Gianna: “Temos muito o que falar ainda sobre HIV, cuidados e prevenção. Temos falado menos sobre as estratégias, temos que retomar o assunto adesão e as campanhas que mobilizam.”

Alexandre Grangeiro: “A Covid vai marcar um período entre o passado e os novos arranjos quando falamos de HIV. O futuro é desafiador. Se tratarmos como nos últimos 30 anos, ele crescerá mais.”

O Webinário “19 anos da Agência Aids: Informação e prevenção em toda parte para todas as tribos” conta com apoio do Senac São Paulo e das farmacêuticas GSK e Janssen.